SONHOS OBSCUROS

108 9 0
                                    

Após almoçar, resolvi subir e adiantar algumas tarefas. Não sabia que estava tão cansada, até cochilar duas vezes seguidas. Fechei meus cadernos e resolvi me deitar. Uma floresta de belas árvores brilhava com o sol da manhã que iluminava todo o campo florido, senti as pétalas das flores roçando na minha pele. Uma sensação de paz e calmaria tomou conta de todo o meu ser. Então, um vento frio açoitou meu rosto e o céu começou a escurecer, as flores murcharam e tornaram-se negras, um medo intenso tomou conta do meu corpo. Barulhos de galhos estalando sobre pés me alertaram de alguém próximo e, então, gritos preencheram meus ouvidos. Acordei suada e nervosa, com dificuldade para respirar, até perceber que era madrugada. Não consegui mais dormir. Por que, depois de muito tempo, voltei a ter esses sonhos estranhos?  

No dia seguinte já estava na aula de história, entretanto apesar de gostar da matéria, a aula estava entediante. Desviei minha atenção do quadro e me concentrei na janela. A sala era próxima à quadra poliesportiva, de onde dava para ver as aulas de educação física. Observei atenta cada aluno praticando esporte. Os garotos deixavam seus músculos à mostra, para o delírio das meninas que assistiam das arquibancadas, exasperadas. Pareciam se exibir como machos a conquista de suas fêmeas, distribuindo sorrisos. Meus olhos encontraram quase que instantaneamente Kinn. Seus cabelos estavam rebeldes, espalhados para todos os lados, ele usava uma camiseta branca , seus músculos apareciam em todas as direções. Seu sorriso era o mais bonito, o mais brilhante daquela escola. As meninas na arquibancada gritaram de excitação quando ele marcou um gol, ele sorriu galanteador para elas. Fiz um muxoxo com a boca, desviei minha atenção da janela, totalmente enraivecida. Vitória notou meu estresse.

- Que foi?

- Aquele menino da moto preta.

- O que tem ele?

- Ele parece ser muito metido.

- Por quê? Você nem o conhece direito.

- Olha ele ali, na educação física. Ele realmente se acha o último biscoito do pacote.

Ela riu e me olhou, por fim, disse:

- Ele parece ser o tipo perfeito de muitas garotas aqui da escola, inclusive, se ele me desse moral poderia ser o meu também. Ela riu brincalhona e acabei rindo com ela.

O sinal tocou e saímos para a próxima aula. Entrei na sala e percebi que ele também estava lá, resolvi não dar atenção. Sentei na minha cadeira e me concentrei na explicação do professor. Sentia Kinn me observando, mas fingi não notar.

- Semana que vem vamos fazer um teste - todos os alunos desaprovaram a ideia, resmungando em uníssono – não adianta reclamar, já está marcado, acho bom vocês estudarem. O professor avisou.

Tudo bem que o cara era lindo, mas tenho que admitir que o olhar astuto dele em minha direção, observando cada detalhe do meu rosto, meus tiques nervosos, meus movimentos, era estranho, para não falar assustador.

- Professor! Ele parou de escrever a matéria no quadro e olhou por cima dos ombros.

- Sim, senhorita Eliza?

- Posso ir ao banheiro?

- Ok, mas não demore, é importante que você copie a matéria para estudar.

Ao me levantar, Vitória me observou com um olhar questionador, resolvi ignorar, não estava me sentindo muito bem na sala. Assim que sai pude respirar melhor, mas aqueles olhos castanhos continuavam em minha mente. Estava agora no corredor que levava aos banheiros. Era impressão minha ou a temperatura estava caindo? Ainda não era época de frio. Entrei no banheiro, lavei meu rosto e encarei minha imagem no espelho.

Herança de Sangue - A batalha de ElfhameOnde histórias criam vida. Descubra agora