Prólogo

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Era o início do inverno, a lua cheia clareava a cidade com uma luz prateada por entre as nuvens. Florensia tinha uma vida noturna das mais famosas de Ancelon, talvez de toda Namagem. Isso porque lá estava localizado um dos maiores e mais conceituados conservatórios de música de todo o reino. Havia sempre muitos artistas durante o dia: mímicos e músicos, atores e poetas. Em qualquer ponto da cidade, podia-se ouvir belas músicas de todas as formas e estilos imagináveis. À noite, essa eterna sinfonia se transformava em grandes e alegres festas nas tavernas.

Adanedhel, um jovem elfo, viajava sozinho e chegou em Florensia no início da noite. Ele era baixo, mesmo para um elfo, possuía os cabelos castanhos lisos, curtos e cheios de poeira da estrada. Vestia uma roupa de couro já bem gasta sob um manto verde com capuz, capa e mangas compridas que o protegia do frio. Carregava consigo um velho bandolim à tiracolo com uma das cordas arrebentadas e uma espada na bainha presa à cintura.

A cidade era uma das poucas do reino que não era cercada por muros, nem mesmo uma paliçada de madeira. Era originalmente uma pequena vila, apenas uma parada rápida para viajantes que iam do norte para a capital, contudo se tornou maior e mais conhecida graças aos artistas e os festivais animados que sediava. A música podia ser ouvida de longe, atraindo viajantes e caravanas. Adanedhel já ouvia o som a algum tempo e seus olhos verdes brilharam com a luz das lamparinas assim que as viu do alto de uma colina distante.

Florensia crescia muito rápido a cada ano e, embora estivesse sempre muito movimentada, a maioria das pessoas estava de passagem. Isso atraía sempre interessados em abrir uma nova estalagem ou uma taverna, além de comerciantes itinerantes e, obviamente, prostitutas. Tudo girava em torno de um grande e antigo conservatório de música. Das diversas tavernas, a mais antiga era a Touro Manco. Era gerenciada por irmãos meio-elfos que diziam que o estabelecimento já existia antes mesmo da escola de música, quando Florensia não passava de um pequeno amontoado de casas ao redor de uma praça suja com um poço de água ao centro e algumas propriedades rurais isoladas.

O jovem elfo entrou na cidade e logo percebeu que as tavernas por onde passava estavam abertas, porém vazias. Não estranhou o fato. Ele já esperava por isso naquela noite. Continuou andando e cumprimentando animadamente algumas pessoas pelo caminho, algumas fantasiadas, outras carregando instrumentos musicais e quase todas já embriagadas, todos indo na mesma direção. No centro da cidade existia uma praça bem pavimentada com uma fonte que jorrava água cristalina o tempo todo. Em frente a esta fonte se encontrava o Conservatório de Música.

Naquela noite em especial era a grande comemoração de mais um século de existência do Conservatório. Alguns diziam ser o aniversário de duzentos anos, outros diziam ser trezentos, havia um velho elfo que trabalhava em uma taverna local que dizia que a escola já existia quando ele nasceu o que fazia Adanedhel pensar que eram quatrocentos anos. Dois, três ou quatro séculos, isso não importava para ele, havia estudado e se apresentado lá por alguns anos e depois saiu para viajar, como todo bardo devia fazer, buscar novos conhecimentos, aprender novas histórias. Voltou com algumas novas, para contar a seus velhos amigos e também estava ansioso para ouvir as que eles trariam. Ali seria onde haveria mais música e contos desconhecidos para ele que em qualquer outro lugar do mundo. Todos os maiores bardos do reino reunidos em um só lugar. Era emocionante!

Uma miríade de músicos, dentre eles alunos, ex-alunos ou apenas entusiastas, lá se reuniam vindos dos quatro cantos do reino. As mais belas músicas eram tocadas e todos bebiam, conversavam e riam, felizes por estarem revendo antigos amigos. Eram elfos, meio-elfos, humanos, anões e até mesmo alguns orcs se apresentando como músicos, poetas, dançarinos ou apenas ouvintes em um ambiente em que qualquer diferença entre as raças era esquecida.

Adanedhel adentrou a escola e ao chegar ao salão principal, onde a festa acontecia, foi muito bem recebido. Até mesmo os donos das tavernas da cidade estavam presentes, bebendo com antigos hóspedes e contemplando a boa música. Alguns ex-companheiros de sua turma formavam uma pequena roda no meio do salão batendo palmas para uma pequena elfa que dançava ao centro com muita habilidade. Adanedhel abriu um grande sorriso quando os viu e pulou no centro da roda já se ajoelhando e estendendo a mão para sua antiga amiga, convidando-a para continuar a dança. Todos na roda se empolgaram com a chegada surpresa do elfo, deram gargalhadas e cantaram ainda mais alto. Era o único que estava faltando para que a turma estivesse completa.

A Canção do Bardo - O Primeiro Acorde [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora