Contos do anjo e o caçador

You need keep fighting

Desde que Castiel havia partido, todo pós-caçada era igual, com os dois retornando ao bunker e Dean se isolando em seu canto sem falar nada com ninguém, se fechando em seu próprio mundo. Antes que o irmão pudesse fugir, o Winchester mais novo precisava falar com ele.

— Claire disse que está tentando falar com você há dias, ela está preocupada. – Sam diz, colocando a mochila sobre a mesa e esperando uma resposta do irmão, que apenas deu de ombros e largou a própria mochila em um canto qualquer do chão. — Dean, responde ela, Claire está tão perdida quanto nós.

Dean para por um segundo absorvendo as palavras do irmão e segue para seu quarto em silêncio.
E vinha sendo assim em todos os últimos dias.

Fazia 13 dias desde que tudo aconteceu. 13 Dias que havia visto seu melhor amigo ser levado pelo aterrorizante vazio, para salvar sua vida. 13 Dias que não conseguia dormir sem ser obrigado a se apagar com bebidas. 13 Dias desde que todo resquício de esperança fora tirado de si.
Eles haviam vencido Deus, e, Jack estava no poder como um novo Deus, aparentemente muito melhor do que o anterior. Mas o que isso adiantava? Ele havia perdido tudo mais uma vez e estava apenas agindo no seu modo automático de caçador, caçando e matando as poucas criaturas que haviam restado com todo o ódio que dominava seu peito, fazendo qualquer criatura que cruzasse seu caminho implorar por misericórdia, enquanto preenchia seu vazio com comidas gordurosas e uma quantidade de álcool suficiente para derrubá-lo.

Desde o que havia acontecido, Dean não falou sobre o assunto. Ao contrário, como era de se esperar vindo dele, o Winchester mais velho fugia do assunto. Desviava de qualquer conversa sentimental que o irmão tentava ter com ele, de qualquer ligação e disfarçava o melhor que podia sempre que qualquer um citava o nome do anjo. Simplesmente fingia normalidade, mas qualquer um que o conhecesse perceberia que estava destruído por dentro. Isso preocupava demais o irmão, mas Dean era teimoso e tinha uma política de não deixar seus sentimentos transparecerem, enquanto engolia sozinho toda dor que sentia, afundando-se sozinho em seu próprio caos.

Seu celular tocou mais uma vez e mais uma vez Dean apenas conferiu no visor o nome de Claire e deixou que parasse sozinho de chamar.
Se jogou sobre a cama e respirou fundo, cansado demais para atender e ouvir mais palavras de lamento e consolo.
Cansado demais para lidar com a sensação aterrorizante que invadia seu peito sempre que alguém tocava no nome de Castiel.
Cansado demais. Apenas isso o descrevia.
Esticou o braço procurando por algo em baixo da cama e quase sorriu ao alcançar a garrafa de conhaque que tinha levado para lá duas noites atrás. Sam lhe daria um longo sermão se visse aquilo, mas ele não se importava naquele momento. Só queria beber pra pegar no sono antes que sua mente gritasse consigo e lhe impedisse de dormir mais uma vez.

Os dias pareciam cada vez mais longos desde então, e Dean se via mais uma vez implorando internamente para estar inconsciente o mais rápido possível.

Na sala principal, Sam havia preparado um queijo quente para si, e tinha os pensamentos perdidos no irmão e em tudo o que havia acontecido. Queria que Dean se abrisse e conseguisse por pra fora tudo o que sentia, que parasse de se constipar emocionalmente como sempre fazia, aquilo estava acabando com o mais velho. Nunca havia visto Dean daquela forma antes. Não naquela intensidade. Completamente perdido e preso dentro de um mundo particular só dele e de seus próprios pensamentos que o corroiam mais e mais. Sam queria o ajudar, queria mostrar para Dean que estava lá, e tentava fazer isso todos os dias, mas toda a sensação ruim que o irmão acumulava dentro de si não o deixava ver ao redor. Ter perdido Castiel foi o gatilho final para que perdesse toda sua esperança e fé no mundo também, não que já tivesse muito, mas Castiel sempre fora seu ponto de confiança que o impedia de perder a pequena motivação que tinha, assim como ele.

E o celular de Sam toca, o nome de Claire aparecendo no visor.

— Claire, algum problema? Ah, ele está... você deve imaginar. O Dean se faz de durão, mas ele sente muito mais do que ele mesmo pensa. Ele não fala comigo como antes, ele não fala sobre o que aconteceu e fica muito tempo calado no mundo dele, e eu sei que a cabeça dele está o torturando. Eu não sei o que aconteceu aquele dia, ele só disse que o Cas se sacrificou para salva-lo, e isso acabou com o que restava dele. Você que sabe. Eu não acho má idéia, mas não sei, ele não vai querer receber visitas e muito menos falar sobre isso. Mas você quem sabe. Okay. Só avisa a Jody, ela fica preocupada quando você vem para cá. Okay. Beijo. Até mais. – Deixa o celular sobre a mesa e respira fundo.