Por incrível que pareça, eu ainda não estava acreditando naquilo. Se estivesse sonhando, não queria mais acordar. Talvez, o frio estivesse me deixado maluco, mas acredito que o impossível se tornara realidade. Os caminhos dentro da mata foram cobertos pela neve. Foi difícil distingui-los. O momento foi único e especial. Apreciei toda paisagem porque não sabia ao certo se no dia seguinte estaria ali presente para aproveitar. Em meio a todos os problemas, consegui esquecer parte deles, graças ao fenômeno extraordinário da natureza que nos surpreendera pela manhã.
Julie veio verificar como eu estava. Sua consideração era imprescindível naquele momento.
— Tudo bem? Parece que você está preocupado com algo — disse ela.
Olhei para sua feição franzida e sorri.
— Estou bem. Deve ser impressão sua.
— Concordo. Mesmo assim, vou cuidar de você.
— Além de me vigiar vinte e quatro horas por dia?
— Sim. — Ela sentou-se ao meu lado. — Você acredita em mim?
— Claro. Por que a pergunta?
— Será que realmente existo?
— Como assim?
— Como você tem tanta certeza de que não sou da sua imaginação?
— Sei lá. Confio em você e estou te vendo, isto já é o suficiente.
— E se for apenas o seu pensamento? Só você pode me ver.
— Tenho certeza que tudo isso que está acontecendo é de verdade. Sabe por quê?
— Por causa do seu instinto?
— Não. Porque eu seria incapaz de inventar alguém como você.
Sorri para seu aspecto magnífico.
— Nossa! Obrigada. — Ela se surpreendeu.
— Provavelmente, eu criaria algo bem melhor.
Comecei a rir. Tentei ironizar a situação com o intuito de animá-la, mas sua reação foi um tanto incompreensível.
— Não é engraçado.
— Desculpa. Estava brincando.
Beijei Julie, demonstrando afeto.
— Ainda bem que você tem senso de humor — retrucou ela.
Começamos a rir da situação. Admirei sua doce feição. Fiquei imaginando sobre seu passado. Tive curiosidades a respeito de sua origem. Aproveitei o momento para esclarecer essa dúvida.
— Como era sua família? — indaguei.
— Não quero falar sobre isso.
Julie ficou desconfortável com meu questionamento.
— Por quê? — persisti.
Ela olhou para o horizonte e sorriu em meio ao nada. Lembranças confortaram seu aspecto e percebi que as memórias lhe deixavam fragilizada.
— Minha família era muito especial... — Ela ficou emocionada. — Desculpe, mas não gosto de lembrar deles, sinto falta. Espero que entenda.
Fiquei surpreso ao saber o quanto Julie sentia pelos familiares. Era complicado não saber detalhadamente sobre seu passado, mas precisei respeitá-la. No mesmo instante, resolvi voltar para dentro da árvore, enquanto ela tentava se recuperar das memórias.
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Toques Invisíveis
RomansaChendy é um adolescente que mora no Rio de Janeiro com os pais e a irmã. Certa noite, seus pais chegam em casa do trabalho com uma novidade não muito agradável. Eles conseguiram uma transferência no emprego e estão prestes a voltar a morar em Floria...