9.

1.8K 176 32
                                    

Diana

Ainda não consigo acreditar que Gwen está mesmo aqui. Parece que estou sonhando, que a qualquer momento vou acordar e todo meu contentamento irá dissipar-se até o dia em que eu voltar a sonhar com ela de novo. É, de novo. Confesso que ela tem sido a dona dos meus sonhos e de todas as minhas fantasias sentimentais e sexuais. Por este motivo eu me afastei de todo mundo sem me despedir. Não suportarei mais ter que dizer adeus a mais uma pessoa que amo e decidi que o melhor para mim é me isolar e consequentemente evitar sofrimentos inevitáveis que advêm com os envolvimentos emocionais. Sim, eu amo Gwen. Só o amor pode despertar o melhor de nós e foi isso que ela fez comigo.

Contudo, ao vê-la vestida informalmente, ficando sensual sem se dar conta disso, com um visual despretensioso, a saudade e a paixão falaram mais alto dentro de mim, e eu deixei de lado a curiosidade de entender como ela soube que eu estou escondida aqui e por que exatamente ela veio me procurar...

Não que isso já não está meio que claro com o desejo que ela corresponde aos meus beijos cheios de energia. A pele branca e o cabelo vermelho de Gwen estão perfumados como um jardim na primavera e eu como uma reles humana encarnada não resisti em conectar nossos corpos e matar pelo menos 1/3 da saudade que estou dela. Nossas línguas conversando eufóricas me fazem esquecer de todas as promessas que fiz para mim mesma de não mais me entregar a ninguém para não sofrer com sua partida. Não posso mais lidar com a dor da perda porém também não consigo retirar minhas mãos da cintura farta e macia dela. Meus dedos estão formigando e nossos lábios parecem imãs que se recusam a se soltar.

Com muito custo, consigo controlar meu tesão, o fato da minha calcinha estar encharcada com o líquido lubrificante, a vontade colossal de chupar cada partícula do ser de Gwen e fazê-la minha, delirando enquanto entra e sai dos meus dedos e me afasto ofegante.

Ela me encara com um olhar decepcionado pois é visível que também está excitada tanto quanto eu.

- Oi? Parou por quê? Por que parou? - questiona confusa. - Eu fiz algo de errado? - seu olhar está perdido.

Pestanejo passando as mãos pelo cabelo. Preciso raciocinar.

- Não, não tem problema nenhum com você... É só que...

- Que o quê? Pelo amor de Deus Diana fala logo! Eu não enfrentei o inferno pra chegar até aqui e continuar lidando com suas indecisões - Gwen arfa visivelmente exausta das minhas atitudes. Não a culpo. Ela está certa de se sentir assim e diferente do que achei quando deixei Nashville sem nem ao menos acompanhar o enterro do meu pai é que ela merece uma explicação.

- Você tinha razão quando me disse que não devemos agir por emoção...

- Isto ficou no passado ok? Eu estava namorando o Aaron e você iria para a Europa. As coisas mudaram. Não são mais as mesmas. Até eu mudei.

- Está dizendo que você e o Aaron terminaram? - me surpreendo mas nem tanto. Isso explica porque ela me beijou sem pudores.

- Sim. Faz séculos... Você não me deu oportunidade de te contar. Estava tão cega na sua própria dor que só enxergava seu umbigo e pelo visto continua igual não é? - Gwen olha ao redor se referindo ao fato de eu ter me enfiado no meio do mato e não ter dado notícias a ninguém.

- Exatamente por isso você não deveria ter vindo atrás de mim! - esbravejo bufando. Ela não podia ter aparecido aqui e destruído meu plano de ficar sozinha com esses cabelos desgrenhados, essas bochechas rosadas e essa boca de fazer qualquer um perder a cabeça.

- Está me mandando embora pra quê? Pra ficar sozinha nesse fim de mundo alimentando seu vício em álcool, descontando suas frustrações na bebida, matando-se lentamente como se não existissem pessoas que te amam e se preocupam com você? Por Deus, que tipo de masoquista você é?

- A questão não é essa! Eu tenho consciência disso e por isso eu preciso ficar sozinha!

