Prefácio

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Há muito tempo atrás.

A escuridão cobria o jardim do grande castelo da realeza Morizono, os guardas faziam a mesma ronda de sempre, ninguém entraria ou sairia sem que sequer um deles soubesse, o que dificultava as fugas da princesa Vênus para encontrar seu amado, porém nessa noite seria diferente, essa noite ela fugiria para sempre. Ao entardecer desse dia a princesa fizera um acordo com um dos guardas garantindo mais alimentos e segurança para sua família e filhos, o guarda que não era bobo aceitou e em troca disso ele a ajudaria na fuga de hoje.

Vênus não encontrará mais nenhuma saída para poder ficar com seu amado. O rei Asafe, seu pai, não permitia qualquer tipo de relação entre ela e o príncipe Henrique, mesmo a família Hummer tendo os três filhos guerreiros e fortes, não possuíam mais bens do que a família Morizono, o que era uma vergonha para realeza. Uma rainha nunca poderia ter mais bens do que o rei.

Perdera as contas de quantas vezes falara com seu pai e suplicava de joelhos para que mudasse de idéia, mesmo sua mãe, Nancy permitira a união das famílias, mas sua opinião não valera de nada diante do rei. Mas será que era isso mesmo o destino deles? Fugir e abandonar todos por amor? Vênus se perguntava isso a todo tempo e sempre tinha a mesma resposta. Sim, ela amava Henrique Hummer e fugiria com ele, exatamente a essa noite.

Ao vestir suas roupas mais discretas esperou ansiosamente pelo sinal do guarda, seus bens mais valiosos estavam consigo, o anel que sua avó havia lhe dado antes de morrer e o colar azul e delicado que seu príncipe havia feito, o mesmo percorrera os reinos principais para montar o colar, havia mais do que simples peças ali, naquele colar havia o coração do príncipe.

Vênus fechara os olhos e rezara por seu espírito celestial para que a protegesse dali para frente. Duas batidas na enorme janela foram dadas, o guarda se encolhia para não ser visto. Se dirigindo até ele o capuz desceu por seu rosto e o calafrio subira por sua espinha. Não teria mais volta depois que saísse por aquela janela.

− O senhor Hummer espera a alteza em seu cavalo do outro lado do muro.

Entre suspiros a princesa assentiu.

− Sua família já fora beneficiada, sou uma mulher de palavra. Assim que eu sair daqui, fuja com sua família, se souberem que me ajudou iram te matar.

O guarda engolira em seco e apertara firme sua cinta onde se encontrara sua espada, o mesmo sabia do risco e assim como a princesa, não tinha outra escolha, sua família passava necessidades, aquela era a melhor saída.

Ambos se esgueiraram pela parte de fora do castelo e desceram pelos galhos fortes das arvores que se encontravam ali. Com cautela o guarda caminha a frente para caso houvesse a aparição de mais alguém, cada passo que ambos ouviram fazia os corações dispararem, não podiam ser pegos ou seria o fim de ambos.

Como prometido o guarda levará a princesa para além dos muros do castelo, o vento bateu sobre o rosto de Vênus e fez com que seu corpo estremecesse, porém logo passará quando o viu. O príncipe Henrique acaricia o cavalo real enquanto esperava por sua amada, seus olhos encontram o dela de forma tão rápida que pareciam ímãs se atraindo.

Henrique caminhou de encontro á princesa de forma rápida e a tomou nos braços, sentira a falta dela, fazia semanas que não se viam e o modo de comunicação era por cartas as escondidas e nesse modo decidiram a fuga.

− Você é a luz mais radiante dessa noite, princesa Vênus.

Os olhos da princesa logo se encheram de lágrimas, mas se segurou para não chorar, a sensibilidade dela era grande e o príncipe sabia disso.

− Senti sua falta... Promete que daqui para frente seremos apenas nós?

O príncipe a olhara nos olhos, pensou em mil e uma maneiras de responder aquela pergunta, mas escolhera a mais bonita de todas. Em sua cinta havia o broche que ganhara quando soube que seria o novo rei, mesmo sabendo que não seria mais o rei por estar fugindo, aquilo era o que tinha de mais valioso.

− Não haverá nada além de nós, nada além de você e eu – suas palavras foram sussurras, mas mesmo assim ela pudera ouvir com clareza.

Colocando o broche sobre o vestido de sua princesa, Henrique a beijou de forma apaixonada. Nesse instante ambos se sentiram livres, felizes a prontos para o que for que o mundo fosse aprontar contra eles. As palavras "amo você" foram trocadas por ambos antes do príncipe tomar a mão de Vênus e a levar até o cavalo.

Um pequeno barulho quase impossível de ouvir chamou a atenção da princesa, com medo a mesma olhara a sua volta rezando para que os guardas não tivessem a visto e alertado seu pai, mas naquele mínimo segundo em que sua atenção estava no muro do palácio, ouvira Henrique murmurar alguma coisa e logo seu corpo cair sobre o chão de terra.

De joelhos a princesa caiu ao seu lado e viu uma flecha enterrada no peito de seu amor, aos prantos a mesma tentava manter o príncipe acordado e gritava por socorro, mas era tarde, o príncipe não tinha mais vida. A cabeça do mesmo em sua mão agora era apenas um corpo. O ódio da princesa cresceu de forma gigante, retirando a flecha do peito Vênus olhou em volta a procura do atirador, mas não pode encontrar.

Analisou a flecha em meio às lágrimas, não era da realeza, não poderia imaginar quem faria algo tão cruel assim. Respirando fundo, a princesa usou a mesma flecha que acertou Henrique para cortar a própria mão e assim fazer um pacto com o mundo sobrenatural para se vingar daquele que matara seu amado.

Não a chamaria mais de princesa Vênus, ela morrera com Henrique, agora ela outrapessoa... Outra coisa.

The Curse Of The Mystical RealmsOnde histórias criam vida. Descubra agora