Havia chegado o dia em que eu deveria escolher com quem morar, quem iria ficar com minha guarda até os meus 18 anos. Era uma decisão difícil, muito difícil. Simplesmente, eu não estava com cabeça para fazer uma escolha desse porte, quando acordara, me levantei. Não pude ir ao banheiro, dei de frente com meu tio, dizendo-me:
-Vá para a sala, precisamos decidir com quem ficará.
Logo em seguida eu disse:
-Como quiser.
Fui de encontro à mais ou menos, 6 pessoas que eram: 3 tios com suas respectivas esposas. Chegando na sala, sentei-me em uma cadeira de balanço enquanto ouvia eles falarem:
-Acho que a pessoa que teria mais capacidade de cuidar de alguém como ele é o Cristiano.
Eu não me importava com o que eles diziam, estendi a minha cabeça para cima e comecei a balançar-me naquela cadeira. O movimento retilíneo da cadeira fazia-me pensar sobre o que estava acontecendo ali. Pessoas falando sobre minha guarda, como se eu fosse a porra de um objeto. Por fim, acabei que não aguentara toda aquela discussão, fui à varanda enquanto eles falavam baboseiras que nunca importavam. O sol havia desaparecido, o céu estava nublado e o vento gélido. A forma em que o vento tocava minha pele e meu cabelo balançava-se era acalmador. Todos os fatores, sendo eles abióticos ou não, se possuíssem uma pegada depressiva, com um pensamento de morte, era algo maravilhoso para mim e era melhor do que uma bola gigantesca de fogo em cima de mim, fazendo-me suar como um porco de merda. A sensação de chuva era maravilhosa, a conexão entre meu coração e o cinza das nuvens era entristecedora e boa. Voltei à sala e disse para todos que ali estavam:
-Irei ficar com o Cris, acelerem o processo burocrático que quero logo sumir dessa casa.
A casa de quem eu ficaria, era um andar acima da casa que eu morava. Por um lado, a distância era mínima mas a diferença de sentimentos era imensa. Bom, era o que eu pensava até aquele momento. Depois de acelerar toda a papelada, meu tio estava com minha guarda. Mudamos todos os meus móveis para um andar acima. Eu não me acostumara nunca com um nova pessoa se tornando o ''pai'' que eu ''nunca tive''. A sensação de estar em outro lugar era totalmente opressiva, que porra eu estava fazendo ali? Existia novos olhares cruzados para mim, uma nova ''preocupação'' comigo por um tempo limitado. Tudo aquilo acabara depois de um meses, a distância que eu mantinha deles me doía. Mas, de certa forma, era um jeito de proteger-me de problemas próximos relacionados à eles.
O primeiro problema que aconteceu foi quando meu tio caiu na tentação de se drogar, eu sabia que ele estava mal para caralho. Aquilo, por fim, era a única forma dele se acalmar e ''superar'' o que estava acontecendo. Os dois nunca tiveram filhos, por isso a forma do meu tio lidar com essa situação. Eu sabia que tudo aquilo que acontecera era, a maioria da culpa, minha. Eu não tinha nenhuma conexão ou afeto pelos dois, nunca tive. A sensação de estar incomodando aumentara cada dia mais. Meu coração doía, e bambeava como um bêbado. As vezes, sentia-se bem e noutras sentia-se totalmente destruído. Tudo que estava acontecendo comigo, uma perda, a sensação de estar incomodando me matara por dentro. Eu não sabia se deveria ainda existir, não sobrara nenhum resquício de felicidade nem que seja passada por mim. Eu me afastara de toda a minha família, me privei de coisas que jamais viveria sem. A depressão me consumia cada dia mais, essa dor não desejava nem para meus piores inimigos. A solidão se tornava uma amiga próxima. Naquele momento, eu não tinha ninguém para contar meus problemas pessoalmente, deleitar-me sobre seu colo e chorar como um bebe recém-nascido. Eu tinha apenas a mim, ISSO ME TORNOU FORTE, eu sobrevivi à coisas impossíveis, eu não conseguia nem mesmo me matar. Sentia-me fraco e meu coração já murchava, o meu interior passava a ser oco e meu coração gritava, minha alma pedia socorro por estar num corpo tão espiritualmente destroçado como o meu.
Desse ponto foi que, comecei a escrever poemas, era a única forma de expressar o que eu sentia e sinto até hoje, não conseguia nunca desabafar com uma pessoa. Nunca confiei em alguma, não darei um peido por elas. Nunca importaram. Eu estava sozinho, eu era sozinho. Fiz-me do encalço e do silêncio que praticado por mim, foi. A poesia que corria em meus dedos era algo incrível, a tristeza que passava dentro de mim entrelaçadas pelas minhas veias, correndo-as e parando em meu dedo. A movimentação e o barulho do teclado na madrugada era o que me acalmava e fazia-me continuar. Acreditar em um dia melhor era sim uma decisão difícil, mas só de saber o fato de que eu poderia escrever todas as madrugadas fazia com que eu quisesse viver mais e mais. Desejando ainda mais a morte, mas fazendo a minha história.
Eu não sabia de nada sobre a poesia em si, sobre sua história e como seria a estrutura de um poema. Mas eu sabia o jeito de expressar verdadeiramente meus sentimentos sem bostejar uns pedaços de palavras bonitas. Eu fazia apologia à morte e depressão, isso me deixava bem. Porque era algo que eu queria praticar e sentia medo por um determinado fator que eu nunca sabera qual, talvez a vontade de escrever e aprender.
Fui então, que conheci Charles Bukowski, um velho bêbado sem sentindo nenhum, mas era verdadeiro, sentia-me como ele. Era fodido, um vagabundo dos mais podres. Era falido, mas era e ainda é uma pessoa que transformou minha vida. O jeito que ele escrevia, a sensação que ele me trazia, o seu jeito desmotivador de falar sobre a vida em partes era maravilhosa. O jeito que falava de mulheres me encantava, mesmo praticando misoginia. O jeito que falava de Hemingway e todas as pessoas que passara por sua vida, a sensação que fazia-me estar dentro, sentia-me do lado dele quando ele escrevia. Eu nem ao menos via alguma merda sobre literatura ou estrutura de um poema, na verdade, isso me deixava com sono. Todas as regras de como construir um corpo de um poema era cansativo, cheio de baboseiras de pessoas com vidas triste porém com um mestrado e dinheiro. Por fim, descobri que eu tinha o espirito de um velho bêbado sem sentindo nenhum, fodido e um vagabundo dos mais podres.
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UM BRINDE À TRISTEZA
Non-FictionEscritas nesse livro estão coisas que aconteceram antigamente e recentemente comigo com uma pegada mais depressiva e uma visão cansada da vida e de tudo que habita nesse mundo. Histórias como: Morte de um ente querido, decepções amorosas e vazios ex...