7.

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(...) Depois de umas duas horas dirigindo tranquilamente, resolvo ligar uma música para matar o tempo de uma maneira mais agradável porque não é muito recomendável eu ficar observando a paisagem ao redor com tanto afinco. Tenho que prestar atenção na estrada que agora ganhou um movimento regular.

Minha mente viaja longe, resgatando memórias passadas...

Quando finalmente consegui tirar carteira de habilitação — depois de muito tratamento psicológico e vários paus, é claro, só para constar mesmo — ganhei do meu pai uma cartilha de como ser uma boa motorista. Ele é caminhoneiro então vocês podem fazer uma ideia de como foi para ele “aceitar” que eu não nasci para dirigir. Após muita pressão acabei concordando só para agradá-lo. Na adolescência eu fiz muitas coisas que definitivamente não desejava somente para não entrar em atrito com meus pais. Como sou filha única, eles depositaram em mim todas as idealizações possíveis e eu fiz questão, não de uma forma proposital, de decepcioná-los em todas elas, sem exceções. Se não bastasse; minha mãe é mecânica de motos e os dois se conheceram num desses encontros de motoqueiros. É, com direito a roupa de couro e muito Rock and Roll.

Enfim, o que constava na cartilha é basicamente: não pegar a estrada com sono ( aproveitei o dia de folga e dormi antes de vir)  nem alcoolizado ( zero álcool no organismo), evitar distrações como mexer no celular e discutir com alguém dentro do carro ( ok) Além disso, nunca se meter numa briga de trânsito ( tudo certo). Porém, lá não tinha nada mencionando sobre quase ser assaltada por um maluco armado.

OBRIGADA POR NADA PAI!

A gota d'água foi quando eles praticamente exigiram que eu fizesse as cirurgias para ajudar na minha fracassada perda de peso. Brigamos bem feio e eu resolvi sair de casa. Fui morar com uma colega de faculdade e depois saí do Mississippi e me mudei pra Nashville. Faz um longo tempo que não temos contato.

Eu tinha que lidar com o preconceito das pessoas e não precisava de uma família que não me apoiava nas minhas decisões de aceitação. Eles não se conformam com o fato de terem uma filha fora dos padrões de magreza sendo que eles são super magros. Não que minha família seja toda assim. Tenhos outros parentes obesos e meus ancestrais também eram e minha genética puxou a deles.

Sou arrancada dos meus pensamentos por um cheiro horrível de queimado e vejo fumaça saindo do capô. Confiro o painel e percebo que o motor ferveu porque a ventoinha não armou. Uma verdadeira merda! O que será que aconteceu? Faço sinal e estaciono no acostamento. Desço e o abro. Começo a tossir com tanta fumaça que mal consigo enxergar. Abano até ela sumir um pouco. Não consigo ver direito então pego uma lanterna dentro da caixa de ferramentas no porta-malas junto de mais alguns itens de emergência. É, esse carro não é tão resistente quanto pensei, ou está precisando de manutenção. Como dizia meu pai; os automóveis são como nossos corpos e precisam de cuidados. Não é possível que a Geórgia me emprestou esse bendito carro sem revisão! Bufo. Os Russos podem não ter conseguido matá-la, mas de mim ela não escapa. Porém, depois do pequeno racha com o assaltante, acho que o motor sobrecarregou. Ótimo. Parece que está faltando água no radiador. Só que não posso mexer enquanto não esfriar. Droga! Vou ter que esperar.

— Hey gordinha delícia está precisando de ajuda? — escuto e só então me dou conta de que um tarado estacionou bem perto de mim.

Meu Deus! Só me faltava essa! Devia ter aceitado a arma que a Geórgia me ofereceu para eventuais acontecimentos inesperados, indesejados e perigosos. Na hora achei um imenso exagero só que agora estou amargamente arrependida. Ele analisa minhas pernas à mostra por uma saia jeans acima do joelho e lambe os lábios com tesão. Me sinto incomodada e ajeito minha camisa social de bolinhas amarrada na cintura.

O Amor Na Balança ( Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora