Only one last wish

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Os olhos verdes já não possuíam brilho. Ao contrário. Eram apagados e cansados. Mas ao encontrar os azulados uma pequena chama se acendia neles.
Os dois globos azuis encontravam os verdes com a mesma chama de sempre, com o mesmo sentimento, mas as lágrimas completando-os era impossível de não se reparar.
A respiração era pesada e saia com certa dificuldade do homem que aparentava ser o mais velho entre eles.
O corpo do rapaz moreno tremia levemente. Mas não era pela sensação boa que o outro costumava lhe causar. Era um tremor de medo e angústia. Um tremor que o incomodava.
O corpo do de olhos esmeraldinos estava quente por dentro. Mas não era o tipo de calor que costumava sentir quando próximo do rapaz de olhos cor do mar. Era um calor incômodo e cansativo. Um calor que se alastrava por cada milímetro de seu corpo e o sufocava.
Mas nem o tremor ou o calor ou qualquer uma das sensações ruins que sentiam no momento separavam seus dedos entrelaçados.
Seus olhares eram terrivelmente pesados, tamanho era o peso das palavras mudas que desejavam por para fora.
Os lábios eram mordiscados por seus próprios dentes.
Bocas secas.
Milhões de sentimentos e centenas de palavras.
Muito havia para ser dito.
Mas tudo o que saia dos lábios do rapaz deitado sobre a cama era uma tosse seca que quase lhe rasgava a garganta.
Tudo o que saia dos lábios do rapaz de cabelos negros eram longos suspiros de lamentos seguidos das tosses do outro.

Desviando o olhar para os dedos unidos, o de olhos azuis limpa a garganta em sinal de iniciar algo, e o outro apenas fecha seus olhos. Talvez temendo as palavras que seriam ditas.

— Dean. - Encontra o esverdeado e aperta levemente seu toque nos dedos calejados. — Sabe o que eu estava pensando? - Desvia o olhar e sorri fraco ao sentir a atenção do outro sobre si. —  Estava lembrando do dia em que me foi ordenado aquela missão. Ir ao inferno resgatar a alma condenada que poderia nos salvar. Junto de muitos de meus irmãos nós descemos até lá. Mas só eu consegui chegar vivo. Lembro de sentir a alma próxima a mim. Destruída, acabada, suja. Uma alma tão pura, como meus superiores haviam dito, estava completamente corrompida. Mas quando minha graça a tocou, eu a vi se purificar de imediato, uma coisa estranha e mágica, que nem sempre acontece, como um tipo de conexão, e isso é raro. Senti como se estivesse ligado a essa alma. Como se no momento em que minha graça angelical tocasse aquela luz manchada, ela a limpasse profundamente, deixando a pureza daquela alma marcar cada traço do meu ser, assim como eu havia marcado-a.

Dean o olhou de canto, sabendo que o mesmo falava de si, deles. Do dia em que Cas havia o salvado. Antes que pudesse responder, Castiel continuava.

— Lembro-me de quando nos conhecemos. Não alma e graça. Mas anjo e humano. Eu te achava estupidamente irritante no início. - Sorriu brevemente. — Você era tão descrente e questionador que me irritava, mas no fundo eu sempre quis ter sua coragem de enfrentar aquilo que não achava certo.

— Eu lembro muito bem de quando tornamos-nos amigos. De quando me fez questionar se o que estava fazendo era realmente certo. E de quando rezou a primeira vez. – Olhou nos olhos verdes e sabia que aquilo também fora marcante para Dean.

— Você não acreditava em Deus ou em anjos, Dean. Você não tinha fé. - Viu um tímido sorriso aparecer no rosto do outro, tal como a lágrima se formar.

— É difícil ter esse tipo de crença quando se vive minha vida, Cas. – Profere defendendo-se e o anjo concorda com um balançar de cabeça.

— Você não tinha fé, Dean. Eu sabia disso. Mas isso não te impediu de rezar pra mim. Uma, duas, várias vezes. Só pra mim. Você tinha fé em mim, Dean? - Olhou para o outro que ficou desconcertado e desviou o olhar para seu par de botas perto da porta gasta do quarto.

— Lembro-me da primeira vez que eu sorri. Você foi o motivo. Lembro-me de torcer para sua desobediência vencer e salvar aquela cidade.

— Você lembra do nosso primeiro abraço? Eu lembro. Lembro também da primeira centelha de questionamento que plantou em mim e de minha primeira desobediência.

Contos do anjo e o caçadorOnde histórias criam vida. Descubra agora