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Algumas longas, desgastantes e sofridas horas antes de reencontrar Diana alcoolizada discutindo com um cara que parecia furioso com alguma merda que ela fez. Falando em merda vamos a mais um capítulo da minha vida escrito por um autor muito do filho da puta...

Suspiro fundo, na verdade não chega a ser um suspiro mas uma bufada de nervosismo. Minhas mãos seguram o volante com força como se estivessem segurando uma corda de salvamento na beirada do precipício, além de estar suando e tremendo. E nem está tão calor assim, visto que estamos no Outono. Minha pressão deve ter aumentado.

Um jipe. Juro que queria entender o gosto excêntrico de Geórgia por carros diferenciados. Até parece que ela está podendo dirigir isso ou anda fazendo rali por aí. Ela tem usado a minivan para transportar as crianças para a escola e só usa essa coisa nos finais de semana. Ela já não era muito normal antes da Rússia, pós Rússia então, parece que piorou. Deus me defenda. Só Alexia mesmo para aguentá-la. Acho que o fato da minha patroa ser louca também contribui para a boa relação de ambas. Enfim...

Estou estacionada em frente a casa delas e já deveria ter partido porque só passei aqui para trazer meu gatinho lindo. A pior parte de fazer essa viagem é; ter que deixar Turmalino com elas para não ficar sozinho no meu apartamento, uma vez que elas garantiram que não vão tirar o bichano de mim, que é injusto porque me apeguei imensamente a ele e elas podem vê-lo sempre que quiserem, além de que confiam em mim para cuidar bem dele, e ter que dirigir... Pois é. Eu tirei carteira faz alguns anos por pressão dos meus pais com o argumento de que praticidade é indispensável, mas nunca me senti confortável para tal. Dirigir pela cidade até que não foi um desastre total, claro que rolou umas boas atrapalhadas, porém nada preocupante, agora ter que pegar a rodovia é outra história. Não sei o que fazer. Penso e repenso. Quero desistir de ir dirigindo, comprar uma passagem de avião até a capital da Carolina do Sul e depois pedir um Uber até Dillon e consecutivamente até o distrito onde Dona Missouri me garantiu que Diana está hospedada em uma cabana. Como será que ela sabe de tudo isso? Confesso que estou indo lá mais para comprovar se isso tudo é realmente verdade. Não que eu duvide dos dons dela, é só para confirmar mesmo.

O motivo de eu ter pavor de carros e trânsito caótico? Para não fugir do clichê, é nada mais, nada menos do que um trauma de infância. Meu melhor amigo do ensino fundamental, pelo qual eu tinha uma paixãozinha pré-adolescente, foi atropelado por um motorista  bêbado e ficou tetraplégico. E adivinhem quem era o motorista alcoolizado? O próprio pai que chegou na rua da casa deles quando meu amigo estava andando de skate. Eu estava lá e vi tudo de perto. Só não me aconteceu nada sério quanto a ele porque seu pai conseguiu frear bem na hora que me atingiu. É, uma tragédia, uma fatalidade que me persegue psicologicamente até os dias atuais. Tenho medo de ferir alguém gravemente ou matar enquanto dirijo. Um carro se transforma numa arma nas mãos de muitos motoristas inconsequentes. Sei que não é o meu caso, mas a ansiedade causada pela lembrança traumatizante me assombra e me atrapalha. É por isso que estou tendo uma crise agora.

Por isto, às vezes me questiono se um relacionamento amoroso entre mim e Diana será possível. Ela é completamente diferente de mim que aprecio uma vida rotineira sem grandes surpresas. Diana gosta de adrenalina e ama esportes radicais. Sei lá, não sei se um namoro iria muito longe. Eu ficaria com medo dela se machucar e ela se sentiria insatisfeita por eu não desejar acompanhá-la nas suas aventuras. Talvez eu não deva mesmo ir pra Dillon de jeito nenhum e ignorar os conselhos de Missouri seja o mais racional.

Estou refletindo nessa hipótese quando alguém bate no vidro. Reajo um pouco assustada pois não esperava ser surpreendida. Será que estacionei em frente a garagem? Abro o vidro. Não!

— Dona Missouri? De onde? Como? — olho ao redor incrédula. É estranho ela aparecer do nada quando eu estava pensando exatamente nela.

— Saí pra fumar e te vi aqui parada literalmente. Já são oito horas da noite e você ainda não pegou a estrada! — enfatiza com um ar decepcionado.

O Amor Na Balança ( Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora