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Diana

Vida. É só isso que enxergo na floresta profunda e oculta que Gabe chama de olhos. A questão é; por que uma pessoa que tem tanta vivacidade no olhar decidiu desistir de viver? Gwen não exagerou em nada sobre tudo que me adiantou dele, sempre com muito entusiasmo. Confesso que por vezes senti uma pitada básica de ciúmes e tinha um certo receio deles voltarem a se envolverem depois do reencontro, porém, todas estas inseguranças acabaram de dissipar-se estudando o olhar que minha namorada dirige para seu amigo de infância: só vejo admiração nele, nada mais além disso, e um suspiro interno faz com que meu tronco tenso relaxe de imediato.

— Desculpa termos interrompido vocês... — a manifestação de sua mãe, me retira do meu pequeno transe. — Não acho prudente ficarmos tanto tempo sem nos alimentarmos. Diana me disse que vocês estão sendo voluntárias desde cedo, Gwen — justifica o motivo de termos vindo aqui.

— Ah concordo plenamente mamãe! — Gabe reforça com um leve sorriso, fazendo jus da simpatia que minha ruiva comentou que ele possui. — Eu mesmo convidei Gwen e sua namorada para um almoço, ser for possível é claro, uma vez que não tenho a dimensão do estrago, embora faça uma ideia.

— Ah ótimo! Acho que consigo preparar algo no que restou da nossa cozinha! — Margareth emana empolgação. — Fiquem à vontade, já já eu lhes chamo. — ganho dois tapinhas amigáveis no ombro esquerdo e Margareth se prepara para sair quando Gwen a impede, levantando-se solícita.

— Eu te ajudo com isso Margareth! — avisa e a mulher mais velha assente com seu cabelo acobreado e os olhos azuis acinzentados brilhantes.

— Prometo não demorarmos! — Gwen garante e eu sorrio de canto. Sei que ela foi para me dar uma oportunidade a só com Gabe.

Elas se vão e eu me pego constrangida, olhando ao redor, me sentindo desajustada e incomodada, coçando a nuca e limpando as mãos suadas nas calças.

— Ei, está tudo bem? — Gabe pergunta me analisando estranhamente.

— Ah sim! Manhã cheia! — disfarço. Tem algo nele que mexe comigo, mas não sei definir se positivamente ou negativamente.

— Vocês estão sendo muito gentis ajudando as pessoas... — fala, acho que para puxar assunto e amenizar a tensão do clima denso que paira sobre nós.

— Não estamos fazendo nada admirável, apenas cumprindo com um dever de cidadãs.

— Tem razão, afinal, fazemos parte de um conjunto. A união faz a força.

— É exatamente assim que penso. Cada ação gera um efeito.

— Concordo, pena que nem sempre são bons...

— Depende — murmuro.

— Como? — indaga, não sei se porque de fato não me ouviu ou se está sendo irônico, já que Gwen e Margareth me alertaram que ele é extremamente sarcástico.

— Disse: depende — aumento meu tom de voz, mais confiante de expor minha opinião, e que se dane se ele não concordar. É válido trocarmos experiências, o que não implica em concordância. — Nem sempre o que vemos como uma coisa ruim, seja. Já ouviu o ditado que diz que há males que vem para o bem? Pois é. Eu sou a prova viva disso. Nos últimos meses vivi acontecimentos dolorosos os quais me lapidaram.

— Bom, não posso discordar totalmente de você, Diana, não é? — faço que sim me referindo ao meu nome. — Pois cada caso é um caso em particular. Mas no meu em especial, não vejo nada de bom em ter perdido os movimentos de meu corpo e isso tudo por conta de um bêbado que se dizia meu pai. — permaneço calada pensativa. — Desculpa falar sobre isso e dessa forma com você — prossegue visto que não respondo — Você não tem nada a ver com minha vida e não deveria ser tão azedo com minhas visitas. Perdão.

O Amor Na Balança ( Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora