Capítulo 14.

1.9K 131 10
                                    

A janela do quarto em que estávamos estava com as cortinas para o lado; foi assim que vi que havia acordado no meio da noite. Meu rosto já não doía mais tanto e eu me sentia razoavelmente melhor. Como eu estava deitada com o corpo virado para cima, eu me girei, lentamente, para deitar-me de lado, sobre a bochecha não machucada senti, ainda, que não havia curativo algum na outra bochecha. Bruno estava dormindo ao meu lado, virado para mim, e foi só quando segui sua mão que percebi que estava tocando, levemente, meu braço. Por mais que eu não quisesse sair dali, eu precisava. Eu precisava ver o estrago em meu rosto.

Conforme eu conseguia, equilibrei meu corpo sentado na beirada da cama, sempre devagar para não acordar Bruno. Eu dei um longo passo para me apoiar na parede que havia logo ao lado da cama e, me segurando nela, eu tateei até a porta do banheiro. Mais uma vez, girei o trinco com todo o cuidado e entrei, sem fechá-la, apenas encostando-a para não fazer barulho.

O banheiro estava terrivelmente escuro e eu ergui minha mão até a parede, em busca de um interruptor; acendi a luz e meu corpo foi imediatamente para trás, meu coração acelerado com a visão que se desenhava no espelho acima da pia. Um pouco depois de meus lábios começava o estrago; ia até um pouco antes de começar a minha orelha. Eu estava costurada feito um boneco, mas, pelo menos, não havia sangue. Apenas bizarrice.

Eu deslizei as costas pela parede do banheiro e me encolhi, não querendo mais me ver. Abracei os meus joelhos e tentei — juro que tentei — não chorar. Mas meus olhos começaram a queimar e eu senti as primeiras gotas descerem pelo meu rosto, e ardendo quando tocavam o corte costurado. Eu encostei a testa em meus joelhos e deixei que as lágrimas caíssem diretamente para fora do olho em minhas roupas, sem que descessem por minha pele. Eu me encolhi ainda mais quando a porta do banheiro se abriu, lentamente, e Bruno entrou, colocando-se imediatamente no chão e sentando ao meu lado.

— Clarice, você está bem? — eu senti sua mão pousar em meus ombros. Eu ergui meu rosto, ignorando as lágrimas ácidas.

— Por que eu estaria bem? Você já viu o meu rosto? Eu sou um monstro — eu grunhi, e desviei meu olhar.

— Ei — ele murmurou, tocando meu queixo com os dedos e virando meu rosto lentamente até o seu. — Você é linda. Maravilhosa. E eu falo sério.

Naquele momento, eu me lembrei das palavras que Bruno disse antes de atirar em seu pai. “Eu não mato pessoas. Mas eu posso feri-las da mesma forma que feriram alguém que eu amo”. Isso queria dizer que...?

— Por que está falando isso? — eu pedi, sem desviar o olhar. Bruno analisou cada parte de meu rosto, desde o meu queixo até meus cabelos.

— Você ainda não aprendeu a me ler? — ele me deu um sorriso debochado. Eu lhe soquei o ombro e desviei o rosto, escondendo-o em meus braços. Eu ouvi Bruno se remexer e ergui um pouco o rosto, para espiar o que ele estava fazendo; sentou-se bem em minha frente, deixando-nos ainda mais apertados dentro daquele banheiro. — Eu estava brincando. — sua voz ficou calma e séria. — Eu digo isso porque você é, mesmo, linda. E não importa quantas vezes eu tenha que desaparecer e me meter em merdas, minha mente só pensa em você.

— Você é um idiota, sabia disso?

O rosto dele se fechou.

— Você é um idiota por ter ido nos mesmos cassinos que eu. Você é um idiota por ter aparecido lá e me feito refém da minha própria capacidade de ler as pessoas. Você é um idiota por eu não conseguir criar meta alguma em minha vida que não envolva você e seu jeito misterioso. Você é um idiota por me fazer gostar de você.

— Bom, isso é uma pena....

— E você acha que eu não sei? Agora, ainda mais que estou medonha e...

All in.Onde histórias criam vida. Descubra agora