Traquinagens amorosas

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Doutor Aguiar estava tenso. O suor no seu rosto demonstrava o tanto de trabalho que ele estava tendo no hospital. Clara, Patrick e Gael, que esperavam ansiosamente pelo que o médico tinha a dizer, assustaram-se com semblante sombrio daquele homem.

- Pelo amor de Deus, Doutor Aguiar, o que houve com meu filho? – Clara tomou a iniciativa de perguntar com rapidez.

- O Tomaz piorou, Doutor? – Patrick tentou facilitar as coisas para o médico.

- Calma – Doutor Aguiar tentou acalmá-los.

- Como "calma", Doutor? Sua cara diz que quer nos dar uma notícia ruim. Anda... desembucha logo o que é.... – Gael falou com rispidez.

- Tenham calma, por favor – Doutor Aguiar falou incisivamente – O Tomaz está muito bem e seus exames estão cada vez melhores. Logo, ele vai receber alta.

- Graças a Deus! – Aliviada, Clara olhou e abraçou Patrick.

- Mas Doutor, seu rosto não nega que há algo preocupante acontecendo – Patrick não se deu por convencido.

- Sim, Patrick, é verdade – Aguiar limpou o suor da testa e baixou os olhos – Muitas crianças deram entrada no hospital de ontem para hoje com suspeita de H1N1 ou de pneumonia. Alguns casos são bem graves, preocupantes, o que tem deixando muitos pais desesperados.

- Meu Deus! Eu imagino o sofrimento desses pais... – Clara falou num tom compreensivo.

- Inclusive – Aguiar continuou – estávamos achando que o Tomaz pudesse ter contraído o vírus H1N1, mas felizmente foi uma pneumonia leve. Muito leve, por sinal.

- Que bom! – Patrick suspirou aliviado – E esse surto, Doutor? Pode ser prejudicial ao Tomaz? Essas crianças estão isoladas dele? Como isso está sendo feito?

- Isoladas? A priori, não. O Tomaz está sendo medicado e bem acompanhado. Seu sistema imunológico está cada vez mais forte. Eu não creio em recaída do filho de vocês...

- Meu filho... – Gael falou rapidamente – Com a Clara.

- Sim, Gael, eu sei – Aguiar deu de ombros e continuou respondendo Patrick – Então, eu não creio em recaída, mesmo com muitas outras crianças próximas com H1N1 e pneumonia.

- Ah, isso é muito bom – Clara falava mais calmamente, aliviada com as boas notícias do filho – E quando vamos vê-lo?

- Daqui a pouco eu autorizo vocês a subirem para o quarto. Os enfermeiros já estão levando seu filho para lá.

- Obrigada, Doutor.

Clara olhou sorridente para Patrick. O alívio com a boa situação de Tomaz lhe trazia uma leveza e também um cansaço corporal por conta da tensão vivida nos últimos dias. Ela se aprumou para abraçar seu marido quando Doutor Aguiar virou-se para ela de novo para um último recado.

- Ah, Clara, como não estamos em horário de visita, só podem ficar duas pessoas com o Tomaz, ok?

- Eu e a Clara ficaremos com ele, Doutor. Pode deixar. Somos pai e mãe do Tomaz – Gael respondeu de bate-pronto, com um pequeno sorriso de satisfação no rosto.

- Ok, boa noite para vocês.

A atitude repentina de Gael deixou Clara surpresa e desconfortável, sobretudo porque Patrick não engoliu bem a situação. O advogado demonstrou isso com uma cara de poucos amigos, olhando para frente, acompanhando o Doutor Aguiar se distanciar e ignorando a presença de Gael. Como sempre, Clara reconhecia facilmente essas crises de ciúmes do seu marido. Por isso, ela o abraçou forte, dando-lhe beijos na altura do ombro, por cima da roupa. Ela queria que, naquele momento, ele não tivesse dúvidas de quem ela realmente amava.

Clara e Patrick - #clarickOnde histórias criam vida. Descubra agora