Capítulo IV - Panquecas de Batata com fígado acebolado

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A ressaca foi inevitável.

Acordei com uma dor de cabeça horrenda em que eu jurava que existiam dinossauros pulando corda e dançando Rave lá dentro.

Sem coragem de abrir os olhos fui tateando em busca da porta, o que me resultou em uma batida com o dedo mindinho na parede.

- PUTA QUE PARIU!! - gritei de dor me curvando contra minha agressora inanimada - ai, cacete. 

- Aconteceu alguma coisa? - Dandara apareceu no quarto preocupada.

- Bate o dedo do pé. Está doendo pra caralho. E minha cabeça também.

- Me surpreenderia se não estivesse, bebeu como um viking ontem. - Ela me deu o braço como apoio e fomos pra sala.

- Me espanta você parecer uma fada reluzente como se não tivesse ingerido uma gota sequer de álcool. - Ela me passou a bolsa de gelo que pus imediatamente na cabeça. A sensação fria que percorreu meu crânio foi aliviante.

- Não sei se você viu, mas eu me hidratei todo o tempo. Já você confundiu água com vodka. - Ela falou e foi à cozinha voltando com um copo de água e um comprimido em mãos - tome vai fazer bem.

- Obrigada - Joguei a cápsula garganta a baixo e virei a água junto - preciso agora utilizar toda a minha dissimulação pra ignorar essa ressaca e ir pra Eurian. Tenho compromisso com eles às duas da tarde.

- Vai tomar um banho que eu arrumo o almoço pra gente.

- Você é um anjo mesmo Danda, Obrigada.

- Não agradeça não que você vai ficar me devendo essa senhorita. - me respondeu e saiu rindo pra cozinha.

Cerca de uma hora depois eu estava pronta e me dirigia pra mesa. Minha amiga me esperava pra almoçarmos juntas e saboreamos com gosto a comida. O escondidinho que ela fez estava sensacional e eu invejei.

Eu era um desastre na cozinha, acho que já comentei que uma das tentativas quase colocou fogo no apartamento.

Quarenta minutos de carro depois dei meu melhor e mais falso sorriso e contemplei o prédio da construtora, protegendo meus olhos sensíveis da ressaca com óculos escuros. Adentrei o local que esbanjava tons de bege, vidrarias e vasos ornamentais de plantas indo até a recepção onde uma recepcionista se encontrava.

- Boa tarde em que posso ajudar? - perguntou automaticamente.

- Eu sou Rebecca fui contratada pela Eurian a pouco tempo tenho um encontro marcado com a supervisora.

- Ah você é a brasileira... décimo andar sala trinta e sete ela está te aguardando.

- Obrigada Luise - agradeci lendo o nome no crachá.

Fiz que não notei o tom pejorativo ao pronunciar "brasileira " mesmo que sutilmente.

Instantes após apertar o botão do elevador eu me encontrava a frente da sala da supervisora de obras, e quando a secretária liberou eu prossegui respirando fundo e adentrei o lugar.

Era o primeiro dia do meu sonho profissional que se realizava.

A sala ampla possuía os mesmos tons de bege do pátio e ostentava janelas compridas de vidros impecavelmente transparentes que davam uma vista panorâmica dos arredores do prédio. A dona dela levantou-se da cadeira atrás da mesa de trabalho e se aproximou de mim estendendo a mão.

- Rebecca não é? - meneei a cabeça - Seja bem vinda ao time Eurian, meu nome é Melvina Casey e como já sabe sou a supervisora de obras da empresa Matriz.

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