Capítulo 4 - A Grande Muralha

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O sol já havia nascido quando Thereor se levantou. Terminou de arrumar seus equipamentos, vestiu sua armadura e foi acordar Chadwick. O jovem tinha coberto sua cabeça com uma pele que usava como cobertor e roncava alto. O clérigo precisou cutucá-lo com força por um tempo até que ele finalmente se levantou.

— Cedo demais — reclamou o jovem.

— Tarde demais — respondeu o paladino —, mas eu avisei que isso aconteceria. Vamos, creio que Laucian já tenha saído.

O monge se levantou, não sem uma série de resmungos. Enfim saíram, o elfo não estava ali.

— Maldito sol — Chad cobriu os olhos com a mão.

— Eu avisei — respondeu Thereor, impávido.

— Vamos viajar à noite.

O clérigo ignorou o resmungo, mandou o monge lavar o rosto na água de um barril do lado de fora e deixou quatro moedas de prata com o taverneiro, pagando a hospedagem de ambos. Seguiram para a saída que ia para o sul e encontraram o bardo sentado em uma cerca, os esperava dedilhando seu bandolim.

— Bom dia, Laucian! — o paladino se demonstrou feliz ao vê-lo. — Resolveu nos esperar?

— Sim. Já faz um tempo que estou aqui. Prontos?

Olharam de relance para Chadwick, ele esfregou os olhos e ajeitou com os dedos os cabelos desgrenhados e molhados.

— Comprei um pouco de pão e carne seca — continuou o sacerdote, apontando para uma bolsa que levava — Comemos no caminho, não quero que nos atrasemos mais.

O elfo olhou para a bolsa de comida, porém o que chamou sua atenção eram as vestes de Thereor. No dia anterior, ele vestia apenas um manto negro típico de um sacerdote, contudo hoje ele parecia mais um guerreiro divino, de fato, um paladino. Vestia uma cota de malha com pequenos anéis de ferro entrelaçados. Acima dela, um peitoral feito de placas de metal enegrecido e polido, claramente de alta qualidade, mas que já tinha visto sua parcela de combate. Preso nas ombreiras havia uma capa negra mostrando orgulhosamente em azul claro o símbolo de Dien. Seu escudo estava preso às costas e de cada lado da cintura pendia uma arma. Do lado esquerdo a pesada maça de guerra e do lado direito uma pequena foice, arma ritualística dos servos da deusa dos mortos.

Quando o havia visto na noite anterior, Laucian havia deduzido que Thereor era um capelão ou um membro ativo de uma congregação, talvez até o responsável por construir um templo de Dien em Florensia. Agora, no entanto, não só suas vestimentas, mas também seu porte o mostravam como um orgulhoso guerreiro calejado. Apesar da armadura possuir algumas marcas de combates passados, cada peça de metal reluzia como se estivesse recém saída da forja.

— Vai mesmo viajar trajando esta armadura pesada, senhor? — quis saber Laucian — Não é muito incômodo?

— De fato é bem incômodo — concordou o paladino —, contudo dá muito trabalho remover as placas de metal, mais ainda colocá-las. Sempre preciso de ajuda e é demorado. Se formos atacados na estrada, tenho que estar preparado. Quanto ao peso, já estou acostumado.

Já o monge chamava mais atenção pelo tanto que falava e pela maneira de andar desleixada. Era conhecido que monges não se importavam em ter bons equipamentos ou em acumular riquezas, assim como também costumavam ser mais retraídos, mas Chadwick parecia fugir da última regra. Usava a mesma camisa da noite anterior, sem nem se preocupar com as manchas de sangue ainda presentes, ou com as partes rasgadas. A roupa claramente não era adequada para os ventos frios de Florensia, que mesmo no verão eram suficientes para arrepiar a pele ao fim do dia. O monge resmungava quando era acometido por golfadas e arrotava alto para irritar Thereor. Já acostumado com o jeito debochado de seu pupilo, o clérigo apenas o entregou uma camisa nova, igual a antiga, exceto pelas mangas mais longas. Sem se importar muito, Chadwick trocou a roupa enquanto caminhava e comeu um pedaço de pão, não fazendo nenhuma das tarefas corretamente.

A Canção do Bardo - O Primeiro Acorde [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora