Acordei gritando desesperadamente dentro do avião, eu suava frio e chorava copiosamente em um tipo de estado de choque.
Era sempre assim quando eu tinha aquele pesadelo.
Os outros passageiros se dividiam em se preocupar e me xingar por atrapalhar seu sono. A aeromoça logo apareceu tentando me acalmar de alguma forma.
Eu abraçava minhas pernas enquanto meus olhos focavam o nada. Eu não estava ali naquele avião. Minha mente vagueava em algum lugar distante e as vozes alteradas ou preocupadas soavam abafadas como se eu estivesse em baixo d'água.
Demorava sempre entre cinco e dez minutos até minha mente retornar para o mundo real. A aeromoça notavelmente consternada por não saber o que fazer, apenas tentava gentilmente me trazer de volta me chaqualhando com suavidade e dizendo palavras amistosas.
- Hey senhorita calma, já passou está tudo bem. Você está me ouvindo? Consegue me ouvir?
Eu olhei pra ela completamente em pânico e minha visão alternava entre ver seu rosto normal ou descarnado em estado de decomposição. Eu fechei os olhos e balancei a cabeça com as mãos no ouvido. Ao fundo ainda ouvia o gralhar dos milhões de corvos.
Uma outra moça talvez da minha idade apareceu e disse pra aeromoça que era recém formada em psicologia e pediu pra ela ir buscar um copo com água e açúcar pra me dar. Assim que a comissária de bordo se afastou ela se aproximou de mim, e sem prévio aviso sentou ao meu lado e me puxou pros seus braços.
Ela não disse nada. Apenas ficou me abraçando em silêncio. E era tudo que eu precisava.
Quando ainda morava com meus pais era minha mãe quem fazia esse serviço durante as diversas crises de pânico que se sucediam ao pesadelo em minha adolescência.
Quando entrei na faculdade eles pararam e ficaram afastados por todos esses anos. Agora nessas últimas semanas haviam retornado sem motivo aparente e em meu apartamento eu simplesmente ficava encolhida até conseguir me erguer outra vez.
Sentir os braços de alguém ao meu redor era um apoio onde eu conseguia me segurar. Eu sentia o calor vindo do corpo de minha mãe e sentia seu cheiro doce e aos poucos eu ia sendo puxada de volta a realidade.
Sentir a presença daquela moça comigo, o cheiro que vinha dela, um cheiro de vida, me afastava do odor pútrido do poço dos corpos. Quando ela reparou que meus soluços haviam cessado, correu a mão por minhas costas em um afago de tranquilidade e me afastou de si me fazendo olhar pra ela.
- Você está melhor? - me perguntou tentando passar firmeza na voz e no olhar.
Apenas meneei a cabeça em afirmativo. A comissária retornou com o copo em mãos e tentou me entregar. Por algum motivo minhas mãos trêmulas pareceram contagiar as dela quando a olhei nos olhos e sussurrei um obrigado. Quase que o copo caiu em cima de mim.
Sorvi o líquido na tentativa de amenizar as dores em minha garganta machucada pelo grito.
- Qual o seu nome? - A moça tornou a perguntar.
- Rebecca. - Entreguei o copo vazio e a aeromoça se afastou com pressa obviamente querendo distância da doida que havia acordado a todos no meio da madrugada - Rebecca Montenegro.
- Como está se sentindo Rebecca?
Eu não estava totalmente bem, mas iria ficar. Só precisava de mais um tempo.
- Melhor. Obrigada por me ajudar tinha muito tempo que eu não dava uma crise dessas - menti. Não queria parecer uma esquizofrênica incapaz de viajar sozinha por ter crises de pânico depois de pesadelos. Era patético.
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Nas Asas do Corvo
Fantasy"Nem acredito que finalmente vou conseguir o emprego que sempre quis! Certo, é lá na Irlanda, mas o que eu posso fazer? Se é lá que está a oportunidade é pra lá que eu vou, em busca dos meus objetivos." Rebecca Montenegro, é uma recém graduanda em...