Capítulo V

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Yu no Kuni (País das Fontes Termais), dias atuais

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Yu no Kuni (País das Fontes Termais), dias atuais.

Durante boa parte da minha vida, eu fui acossado pelos fantasmas do meu passado. Os fantasmas dos meus pais. O fantasma de Itachi. O fantasma do meu eu que morreu na noite do massacre do meu clã. Fossem também as lembranças agradáveis da minha infância ou fossem as mentiras que permiti que me manipulassem em meu período mais sombrio.

Certa vez, cogitei a ignorância como uma benção. Afinal, a minha ignorância a respeito dos planos do meu pai salvou a minha vida enquanto levou todo o meu clã à destruição, sentenciou os meus pais à morte, e condenou Itachi ao exílio e, posteriormente, à sua própria derrocada. A minha ignorância foi o que me fez buscar vingança contra o meu próprio irmão.

Porque fui ignorante e leviano que os perdi. A minha relutância em tentar compreender as razões do meu irmão levou-me a um caminho sem volta. Tudo teria sido diferente se eu apenas o entendesse na época, se eu apenas tentasse encaixar as peças. Se eu tivesse sabido.

O fato é que Itachi não o permitiu, prezou a minha inocência — ainda que esta tenha sido corrompida na noite do massacre — e ocultou de mim toda a verdade durante muitos anos. Ele a teria levado consigo para o túmulo caso Obito não tivesse interferido e me contado.

Eu aprendi da forma mais dolorosa que um ser humano pode aprender que a verdade fere, que a realidade está pautada nas nossas próprias convicções e que nós a moldamos a nosso bel-prazer individualista e narcisista. A minha realidade, entretanto, esteve moldada nas mentiras desde que me conheço e me entendo: as mentiras que me contaram e as mentiras que eu contei a mim mesmo no intuito de alimentar o meu próprio ódio.

E, no entanto, eu me questionava se não estava mentindo para mim mesmo no momento enquanto cruzava a fronteira do país das Fontes Termais. A lua cheia tinha me observado como um único olho agigantado e vigilante desde que iniciei esse percurso, no auge dos meus desvarios mais sombrios, e a floresta que me cercava estava inquietantemente vazia e enlutada devido ao inverno.

Eu me movia por entre as copas vistosas das árvores; eu me movia para que a minha mente se mantivesse ocupada e, consequentemente, os meus pensamentos não caminhassem em uma direção perigosa. O abismo que me aguardava resignadamente, a porta escura no fundo do meu consciente que eu tranquei há três anos — minha insanidade, meu desespero, todo o meu tormento escoavam pelos vãos destes mesmos pensamentos inquietos.

O meu inferno particular ameaçava ficar vazio, uma vez que todos os seus demônios atentavam contra a minha sanidade na esperança de se libertar, uma serenidade construída e conquistada com afinco desde a minha luta com Naruto.

Cerrei os dentes e avancei em meio às ramagens, desatento, quase descuidado em meu compasso desordenado, ao ponto do meu manto enroscar-se em gavinhas e as minhas faces arranharem as folhagens densas. Encontrava-me nesse estado alucinado desde que abandonei Akane, a cidade turística aos pés do monte Ontake onde deixei os dois Shinobis de Konoha inconscientes.

O PeregrinoOnde histórias criam vida. Descubra agora