- Por favor Diana pode me fazer entender o que você quer dizer com isso?

- Não se dá conta? É meio óbvio não? Primeiro o homem que me criou que eu acreditava ser meu pai me abandonou como se eu fosse um nada, depois a April e minha mãe morrem, logo Geórgia e Alexia vão embora mesmo depois de eu ter feito as pazes com minha irmã e comigo mesma, e eu achei que a Alexia fosse minha amiga! E pra foder com o resto, depois de eu ter aceitado a ideia de eu ter outro pai biológico e ele finalmente ter conquistado meu carinho de filha, meu respeito, ele também morre! Porra! Deve ter um autor muito do filha da puta brincando com minha cara! Nem coragem tive de ver meu pai sendo enterrado! Eu sou uma merda de pessoa!

- Eu entendo sua dor e sua maneira complicada de lidar com ela, mas você também tem que entender que perder pessoas faz parte do processo de viver. Pessoas vem e vão, essa é a lei da vida. Nada é para sempre. Nada é eterno. Só temos que aproveitar os bons momentos ao lado delas e superar os ruins, mas nunca desistir porque temos medo de perdê-las em algum momento. Nada nos pertence de verdade Diana. Somos livres. Fazemos parte do universo e fluímos junto com ele. Além do mais, não perdemos de fato quem amamos. Se a afeição é verdadeira o tempo e a distância não os separa. É só uma questão de nos reencontrarmos. A morte não é o fim e o mundo não para de girar.

Seu discurso adentra meu cerne como uma faca afiada me comovendo e eu disparo a chorar. Choro tudo que reprimi nesses meses. Gwen se aproxima de mim e tenta me abraçar mas não deixo.

- Droga Gwen! Eu não quero te perder também! Eu sou uma desgraça de pessoa e todo mundo que se aproxima de mim morre ou me deixa... - desabafo.

- Você está enganada Diana. Você é uma das pessoas mais incríveis que já conheci - depois de muito esforço ela consegue segurar no meu pescoço com as duas mãos e me fazê-la encarar sem me dar espaço para fugir. - Eu só sinto vivacidade vindo de você, tanta que até tenho receio de não conseguir te acompanhar. Eu não posso e nem devo te fazer promessas porque não seria justo com você te garantir que nunca vou te deixar no estado de fragilidade em que você se encontra porque eu não tenho o controle de nada na minha vida, é provável que eu morra num acidente amanhã ou descubra que tenho câncer, mas são coisas que acontecem porque tem que acontecer e não porque escolhi. Eu só quero viver com você o hoje, o agora, aproveitar cada instante ao seu lado, entende? E mesmo que seja difícil eu quero que você se prepare caso tenhamos que nos separar amanhã... Porém não é certo com você mesma deixar de viver momentos maravilhosos porque tem medo da dor da perda. É algo que deve ser trabalhado e só vivendo para se desenvolver e aprender. Se isolar não é a solução. Entretanto, se essa for realmente sua vontade, eu vou respeitar sua decisão. É só o tempo de eu arrumar o carro e partir e você nunca mais vai saber de mim.

Fico em silêncio por alguns instantes assimilando as últimas palavras de Gwen. O que posso dizer? Ela tem razão não tem? Eu me agarrei a uma forma muito mais dolorosa de não lidar com as pessoas e os acontecimentos naturais da vida. Me fechar não é a resolução mais inteligente e amiga comigo mesma. Afinal, eu continuo sofrendo só que de uma forma diferente, então, não compensa viver tudo que a vida tem para me oferecer e aprender a dirigir e digerir a dor real quando ela chegar? Porque aqui e agora é meu próprio psicológico que está me torturando.

Suspiro fundo como uma cativa ganhando a liberdade depois de anos presa em si mesma. A resposta é sim. Vou me abrir para a vida, para o amor, e para as pessoas que amo, e com amanhã eu lido depois quando chegar a hora.

- Não é assim que você vai partir da minha vida - sussurro tomando-a novamente para mim com força pela cintura.

Gwen sorri e seu sorriso genuíno recheado de amor e paixão é o suficiente para destravar todas as partes que estavam fechadas dentro de mim.

O Amor Na Balança ( Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora