Eu me lembro muito bem da última vez que falei a frase "eu te amo". Lembro-me bem dessa vez porque foi, também, a primeira. Guardei essa frase durante décadas para proferi-la apenas num momento de sinceridade, de comprometimento e indescritível sensação.
Recordo como se fosse hoje dos fatos que antecederam minha decisão de revelar a verdade. Cada pensamento planejando como tudo seria foi em vão, já que em momento algum consegui articular da forma como pretendia. Todas as vezes que ensaiei dentro da minha mente... Não, não deu certo.
Foi por impulso. Não sei se estava pronto para dizer, se você estava pronta para ouvir. O que eu sabia, naquele momento, era que não podia perder a oportunidade de revelar algo que meu coração não suportava mais esconder.
Trêmulo, suando frio e sentindo o coração bater a ponto de quase pular para fora do peito, eu te disse algo que não me imagino dizendo novamente para outra pessoa: "eu te amo".
Hoje, anos depois disso ter acontecido, percebo que teria tido mais resultado dizer "eu te odeio".
A frase que por anos guardei, que nenhuma outra pessoa no mundo ouviu, fora dita e jogada ao vento.
Pior que isso, só o fato de que o sentimento, que era verdadeiro, foi destratado de forma igual.
Arrependi-me de ter dito a frase para você, mas o maior arrependimento vem de algo que não posso controlar: ter sentido isso por você.
Guardei por anos algo que você não merecia ouvir.
E guardei em mim o amor que você não merece ter.
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A Mor Te Que Ro
RandomUma seleção de textos que expressam diferentes sentimentos de forma crua, dolorida e verdadeira, utilizando metáforas para traduzir a excruciante dor de sermos o que somos.