Capítulo 13.

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Eu não fazia ideia há quanto tempo estava apagada — muito menos o que Bruno tinha feito durante este tempo. Tudo o que sei é que estava sentada no banco da frente, agora, um pano ensaguentado apoiado em meu ombro. Eu virei minha cabeça, lentamente, e percebi Bruno dirigindo, concentrado, e as olheiras abaixo dos olhos. Estava cansado.

Eu consegui mexer minha mão e levá-la até o colo dele, fazendo-o sair de seu transe e me olhar rapidamente.

— Oi — eu falei, sentindo meu rosto arder quando o mexia para falar.

— Oi — ele murmurou de volta e pegou minha mão; beijou-a e, então, colocou-a de volta sobre meu colo. Tirou o pano de meu ombro e o pôs sobre minha mão. — Use-o para parar o sangramento em seu rosto, tudo bem? — ele pediu. Eu obedeci, sentindo a ardência me percorrer. — Como está se sentindo?

— Dolorida — consegui dizer. Teria de me limitar às palavras.

— É, eu consigo ver isso em seu rosto.

— Meu rosto está uma merda — e, desta vez, não me importei com a dor. Era verdade. Eu seria uma aberração para sempre, com a cicatriz que eu teria.

— Pois eu acho que é a coisa mais linda que já vi em minha vida. — ele disse. Mas eu não soube dizer se era imaginação ou realidade; eu ainda estava sonolenta e fraca.

— Estamos indo para um hospital? — eu perguntei.

Bruno fez que não.

— Estamos longe do Rio Grande do Sul. Mas não podemos ir para um hospital. Eu conheço alguém que pode nos ajudar. Nós já estamos chegando.

Eu fiz que sim e continuei quieta. Percebi, pelas paisagens, que estávamos em Santa Catarina. Minha mente foi imediatamente aos meus pais. Será que Lola os havia avisado sobre meu sumiço? Será que havia pessoas atrás de mim e dele? Meus pensamentos, por pouco, não me enlouqueceram; Bruno estacionou o carro em frente a um prédio grande, mas um tanto afastado do que eu diria ser o centro daquela cidade.

Ele saiu primeiro e veio até o meu lado, abrindo a porta para mim e me ajudando a sair. Eu me apoiei em seu corpo enquanto ele me guiava os passos. Eu sentia a fraqueza latejar em meus músculos e ossos.

— Tem certeza que há alguém aqui? Parece um lugar pouco movimentado — eu falei, olhando para as luzes apagadas em quase todos os andares. Não havia muitas casas em volta e a rua era de paralelepípedos. Eu tentei não mover muito meu rosto ao mesmo tempo que pressionava o pano em meu corte.

— Eu espero que ele esteja aqui.

— Ele quem?

— Um velho amigo. Eu ouvi sobre ele na televisão, quando estávamos juntos naquele hotel... e, como eu sabia que viriam atrás de mim, eu fui embora. Esperava que me seguissem e te deixassem em paz. Eu errei, eu sei; não espero que você me perdoe por isso. Mas, voltando ao meu amigo... ele estava em coma. E dizem tê-lo sequestrado, mas sei que não é verdade. Ele deve estar muito bem escondido, e, se eu estiver certo, ele está aqui.

Eu apenas assenti, deixando que Bruno apertasse o interfone em um determinado andar. Quando a musiquinha parou de tocar, nós sabíamos que alguém havia atendido.

— Bernardo? Aqui é o Bruno. — Bruno pausou. — Eu sei o que houve com você; tentei vir te visitar, mas não consegui, tive um imprevisto. — Bruno olhou para mim e sorriu. — Eu sabia que iria te encontrar escondido em seu apartamento. Se importa se eu subir? É uma emergência.

O portão se abriu e nós entramos.

+++

— Meu Deus, cara, o que foi que houve? — eu ouvi o amigo de Bruno perguntar, logo depois de entrarmos em seu apartamento. Eu me sentia tão fraca que sequer me lembrava de termos usado o elevador e chegado ali. Ainda assim, eu consegui perceber a situação ao meu redor.

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