IV

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  Chandelier - Sia

"O sol nasceu , estou destruída
Tenho que sair agora
Tenho que fugir disso
Aí vem a vergonha
Aí vem a vergonha..."

                    ×××××××××××××××

   Sinto meu estômago doer por mais um chute , já perdi a conta de quantos foram. Não só chutes , socos também. Quem sabe um cinto , ou uma corda , que tal uma faca ?!

     - SUA FILHA DA PUTA! EU DISSE QUE QUERIA A CASA ARRUMADA! - E mais um chute.

   Ele não costuma bater no meu rosto por causa do meu trabalho. Mas a barriga e as pernas , ele faz qualquer coisa. Claro , que para o meu trabalho eu necessito da perna , mas ele não liga muito , já que eu posso esconder com um calça.

   Só tem 5 meses que estou trabalhando. Quase não consegui o trabalho por estar abaixo do peso e pálida , apesar de já parecer um fantasma por natureza. Mas como viram que eu tinha potencial , me deram a vaga de professora de dança.

   Eu sempre guardo o dinheiro , pelo menos nisso , ele não faz questão de mexer , já que eu não saio de casa direito. Mas ele exige a casa limpa e comida pronta. O que posso fazer ?! Eu moro com ele , não tenho para onde ir. E ele também não deixaria , eu já tentei várias vezes , até que desisti.

     - Mas está arrumada , Alex! - Minha voz sai fraca , por causa dos chutes na barriga.

     - E minha comida ? Ahn ? Não está no prato , vá colocar agora. Quando eu descer , quero tudo na mesa. E põe tudo separado , se estiver misturado , já sabe o que vai lhe acontecer. - Ele rosna para mim e vai em direção ao seu quarto.

   Sim , escutaram certo. Não dormimos juntos desde os 8 meses de namoro , comecei a morar com ele com quase 4 meses. Me arrependo até hoje. Fui ingênua de cair na lábia dele , eu estava sozinha e precisava de alguém para cuidar de mim. No começo ele foi esse alguém , mas depois que começamos a morar junto , acabou o encanto. Ele mostrou quem realmente era.

     - Claro , Alex. - Digo baixo , mesmo ele não ouvindo mais.

   Me levanto com dificuldade e vou em direção a cozinha. Sem ele saber , tomo dois comprimidos de remédio para dor e ponho rapidamente sua comida , coloco a minha e vou para o meu quarto. Ele não gosta de comer "olhando para minha cara de bunda" , como ele diz.

   Eu não tenho mais ninguém , não tenho família , evito fazer amizade no meu trabalho , fico sempre na minha. Sei que me chamariam para conversar , sair e iam querer vir aqui e isso não ia ser possível. Alex já surtar e me bater.

   Fico na minha cama olhando para a parede e pensando. Eu tenho que sair daqui , não posso mais aguentar isso. Mas dessa vez , eu tenho que pensar bem antes de sair , para ele não desconfiar. Ainda bem que moramos em casa , se não , era bem provável que ele falaria para o porteiro não deixar eu sair e se caso saísse , mandaria ligar para ele.

   Depois de um tempo pensando , ouvi a porta do seu quarto bater. Ele foi dormir , ou pelo menos descansar , para sair mais tarde. Ir para a casa das putas dele. Até já tentei denunciar ele , mas como não tenho sorte , o primo dele era policial , então não deixou eu fazer a queixa e me ameaçou se eu tentasse fazer isso de novo. Conclusão ? Apanhei até desmaiar , fiquei em casa por duas semanas , ele foi no meu trabalho entregar um falso atestado , dizendo que fiquei doente. Cínico.

   Então me lembrei de uma pessoas , ela com certeza me ajudaria. Não nos falamos a muito tempo , mas espero que ela me ajude , é minha única opção. Levanto e tranco a porta devagar para não fazer barulho. Pego meu celular e ligo para a minha única esperança.

Warrior - Novas Espécies - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora