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Tudo começou com um erro do destino.
Era época de inverno, sábado às 10hrs da manhã, 1º de julho de 2017.
Com a morte da pessoa que me deu a luz, longe de meus braços, sem ao menos uma despedida, tudo escrito aqui são fatos reais. Ao longo do tempo essa merda tem piorado e eu disse a mim mesmo.
-Por quê não escrever um livro sobre como a minha vida tem decaído com o passar dos anos?
E aqui estou, sentado a frente d'uma tela de computador, há apenas o brilho entristecedor da tela em meu rosto, refletindo minha pele áspera e parda.
Eu havia dormido quase o dia todo já que ela viajaste para a cidade vizinha no dia anterior. Ela estava passando mal já fazia algumas semanas antes de ir. No outro dia, de manhã, um dos meus parentes que estava em casa me acordou às 10 horas da manhã. Fiquei emputecido e o disse:
-Que foi, inferno?
Eu estava de ressaca e acabara de passar por um abandono amoroso. Eu estava completamente fodido para ser acordado às 10 horas da manhã num sábado. Por fim ele me disse:
-Seu tio acabara de me ligar, disse-me que sua mãe passara mal na noite anterior
Eu realmente não entendi o que ele quis dizer, tanto que não me importei e voltei a dormir. Em seguida, ele aparece e chama-me novamente:
-Acorde, Victor.
Eu o disse:
-Diga logo o que queres falar, merda.
E então, ele foi direto como uma flecha acertando um veado numa floresta silenciosa:
-Sua mãe, faleceu na noite anterior. Ela já estava mal por alguns fatores e acabou que não aguentou o clima daquele lugar.
Por um momento, senti minha alma esvanecer-se do meu corpo, senti como se eu estivesse morto por alguns minutos. O som que ecoava em minha mente havia parado, eu estava paralisado entre lembranças e arrependimentos. Eu não sabia o que fazer naquele momento, se eu levantava daquela cama gelada ou se continua ali a pensar o que estava acontecendo na minha vida.
Enquanto meu tio chorava pela morte de minha mãe, eu vesti uma camiseta que estava no chão e levantei, usei o banheiro e observei o ambiente que a porra daquela casa estava a se tornar, havia pessoas por todo canto se lamentando de coisas banais e idiotas que já não faziam tanta importância, eu estava com ódio. Um ódio que cobria todo o meu coração, minha mente e minhas veias. Meu sangue se tornou um dos piores da família naqueles minutos.
Voltei ao quarto e disse:
-Estou de saída, preciso tomar um ar e pensar, estou desesperado com essa merda.

Então, ouvi uma resposta dele de fundo mas não me importei, saí pela porta e, continuei caminhando pelas ruas. Elas pareciam diferentes, estavam vazias e pareciam estar tristes, cada parte do asfalto daquele lugar me causava um sentimento de ódio, desprezo interno e desgraçamento mental.
Fui ao mercado, pelo que parecia ninguém sabia do que estava acontecendo, isso era ótimo. Quanto menos pessoas falando no meu ouvido era melhor para mim. Naquele momento eu só queria paz, eu só queria um canto para sentar e chorar como uma criança, voltar ao tempo de infância e abraça-la mais vezes que eu pudesse. Dar o devido valor a ela, dizer-a o quanto eu a amo mas eu não podia mais fazer isso e nunca poderei vê-la novamente. Isso é uma merda tão grande.
Comprei um Minister e saí, acendi ali mesmo na calçada sem nenhuma preocupação, subi o morro inclinado enquanto as fumaças se tornavam uma lembrança boa dela. Nossas brincadeiras e brigas idiotas que tivemos e que no final tudo terminava com um eu te amo e um abraço com o mais puro amor, eu já estava sentindo falta dela, no próximo dia já seria o velório e eu não sabia como lidar com aquela merda.
Eu ainda tinha que voltar para casa e me explicar para aqueles idiotas o porque eu sumi daquele jeito, mas eles de qualquer forma entenderiam. Não gastaria muita saliva com eles. Joguei a ponta do maço fora e caminhei de volta para casa, já era por volta de 18hrs da noite. Os postes de luz não clareavam tanto, estava escuro e eu amava aquilo. A escuridão era uma das coisas mais relaxantes que tinha naquele momento, nenhuma luz no meu rosto a não ser um banho da claridade da lua sobre mim. Por fim, eu havia chegado em casa, no momento em que abri a porta senti a áurea nojenta daquele pessoalzinho tosco que nunca se importou nem um pouco com minha mãe. Entrei, por vez, não acabei falando com ninguém e isso foi bom, entrei em meu quarto e tranquei aquela porta de madeira velha. Apaguei a luz e, naquela escuridão imaginei se ela estivesse lá, comigo e para mim.
As coisas teriam sido grandiosamente diferente se o destino não tivesse feito isso, você sofria muito, eu sei, estava mais do que na hora de vossa pessoa descansar para sempre. Mas, eu não estava preparado para tudo isso, essa notícia, essas pessoas, essas vozes e essas luzes passando por debaixo dos vãos da porta. Eu estava por um momento enlouquecendo, sentia-me como Van Gogh, como Bukowski teve seu bloqueio de criatividade, como Hemingway morreu tendo seu estilo. Eu queria me tornar algum desses ''durões'' naquele momento. 
Eu deva ter ficado a noite toda naquele quarto escuro, sem nenhuma luz a não ser aqueles vãos malditos por debaixo daquela maldita porta. O mundo tinha se calado por um momento e percebi que eu não tinha mais o que fazer naquele ambiente, eu estava rezando para qualquer um dos Deuses para que me matassem temporariamente até que essa dor passasse e eu pudesse novamente ter uma vida minimamente boa. Mas até mesmo depois de quase dois anos da morte dela, eu não consigo superar. Essa dor tem me corroído todos os dias, eu tenho lutado contra isso todos os dias da minha vida.
Minha mente se sente cansada, eu me sinto cansado, meu coração se sente cansado por ter que ainda aguentar as mesmas pessoas daquele dia e por ter que suportar a voz dela ecoando em minha mente. Tudo isso um dia acabará com ou sem a minha morte física.


UM BRINDE À TRISTEZAOnde histórias criam vida. Descubra agora