Capítulo 11.

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— Como está se sentindo? — o pai de Bruno perguntou.

— Enjoada — eu quis cuspir em sua cara.

— Ah, vai me dizer que está prenha do meu primogênito?

— Porco! — eu, de fato, cuspi em sua direção. Mas, amarrada em uma cadeira da forma que eu estava, era difícil fazer com que meu cuspe chegasse nele. Eu estava em uma das salas daquela mansão, vários sofás luxuosos espalhados, quadros às paredes, estantes com bebidas e fotografias de mulheres sensuais. Desta vez, fizeram um bom trabalho em me amarrar; minhas mãos para trás e minhas pernas unidas e atadas firmemente aos pés da cadeira. Os nós eram firmes e eu sentia meus músculos doerem.

— Nossa, quanta raiva! — ele gargalhou e deu um gole no que bebia. Colocou o copo na mesinha ao seu lado e trouxe seu corpo para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos e me encarando. — É realmente um prazer conhecer alguém como Bruno.

— Do que você está falando?

— Leitora de rostos. Expressões. Falidora de cassinos.

Eu semicerrei os olhos.

— Eu nunca fali um cassino ou contribuí para isso.

— Não importa. Eu tenho olhos em você há tempos, mas nunca teria tido certeza se não fosse pelo fato de você ter ajudado meu filho a fugir. Eu estava tão perto... e agora ele sumiu, de novo. Pelo menos, eu tenho você.

— Eu não sei onde ele está. Não posso ajudar. Já avisei os seus capangas.

— Ah, você já está ajudando. Pelo simples fato de estar aqui.

— Eu não acho que Bruno virá.

— Ah, querida. Não o fodeu bem o suficiente?

— Vá se foder!

Ele gargalhou.

— Sabe, tive o desprazer de conhecer as outras de Bruno. Nenhuma era tão lutadora como você. Claro, sem falar no fato de que você é como ele. Ah, estou tão ansioso! — ele se levantou e começou a andar pelo salão.

— Você é surdo? Ele não vai vir!

— Se ele não vier, você vai ter de servir. — ele se virou, quase que rosnando as palavras para mim. — Ou quer que o Sr. Thiago e a Sra. Diana tenham uma visitinha do gordo e do magro? — ele apontou para os capangas.

Eu senti uma sensação horrível me percorrer ao que ele mencionou meus pais. Meus órgãos se retorceram e eu tentei me soltar daquelas cordas, enquanto grunhia de raiva.

— Pode se debater o quanto quiser. Você não vai fugir — não enquanto sempre tiver alguém de olho. Agora, se me dá licença, eu tenho uma mensagem para enviar para o meu querido filho. A gente se vê daqui a pouco. — e ele saiu da sala, deixando-me com os dois caras parados à porta, sempre me observando. Felizmente, nós não nos vimos até o começo da noite.

+++

Como eu previra, Bruno não aparecera. Haviam me trancado em um dos quartos da casa; às varandas, havia um segurança para cada porta. Eu estava largada em uma cama — feliz por não estar presa, é claro — e entediada sem saber o que estava para acontecer. Iriam me matar? Me estuprar? Eu não sabia, mas esperava que, se fossem fazê-lo, fizessem logo. Eu me sentia torturada com a espera e sem saber das coisas. A única coisa que me confortava era o fato de haver um relógio de parede ali, de modo que eu conseguia me localizar no tempo. Eram seis horas da tarde quando houve uma batida forte à porta.

O magricelo entrou.

— Ei, você — ele grunhiu. Eu me pus de pé, receosa. — Vista isso — ele jogou uma roupa em um dos sofás que havia no quarto. — O chefinho vem falar com você logo, então, esteja pronta. — e saiu.

Eu me aproximei da roupa e percebi que se tratava de um vestido preto e longo, colado ao corpo e com uma fenda às pernas; o tecido era cintilante e chamativo. Eu não sabia o que aconteceria, mas podia ter uma ideia. Para que o tempo passasse mais rápido, eu fui até o banheiro e comecei a me arrumar. Tomei meu merecido banho, finalmente, e, conforme a água quente escorria pelo meu rosto, eu sentia as lágrimas saírem.

Bruno não viera. Ele não viria.

Ninguém sabia onde eu estava.

Eu ia morrer, eu sabia.

Quando enfiei a toalha em meu rosto, consegui controlar o choro. Sequei meu corpo e tentei arrumar meus cabelos molhados com os dedos. Estavam terríveis, mas nada me restava a fazer, a não ser esperar que secassem e ficassem bons. Eu pus o vestido e, por um breve momento, ao me ver no espelho, eu me senti como em um dia qualquer no Uruguai. Uma roupa chamativa, sensual, o poder em minhas mãos. Senti como se eu estivesse lá para conseguir o que queria e ir embora.

Mas eu abri os olhos. E eu vi que estava presa em um banheiro, viva por sei lá qual propósito. Assim que saí dali, o pai de Bruno estava sentado em uma das poltronas, uma taça de vinho nas mãos, balançando o líquido bordô em seu interior. Ele ergueu os olhos até mim e, então, arqueou uma sobrancelha.

— Nada mal. Posso entender porque meu filho se meteria com você.

Eu balancei a cabeça e passei por ele, indo até a cama para dobrar as roupas que eu usara no dia anterior.

— Se você pretende fazer um voto de silêncio, agora é a pior hora. Não é à toa que você está aqui.

— Você queria Bruno. Ele não veio. Não sei o que quer de mim, mas se for para me matar, faça logo. Não brinque com a presa — eu resmunguei, mexendo na blusa usada.

— Ah, pode ter certeza. Principalmente, se você não cumprir com o seu papel por hoje, sua morte chegará antes do esperado.

Eu me virei, revoltada

— O que quer de mim?

— Você jogará com jogadores escolhidos a dedo por cada dono de cassinos uruguaios. E você ganhará deles. Ganhará o dinheiro de cada um deles.

— Você não acha que já tem dinheiro demais?

— Foi graças ao pôquer que consegui tudo isso, doçura. Mas com Bruno na história, eu não pude mais voltar para o Uruguai.

— Por quê?

— Porque ele quase faliu quatro cassinos de lá e seus donos me ameaçaram quando Bruno desapareceu. Eu tive de tirar de meu dinheiro para que não me matassem. Agora, eu quero meu dinheiro de volta. Infelizmente, não consigo ler as pessoas como ele faz — e eu preciso do dinheiro. Então, você vai jogar e vai vencer. Está me entendendo?

— Então, é mesmo só por dinheiro. E você odeia seu filho por seguir seus passos? — eu dei uma risada irônica.

— Eu o odeio por ser melhor que eu. Por ter conseguido tanto dinheiro e tê-lo desperdiçado com coisas fúteis.

— Ah, deixe-me ver. Prostitutas caras e casas noturnas? — eu rolei meus olhos.

— Não. Caridade. — seu pai quase vomitou com a palavra.. Eu engoli em seco. — Ridículo.

Eu não tinha palavras para revidá-lo ou xingá-lo. Eu apenas entedia porque Bruno havia sumido. Agora, fazia sentido.

— Vamos, boneca — ele deu um gole que acabou com o vinho na taça. Veio até mim e me pegou pelo braço. — Você precisa de um salto alto e está pronta para o jogo.

Eu queria estar. E queria ficar viva para contar a história.

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