Bachianas Brasileiras No. 4

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Loren estava em seu Astra dourado percorrendo as ruas de Stuttgart com olhos assustados, como quando precisava atravessar o corredor escuro para ir ao banheiro no meio do noite quando era pequena.

Ela procurava a casa em que Hans morava há mais de dez anos. Desde o término trágico do namoro, a mãe do garoto havia proibido Loren de se aproximar dele novamente com ira nos lábios e ultraje nos olhos. Loren havia obedecido à risca.

Uma vez, aos dezesseis anos, ela tentou encontrar Hans no Facebook, talvez ele estivesse recuperado. Seus dedos suavam no teclado do computador só por digitar seu nome. Ao contrário de sua usuária, o mecanismo de busca do Facebook não teve problemas em encontrar o garoto.

Reunindo toda a coragem possível, Loren visitou o perfil. A primeira postagem era uma passagem de Goethe: "Pobre daquele que usa do seu poder sobre um coração para abafar as alegrias que nele nascem espontaneamente!"

A garota chorou, a culpa nunca apertara seu peito tão forte. Ele não estava nada bem, mesmo depois de um ano e, pior, ele também a culpava. Depois daquilo, resolveu nunca mais procurar nada sobre Hans.

Agora, apertando o volante do Astra, ela percebia o que Goethe quis dizer com aquelas palavras.
As voz de veludo de Emílio Santiago terminava de entoar 'Naquela Estação' quando a mulher parou o carro na frente da grande casa.

Loren respirou fundo e depois de alguns segundos saiu do carro decidida. Estava nervosa, mesmo sabendo que ele provavelmente não moraria mais ali.

Cada passo até a porta parecia estender ainda mais o caminho. Finalmente, ela se pôs diante da entrada e, antes que pudesse hesitar, apertou a campainha.

Ela podia ouvir o próprio coração bater violentamente dentro do peito. Em um instante, ela se perguntou o que exatamente estava fazendo ali. Não encontrou resposta.

Sabia que tinha se convencido de algum jeito, mas agora sua mente estava em branco e nenhuma razão cabível surgia. Ela meneou a cabeça baixa e seu pé já se movia para que seu corpo desse meia volta quando o som da porta se abrindo a assustou.

Um homem jovem e alto apareceu atrás da porta entreaberta. Loren, ainda assustada, olhou os cabelos castanhos e lisos, o rosto sereno e reconheceu Hans. Nossa, os anos haviam feito muito bem a ele. Seu biotipo magro se mantinha, mas sua altura e seus traços mais fortes revelavam todo o potencial daquele menino bonitinho do passado.

  - Loren? - a voz, de um timbre não tão grave, não vacilava mais como antes. A boca aberta de Hans ainda deixava um sorriso confuso nos cantos.

  - Hans... - Loren caiu em si pela primeira vez. Estava diante do garoto que usara há tantos anos. Todo o peso em seu coração, a amargura que sentiu por toda a vida, nasceram de um momento com aquela pessoa,de quem ela fugiu por tanto tempo.

  - Entre, por favor. - O homem abriu a porta por completo e deu um passo para o lado. Loren via a passagem aberta para si. Ela o olhou, como se procurasse uma confirmação de que era bem vinda. Encontrou um sorriso convidativo e entrou.

  - Tudo bem? Nossa, que surpresa! - Hans se aproximava de seu rosto rapidamente. Loren estava paralisada. Ele estaria tentando beijá-la? Enquanto pensava, sentiu um estalo dos lábios do homem em sua bochecha esquerda. Aquele estalo pareceu trazer Loren de volta à realidade e ela finalmente conseguiu raciocinar.

  - Oi, Hans. Me desculpe vir sem avisar. -

  - Está tudo bem, eu trabalho em casa. Uma surpresa dessas é sempre bem vinda. -

  - Bom, menos mal. - só então Loren parou para pensar que àquela hora qualquer um estaria trabalhando.
 
Os dois estavam sentados em poltronas na suntuosa sala. As grandes e pesadas cortinas cobriam as janelas. Pequenos móveis antigos de madeira fina permeavam a sala. Hans já tinha café pronto, então serviu a si e a sua visitante sem demora.

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