Uma pessoa melhor

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P.O.V Eduardo

Minha vida é uma mentira. Eu admito isso, mas em minha defesa eu sou muito covarde. Já fazia um mês que minha mãe tinha morrido. Eu sou resultado de uma inseminação artificial feito pela minha mãe. Eu tenho 2 mães. E uma delas morreu a um mês atrás, sempre tive medo da reação dos meus amigos a descobrirem que minha mãe é lésbica.
Até inventei a história de que eu sou gay para ver a reação deles.
Encarei minha mãe sentada no sofá vendo TV.
-O que você está assistindo?- Me aproximei e sentei ao lado dela.
-O filme preferido de sua mãe. Como eu era antes de você.- Ela deu um sorriso e encarou a TV.
-Eu sinto saudades dela.- Algumas lágrimas caíram do meu rosto. Eu estava com muitas saudades dela.
-Eu também filho.- Minha mãe segurou na minha mão e deu uma apertada amigável.
-Eu vou tentar ser uma pessoa melhor. Por ela.- Falei com uma certeza que até me deixou confiante.
-Você é incrível filho. Nunca deixe ninguém te dizer o contrário. Às vezes erramos, mas a vida é assim, feita de acertos e erros. - Ela virou toda a atenção para mim e desligou o filme.
-Eu não sou. Sempre tive vergonha de vocês e agora ela morreu e eu não vou poder dizer que eu me orgulho de ser filho de vocês. - desabei em choro
-Ei- ela segurou meu queixo e a encarei- Ela sempre soube disso. Você quando era menor contava pra todo mundo na creche como você era feliz com duas mães.- Antes que eu pudesse falar alguma coisa a campainha tocou.
-Deixa que eu atendo- falei me levantando e indo em direção a porta.
-Clayton? Oq você está fazendo aqui?
-Vim te ver bobinho. Faz quase um mês que tu não dá notícias. - Dei um meio sorriso e fechei a porta atrás de mim.

Respira. Não, por favor não. Ansiedade se segure, hoje não sério. 

O que ele veio fazer aqui?

E se ele descobrir que eu ando mentindo esse tempo todo?

Puta que pariu, e se minha mãe vier aqui? Eu sou a vergonha da família, ela me odeia. 

- Respira Dudu, respira fundo. Inspira e expira. Se acalma. - Senti uma pessoa segurando minha mão e no meio de todos os pensamentos, a reconheci. Meu coração voltou a bater corretamente e me senti tranquilo, olhando nos olhos dela. Minha vida toda parecia estar certa. 

-Oi, prazer, - Clayton esticou a mão para a menina desconhecida e deu um sorriso amigável. 

-Olá, meu nome é Luz , mas me chamam de Lu. - Não soltando minha mão Lu cumprimentou Clayton e respondeu o sorriso. - Dudu, vamos entrar? Você acabou de ter um ataque de ansiedade, vocÊ precisa sentar. - Lu me encarou e eu resolvi seguir o conselho dela. Só havia um problema, Clayton.

-Clayton, antes de a gente entrar, você precisa saber de uma coisa.- Olhei pra Clayton na esperança de que ele recusasse entrar na minha casa. Respirei fundo, mas essa porra não me ajuda em nada.- Eu não sou gay, e minha mãe é lésbica- Resolvi atirar tudo de uma vez para que não tivesse tempo de eu voltar atrás. 

-Espera ae, esse tempo todo você vinha mentindo pra mim? E simplesmente atirar tudo antes de eu conhecer teus falsos pais? A gente se conhece desda primeira série, a tanto tempo assim você vem mentindo?- Clayton se aproximou e me deu um soco na cara, e saiu furioso. 

-Meu deus, você está bem?- Lu me encarou e me ajudou a levantar. 

-Desculpa Lu, você precisa ir embora. Eu não te mereço, me desculpa. - Me levantei e sai pra dentro da minha casa.

P.O.V Clayton

Eu estava puto da cara, eu briguei com tantas pessoas para elas aceitarem ele, e nem gay ele é? Qual o motivo dele me mentir? A gente contava tudo um para o outro, o que aconteceu no meio do caminho que ele não quis me contar o que realmente tava acontecendo. Eu achei que era importante na vida dele, ainda mais do que tudo que passamos juntos.  Peguei um uber, até a casa de Gabriela. Eu tenho que parar com essa mania de aparecer na casa dos outros sem avisar, porque pela segunda vez hoje eu descobri que as pessoas andam mentindo na minha cara. Meus dois melhores amigos escondendo tudo de mim? 

-Por isso eu não esperava.- Me aproximei da porta de Gabriela. E ela estava beijando Vi. Eu perguntei tantas vezes para ela se elas eram alguma coisa, e ela sempre negou. Porque as pessoas na minha vida continuam me desapontando. Eu sinto que não posso confiar em ninguém, absolutamente ninguém. Eu desisto.

-Clayton, nem eu esperava isso. Lembra que uma vez você me disse que o amor acontecia de uma maneira que a gente não tinha como saber? Que a convivência não dava no amor, e sim o inesperado.-  Eu realmente tinha dito isso. Me aproximei devagar e abracei, como se fosse o ultimo abraço, pois seria. 

-Tudo bem, Gabi. Eu te amo. Adeus.- Me virei e sai andando pela rua.  Respirei fundo e percebi que nunca na minha vida alguém me amou, da maneira que Vi ama Gabriela e que Lu ama Eduardo. Da maneira que meus pais se amaram até a morte deles. Da maneira em que Emily amava Naomi. Talvez eu não tive a sorte de conhecer meu grande amor. Ou talvez essa bobagem de amor verdadeiro não exista.  

Andando pelas ruas e deixando eu sentir esse ódio no meu coração, eu percebi que o fato de eu nunca ter amado alguém era por causa que eu nunca permiti alguém me amar, eu sabotei de todas as formas. 

Talvez o motivo pelo qual eu tenho esse ódio no coração seja porque eu sempre senti esse medo dentro de mim. Mas agora, eu não estava mais com medo.


Tudo Vai Ficar Ok(Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora