No capítulo dedicado ao comendador Pena, vimos sobre sua benevolência para com seus escravos, quando este dividiu suas terras entre eles, e também contratou um músico para assim os ensinar a arte de combinar os sons.
A idéia de formar uma banda de música era destinada a recepcionar o Imperador Dom Pedro II, quando este viesse por essas bandas. Anos mais tarde a banda ainda existia. Foi então que em 1929 o senhor Bernardino Alves Pena trouxe para Santo Amaro um maestro e compositor chamado Eloy Lacerda que ficou a frente da corporacão até 1941.
Passaram pela banda grandes maestros como Alberto Ramalho, Cid Albuquerque, José Lincoln Moreira que esteve na regência por Mais de 30 anos, Nelson de Oliveira, e atualmente a banda é regida pelo jovem e muito talentoso maestro Christian Franco De Almeida.
O grêmio Santa Cecília desponta na cidade como um dos movimentos ou por que não dizer o movimento cultural mais tradicional ainda em constante atividade. Já foram muitas festas e solenidades que por ela foram abrilhantadas. Por ela também já passaram várias gerações. Nos dias de hoje, infelizmente não é vista com a importância que a tal representa. Os jovens da era moderna, não demonstram interesse, não se sentem encantados pela marcha dos instrumentistas a tocar aqueles dobrados inesquecíveis como capitão caçula e muito mais. Numa época ainda não muito distante. Era um orgulho pra cada família ter pelo menos um membro fazendo parte da corporacão.Queria me manter apenas como um humilde narrador a descrever os fatos. Mas o orgulho não me deixa negar o papel de personagem nessa história.
A banda Santa Cecília foi muito importante na minha vida. Foi minha iniciação na música quando eu ainda tinha apenas dezesseis anos. O maestro era o já falecido e saudoso Zé Pão , ( José Lincoln Moreira), muito querido em Queluzito. Pai do Sérgio, do Júlio e do Flavinho que na época também compunham a coorporacão.
Me lembro de alguns fatos irreverentes protagonizados pelos integrantes da banda. Havia um músico, o qual se chama Mixirica, que pelo que me parece sofria com problemas intestinais e por isso constantemente liberava suas flatulências. Sempre que um aroma nada agradável era sentido no ar, todos apontavam para ele em acusação. A questão é que todo mundo fazia a mesma coisa e o pobre do Mixirica é que levava a fama.
É o Mixirica um ótimo trombonista. Compunha a linha de trombones ao lado de Machado, e de dois jovens garotos, um que se chama Dirceu, e seu irmao, Francisco. Ainda tinha também o narrador que vos fala. Juntando nós três, não dava que seja um bom músico. Eramos iniciantes no meio do grupo. Na procissão de uma Semana Santa quando tocávamos "Vigário Correa", uma marcha fúnebre bem apropriada pro cortejo, o Machado e o Mixirica saem do meio da banda, e estrategicamente entram dentro do bar do Nédio, que estava com a porta meio fechada, em respeito ao ato solene. A procissão segue desfalcada de seus principais trombonistas. Ficou a cargo daqueles três jovens garotos a missão de manter a normalidade dentro do grupo na execução da marcha. E até que deram conta do recado. Quando o cortejo voltava, já meio que alterados por algumas pingas a mais, porém ainda tentando manter a descrição, saiam eles de dentro do bar, e como se nada tivesse acontecido compunham os espaços outrora deixados, tocando agora com maior vigor. "Seu Jininho" dava o sinal no bumbo após o padre terminar o mistério, e a Santa Cecília espalhava seu som pelas ruas da cidade.
Essas pinguinhas a mais já renderam histórias no meio do grupo.
O Zé Pão tocava bombardino. E passeava com as notas do mesmo criando uma segunda melodia dentro da principal. Como era ele o maestro, e para que pudesse ter liberdade de tocar seu instrumento deixava a marcação a cargo da percussão e o início da música era sempre dado a partir de uma batida no bumbo que dava o seu Jininho. Nas procissões solenes o padre regia com os fiéis os mistérios e as ladainhas intercalando sempre com uma das músicas da Santa Cecília! Como é tudo na vida, certa vez algo saiu fora do planejado. É que enquanto o padre rezava uma Ave Maria, um menino travesso encantado com o som do bumbo, apareceu derrepente e antes que alguém pudesse prever, ele dera uma batida forte no instrumento. Como um pelotão de artilharia se armaram todos com seus instrumentos e começaram a tocar. Não havendo outra saída, o padre e os seus interrompidos contrariados tiveram que parar.
Estas e muitas outras histórias renderiam um livro a parte para contar sobre essa importantíssima corporação que surgira a muito pelos escravos, cujo a mesma tem nos seus autos o privilégio que poucos tiveram de tocar em homenagem ao imperador dom Pedro II.
Também tem as participações em carnaval e festivais. E a imensa contribuição do ilustre maestro Zé Pão, que por mais de 30 anos esteve a frente da banda. Já este portanto merece um capítulo a parte para contarmos a sua história. Por hora, termino aqui, ciente de que, o que foi até então descrito, não passa de apenas um breve resumo. E o futuro ainda será passado. A corporação Santa Cecília, se faz a cada dia um patrimônio atemporal. Sobrevivendo as épocas. Preservando a tradição. Portanto muito ainda haverá pra se contar.