dois

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Selina

Saio da sala de Declan sem acreditar. No dia anterior eu recebera a notícia que tinha sido punida. O que já era algo que não deveria acontecer. Agora a minha punição era ser a única em uma missão para levar amor para mundanos com coração partido? Mas que porra. O que eu fiz pra merecer isso?

Tudo bem.

Cometi um crime, mas não estava sendo julgada por isso, e sim por arranhar e machucar a Cara de Querubim da Rosie. Isso não estava acontecendo. Tenho certeza que essa punição não é só por um simples arranhão em alguém da mesma espécie que eu. Provavelmente por outras coisas que fiz como matar aulas da professora Emma, ou invadir a dispensa no meio da noite. Inacreditável.

Declan me explicou detalhe por detalhe do que eu posso ou não fazer na Terra, e principalmente como funciona a missão.

— Selina, você não deve, de forma alguma, ser vista pelo mundano atingido, nem por nenhum outro enquanto estiver em missão, fora isso, aja como uma deles. Não erre a mira. Se atingir algum ponto sem ser o coração, tudo estará perdido. Acho que com tantos anos de treinamento com arco e flecha, corrida, e força, você não errará na mira. Além disso, você terá um alojamento que será um prédio, abandonado, mas seguro, te garanto. Não será de todo ruim, você terá uma cama, suprimentos daqui, e roupas. Você não terá ajudantes lá, pois então, tome cuidado. Sua missão acabará assim que sua cota for fechada, ou seja, quando reparar todos o corações necessários. Ah, e antes que eu me esqueça. O mais importante, fique atenta, se uma lágrima sequer escorrer pelo rosto do mundano assim que você o atingir, saiba que o efeito virará contra você, e você não vai gostar do resultado.

Ele me explicou tudo, e mesmo assim eu estava perdida com tanta informação. Eu sabia que não me sairia 100% na missão, mas sei que darei o meu melhor. Amanhã eu já irei para a Terra, e não sei o que pensar sobre isso. É muita informação, e nenhuma ao mesmo tempo. É assustador. Aterrorizante.

Vejo Rosie andando em minha direção no corredor dos quartos, e um sorrisinho presunçoso em seu lábios pintados de vermelho.

— Ora, ora, já está preparada para ser engolida pelos mundanos? — diz ela, veneno escorrendo quando fala.

— Não sei, mas se fosse você a ser engolida, tenho certeza que causaria má digestão nos mundanos, coitados.

— Você se acha muito esperta, né Selina?

— Eu? Talvez, mas sei que é perda de tempo discutir com você nesse momento.— falo assim que abro a porta do meu quarto e bato a porta na sua cara.

Ainda tinha que aguentar mais essa.

Espero que pelo menos na dimensão dos mundanos eu tenha mais paz de anjos como essa que me atormentam.

Deito na minha cama com lençol preto. Minha cor favorita. E fecho os olhos. Não sei o que está por vir quando for para essa missão, mas não tenho certeza que essa experiência sairá facilmente da minha memória. Deixar o que estou acostumada para trás, por tempo que não sei dizer, viver sozinha, sem ninguém igual a mim.

Essa punição é mais fria do que eu imaginava. Aperto o travesseiro embaixo da minha cabeça.

Um lugar desconhecido, pessoas desconhecidas. Tudo o que sei sobre esse mundo, é o que aprendemos nas aulas desde que somos pequenos. Mundanos tem sentimentos diferentes de nós, expressões, desejos, prazeres, e o amor. Algo raro e que não nos pertence, por isso devemos passar para eles. Algo produzido em Tronian, que é entregue para os mundanos.

Nunca entenderei isso. Algo que nós produzimos, e que não nos pertence.

Com a cabeça pesando, e as asas encolhidas, respiro fundo, e tento não pensar durante muito tempo em que situação fui colocada, e principalmente, punida. Amanhã seria um longo dia.

 Amanhã seria um longo dia

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