Capitulo 2 - O Touro Manco

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O Touro Manco era uma estalagem sem nada em especial. O teto baixo de madeira, com um grande candelabro aos pedaços e poucas velas acesas, um balcão de madeira escura, suja e úmida, decorada com um homem baixo e calvo esfregando um pedaço de pano em uma caneca de metal. Uma jovem garçonete de rosto simpático servia bebidas e recolhia as canecas vazias. Ao lado do taverneiro havia uma passagem sem porta que levava a outro salão com camas de palha cobertas por pele de cordeiro que eram usadas pelos viajantes que pagavam para passar a noite. Próximo a cada cama ainda havia um pequeno baú de madeira com travas, também eram alugados para que guardassem seus pertences.

Poucas mesas estavam ocupadas naquela noite: três homens cheirando a estrume de cavalo, provavelmente trabalhadores do estábulo, jogavam dados em uma mesa próxima à entrada; outro pequeno grupo estava sentado no canto do bar tomando vinho e conversando em voz alta sobre a viagem que fariam no dia seguinte; e um sujeito estranho, de desgrenhados cabelos castanhos escuros, uma calça larga e suja e uma camisa sem mangas, que estava sozinho em uma mesa no centro, não bebia nada e girava um prato de metal na mesa fazendo um barulho irritante.

Laucian bateu suas botas em um pedaço de toco na entrada para tirar o barro, atravessou o salão com a capa molhada e pingando pelo chão e tomou uma mesa no canto oposto. Colocou seu bornal e seu bandolim sobre a mesa e escorou seu arco e a aljava ao lado onde pudesse ver. Já passara por estalagens e tavernas o suficiente para saber que nunca devia deixar suas coisas fora de vista. Abriu também seu pequeno e antigo mapa, rabiscado com revisões que ele mesmo fazia em suas viagens e foi planejando como seria sua jornada no dia seguinte.

Tudo indicava que a noite seria tranquila. Os homens bebiam, cantavam mal, discutiam. O elfo tinha algumas moedas e decidiu que também beberia um pouco, depois tentaria negociar sua estadia e comida em troca da boa música e, só então, iria dormir para se recuperar da exaustiva viagem. Chamou a atenção da garçonete com um olhar direto e um sorriso leve, que foi retribuído com outro sorriso gentil e envergonhado.

— Seja bem vindo ao Touro Manco — disse a garota tímida.

— Agradeço a receptividade. Meu nome é Laucian. — Ele fingiu perder as palavras por um segundo, se aproximou um pouco mais e falou em voz baixa. — Perdão, mas não esperava ser recebido por uma moça tão meiga em um lugar como este. Posso saber o nome desta adorável jovem que me atende?

Acostumada a ignorar elogios rústicos e desrespeitosos, a criada, já fascinada pelo olhar penetrante do elfo, não conseguiu esconder o rubor em suas bochechas.

— Elga.

— Preciosa Elga, percebo que não há nenhum músico se apresentando hoje na estalagem. A senhorita, com seus olhos atentos, deve ter percebido que carrego comigo um bandolim. Eu poderia animar um pouco o ambiente com minha música. Acha que seu senhor permitiria que eu me apresentasse em troca de um sono tranquilo em uma cama confortável?

— O taverneiro é meu pai. Vou perguntá-lo — respondeu ela, acanhada.

— Faça isso, por favor! — Ele tocou-a levemente no braço e sussurrou em seu ouvido. — Se me conseguir também uma caneca de vinho, poderei homenageá-la com uma melodia especial, o que acha?

A jovem se afastou empolgada, ignorando os chamados de outra mesa e foi diretamente para o balcão. Conversou com o velho calvo, seu pai, enquanto servia vinho em uma caneca de metal. Retornou pouco depois com a bebida e a confirmação de que o bardo poderia se apresentar, porém sua hospedagem apenas seria garantida se sua música fosse realmente boa. Laucian se levantou e, sem se apresentar, começou uma das canções mais conhecidas das tavernas, o Bolero do Malandro Desafortunado que contava a história de um jovem trapaceiro que tinha uma grande sorte mas que entrou em uma onda de azar sem fim, perdendo tudo que tinha, até perder a própria vida em um acidente improvável.

A Canção do Bardo - O Primeiro Acorde [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora