Primeiro mandato. 1️⃣🌲🧟

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Mais tarde, Julie voltou com dois cobertores, uma sacola de comida e um sorriso esbanjado de orelha a orelha. Fiquei surpreso ao ver a quantidade de alimentos que estava trazendo.

— Você não disse que ia buscar apenas cobertores? O que é isto tudo?

Ela largou os mantimentos ao lado da mochila e contagiou o clima com sua empolgação.

— Provavelmente, você vai sentir fome. A comida que trouxemos de sua casa não será suficiente, portanto, decidi trazer mais — disse Julie.

— Então, você resolveu roubar mais coisas?

— Chendy! Eu não tenho como comprar e você sabe disso. Tento te deixar um pouco animado, mas não está adiantando.

— Julie! Eu não sou obrigado a aturar isso. Você vai começar a roubar e acha que vou concordar com essa atitude?

— Não é bem assim. Por enquanto, vou pegar o que for necessário pelos arredores, sem que ninguém saiba. Você não pode passar fome ou frio, senão vai facilitar todo trabalho do Dórlex. É só por um tempo, e não tem como você sair na rua.

— Por que não posso sair na rua?

— Alguém pode te reconhecer. Não podemos correr esse risco. Seus pais podem avisar à polícia sobre seu desaparecimento e alguém pode encontrá-lo.

— Desculpa, mas algumas coisas que estão acontecendo, eu não concordo.

— Por exemplo, o quê?

Não encontrei as palavras adequadas para justificar minha posição no momento. Encarei sua expressão séria e sombria. Respirei fundo, fechei os olhos e tentei amenizar a situação.

— Desculpa. Agora, temos que nos unir, e discutir não vai adiantar nada...

Fui interrompido por um barulho estranho no lado de fora. Julie foi verificar. Fiquei assustado. Me encolhi em um canto da árvore. Aguardei ansiosamente para saber o que estava acontecendo. A voz de alguém gritando no lado de fora deixou meu aspecto apavorado. Senti um arrepio. Pensei no pior e tentei disfarçar o nervosismo. Fechei os olhos e, inesperadamente, Julie apareceu na entrada demonstrando tranquilidade.

— Não foi nada.

Ela esbanjou um sorriso, sentou-se ao meu lado, e senti segurança por estar junto da pessoa que mudou completamente minha vida.

Deitei sobre o chão frio e comecei a imaginar como seria a reação de minha família ao ler o bilhete. Provavelmente, ficariam em choque com a notícia e tudo seria motivo para desespero. Eu acreditava que a polícia seria acionada o mais rápido possível, e, com certeza, os decepcionaria por minha atitude insolente. Felizmente, estou em um lugar seguro, longe de todos, e eu tinha a esperança de que tudo terminasse bem. Não queria partir sem ter ao menos me despedido das pessoas que amo. Minha vida mudou desde o dia em que viemos para Florianópolis. Não tinha mais uma vida privada como antes. Desde então, conseguia conversar abertamente com meus pais e Marcely. Criei confiança neles e tive a liberdade de ser compreendido. O diálogo é fundamental para um convívio agradável. Somos unidos, e tudo isso deveria acabar logo de uma vez para que eu pudesse voltar a ficar perto de minha família.

Tentei descansar um pouco. Julie ficou ao meu lado, cuidando de tudo. Ela estava pensativa e preocupada. Observei sua expressão apreensiva e demonstrei interesse pelo que estava refletindo.

— No que você está pensando?

— Na vida, na morte, sei lá. Ultimamente, não sei o que estou realmente sentindo. Só estou muito preocupada com tudo isso.

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