Como eu já havia avisado, eu postarei todos os domingos, sem falta. Entretanto, decidi postar um dia antes porque terei um compromisso amanhã (16/08) e não quero deixar minhas leitoras na mão! Obrigada por entenderem *-* Beijo grande e espero que gostem! :))
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Pelo resto da noite, eu tive de fingir jogadas ruins e expressões claramente falsas. Ganhei muito e perdi também, até alcançar a quantia mensal que eu pretendia: sete mil reais. Eu transferiria cinco mil para os meus pais e viveria com dois mil pelo resto do mês. Afinal, eu tinha de fingir não ter muito dinheiro para os meus amigos ou, então, eles desconfiariam de algo.
Apesar de não haver relógios dentro do cassino, eu havia me preparado e levado meu celular em uma pequena bolsinha. Percebi que se aproximava da meia-noite e sabia que estava na hora de parar, antes que alguém por ali percebesse que eu poderia ganhar todos os jogos que quisesse. Entretanto, quando Tom, o homem de óculos, saiu da mesa, liberando um assento, e o mesmo foi tomado imediatamente por um garoto que deveria ter a minha idade, eu não hesite: permaneci ali. Por sorte, ainda havia uma boa quantia para que eu pudesse “perder”, sem prejudicar meus sete mil.
Pelas roupas que usava, eu poderia dizer que era um mendigo uruguaio. Uma camiseta de polo um tanto desgrenhada, calça jeans com furos próximos dos joelhos. E, nos pés, tênis all star. Segurei um riso ao vê-lo sentar-se à mesa. Por mais que eu não tivesse lido suas expressões, ainda, eu sabia que, pela beleza de seu rosto, ele sabia muito bem o que estava fazendo — queria amolecer os corações dos competidores com sua aparência pobre. O garoto tinha a pele bronzeada e algumas tatuagens pelos braços — todas bem-feitas —, os olhos incrivelmente verdes e os cabelos dourados, as mechas bagunçadas pela testa.
— Quanto está aposta inicial? — ele pediu.
— Cem — o dealer falou. O garoto assentiu e colocou suas fichas sobre a mesa. Chegara como eu, como pouco dinheiro. Deveria haver ali, no máximo, mil e quinhentos em valores. Eu ergui as sobrancelhas e fiquei o observando, enquanto seus olhos não saiam de mim. Ele lambeu os lábios, como se estivesse me provocando. Eu não desviei o olhar.
Enquanto o dealer fazia a sua função de distribuição de cartas, eu continuei com meus olhos fixos nele; percebi que os outros jogadores da mesa o observavam com pesar, por trás de suas máscaras e pinturas. Eu não conseguia acreditar. Eu sempre pensara que, aparentando-me poderosa, com vestidos chamativos e olhar superior, eu seria temida. Mas aquele garoto usara outra artimanha: a pena. E todos ali estavam ansiando para que ele ganhasse e levasse todas as fichas embora, para alimentar uma suposta família de doze irmãos e pais desempregados. Eu balançava a cabeça, atordoada. Ele era bom e eu não fazia ideia quanto.
Todos obedecemos ao dealer ao fazermos a aposta inicial, logo após eu verificar minhas cartas. Eu tinha um cinco e um quatro de copas. Observei García. Uma leve arqueada nas sobrancelhas me fez deduzir que ele estava impressionado com o que recebera. Dorns, o cara que eu ocupara o lugar quanto sentara na mesa, tinha um bigode grosso e natural e eu o vira mexendo no mesmo. Estava ansioso. O garoto estava com os lábios mordidos e um sorriso malicioso se abrindo aos pouco. Estava tirando sarro de mim? Tentando-me? Estava feliz com as cartas que recebera? Eu não sabia. O sarcasmo estampado em se rosto me impedia de lê-lo. Minhas mãos começaram a suar, como nunca fizeram. Eu estava nervosa.
As três primeiras cartas da mesa foram viradas. Um ás de copas, um dez de paus e um três de copas.
Eu tinha, em mãos, duas cartas de copas. Se mais uma virasse, eu teria um Flush. Olhei para García e vi seu lábio se contorcer brevemente e logo se aquietar. Dorns passou a língua na frente de seus dentes, sem abrir a boca. Seu jogo de cartas havia melhorado. O garoto foi o último que analisei — e, para a minha surpresa, ele estava me olhando. Quase como se estivesse fazendo o mesmo comigo. Eu engoli em seco ao ser pega desprevenida. Estava sorrindo e com uma sobrancelha erguida. Eu sabia que ele estava brincando com a minha cara — mas não fazia ideia de que tipo de jogo tinha em mãos. Eu me sentia perdida.
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All in.
RomanceUma das coisas que não sabem sobre Clarice Vargas é que a garota tem uma habilidade especial em ler expressões faciais e corporais; por conta disso, uma vez por mês, Clarice se aventura nos cassinos uruguaios, com um único objetivo em mente: tirar d...