Aos olhos do pai

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  O pior pesadelo para um pai, é ver seu filho se perder, desobedecer suas regras e cair em um mundo de tentações sem volta.
  
  Um pai nunca deseja o mal para seus filhos. Não, de forma alguma! Ao contrário, se existem regras, são para que eles não saiam do eixo e coisas ruins aconteçam. Mas os filhos nunca entendem isso e preferem te ver como um vilão.

  Quando se é pai de todas as coisas, isso não é diferente. Mas é tudo mais complicado.

  Quando criei os seres humanos, dei a eles livre-arbítrio para tomarem suas próprias decisões. Não podia deixa-los sempre amarrados a mim, muito mimo não é bom para ninguém.
  As pessoas precisam cair para aprender com seus erros, por isso existe o pecado, para coloca-los a prova.
  Seres humanos são falhos. Eu os fiz assim.

  Criei todas as coisas existentes na terra: o ar, as árvores, os animais, os frutos... Tudo. Mas antes disso, criei os anjos e arcanjos, meus primeiros filhos, os quais dei a missão de proteger e guiar a humanidade para o caminho do bem e da prosperidade.

  Arcanjos e anjos são seres divinos e de luz. Sem gênero e sem um corpo físico. Apenas luz.

  Eu sei, como pai eu não deveria ter um filho favorito, deveria amar a todos igualmente, e de certa forma eu os amava assim. Mas mentirei se disser que nunca tive preferências.

  Lúcifer foi o anjo mais belo que criei. Não que ele tivesse uma aparência visível para olhos humanos, ele era um ser celeste como todos os outros. Mas algo nele se destacava. Algo me fez ama-lo de uma forma especial.
  Eu o amei, acreditei e confiei. Mas ali estava o problema. Eu confiei demais. Diferente dos outros, Lúcifer tinha ambições e desejos diferentes do que o que eu havia planejado. Ele deveria amar minha criação assim como os outros amavam, não despreza-los. Talvez ele estava sentindo o sentimento mais desprezível já criado: a inveja. Tudo só piorou quando lhe confiei a marca que prendia minha irmã, Amara, longe de tudo. Eu pensei que ele podia suportar o peso dela, mas eu estava malditamente errado.
  Lúcifer não se voltou só contra a humanidade, ele se voltou contra mim. E como todo pai, eu acabei por castiga-lo.

  Doeu. Doeu como nunca expulsar meu filho mais querido de meu reino. Mas o que mais eu poderia fazer? Pensava que castigando-o assim, logo ele me procuraria e pediria desculpas. Se abaixaria para receber meu perdão e então voltariamos a ser o que sempre fomos. Mas isso não aconteceu. Ao contrário. Meu castigo lhe deu ódio, o pior dos sentimentos. E esse ódio o fez criar demônios, almas torturadas por ele mesmo em um reino na profundidade do submundo criado por ele.

  Eu estava mais do que decepcionado. Lúcifer era o meu favorito, hoje admito, e mesmo tendo todo amor que pude dar, não hesitou em desobedecer e trair minha confiança. Eu os criei sem sentimentos, isso era para os humanos, mas ele ousou sentir, e acabou escolhendo os piores deles.
  
  Depois que isso aconteceu, eu me afastei e nunca mais me mostrei para qualquer um que fosse no céu. Apenas criava anjos e eles sabiam que eu estava ali, me amavam e me respeitavam, mas nunca me veriam. 
  Jurei pra mim que não iria mais ter preferências. Isso é errado. Todos são meus filhos e eu os amo como tal. E dar atenção e afeto demais abre caminho para mais decepção, assim como foi com Lúcifer. E eu não deixaria isso acontecer novamente.

  Ao menos era o que eu achava...

  Tempos mais tarde, acabei me afeiçoando muito por outro de meus filhos, um serafim comum como os outros, mas que exalava algo especial. Mesmo nunca tendo me visto, ele sempre me amou e me respeitou, como um filho deve respeitar seu pai. E mesmo sem que soubesse, sempre olhei por ele, e esse anjo acabou tornando-se meu favorito. Seu nome é Castiel.
  
  Em centenas de anos, Castiel sempre lutou por meu nome. Vez ou outra tomando um receptáculo e caminhando sobre a terra para alguma missão. Sempre com o meu olhar observador sobre ele, mesmo que não imaginasse isso.

Contos do anjo e o caçadorOnde histórias criam vida. Descubra agora