17.

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Tento bebericar o chá e consigo com certa dificuldade porque minhas mãos não param de tremer e consequentemente a xícara que seguro. Não estou só trêmula, mas ainda mais pálida que o natural e gelada como se tivesse levado um susto capaz de me causar um ataque cardíaco. Só Deus sabe como consegui chegar sã e salva em Nashville sem ter sofrido um trágico acidente na estrada vindo de Dillon. Que Diana me perdoe, mas por mais que eu seja mais evoluída que a maioria das pessoas para crer e compreender os mistérios espirituais, não tenho estômago para encará-la depois de saber que fomos irmãs em vidas passadas e que principalmente eu fui racista nesta existência em questão.

Dona Missouri me fita com o olhar enigmático de quem sempre sabe de tudo e só revela o necessário, enquanto bebe o chá calmante que ela mesma preparou assim que eu cheguei dominada por um estado de nervos desequilibrado. Por sorte ela está sozinha na casa. Pelo que soube, com a ajuda da clarividente, Alexia está se sentindo muito melhor para realizar algumas atividades desde que estas não sejam as que requerem força física, graças a meditações e algumas ervas especiais preparadas pelas mãos talentosas da bruxa, e basicamente uma conversa digamos mais direta com os próprios bebês, sim, pelo que Dona Missouri me colocou a par, Alexia tem dialogado com os espíritos de Corinne e Charles em seu ventre, e estes tem milagrosamente se acalmado. Então, minha chefe voltou com seus afazeres de empresária no ramo de Sex Shop, e Geórgia também tem refeito sua vida profissional, retornando ao estabelecimento de Bárbara para ministrar aulas de BDSM. A vida delas está estável dentro das possibilidades. Vicky a essa hora está na escola e podemos ficar à vontade sozinhas.

— Está se sentindo melhor? — ela questiona com sua mania irritante de nos analisar e conseguir ler nossa alma.

— Menos ansiosa, obrigada — respondo sendo totalmente sincera.

— Não vai me dizer que você e a Diana já brigaram? Alexia me disse que vocês estavam vivendo uma espécie de lua de mel na cabana — abre um sorrisinho insinuante.

— Mais ou menos. Não foi bemmmm uma briga, ok?

— Então? — incentiva.

— Certo, — ponho a xícara e o pires em cima da mesinha de centro e seco minhas mãos suadas na minha calça. — Não vou fazer rodeios. A verdade é que quem fugiu dela dessa vez fui eu.

— Mas por que minha querida? — não sei dizer se seu tom foi irônico ou de fato curioso.

— Eu não faço a mínima ideia do porquê isso aconteceu, mas eu tive um sonho em que lembrei partes relevantes de uma reencarnação passada — ressalto didática, embora saiba que a leiga aqui sou eu.

— Ah, oh, nossa. Deveria se sentir privilegiada porque raros são os que conseguem ou podem se lembrar das vidas passadas...

— Não vejo como uma benção e sim mais como uma maldição. O que vi vai me atrapalhar literalmente... — replico estressada.

— É como acabei de dizer, se você lembrou é porque o universo quer que você aprenda ou reveja algo com isto.

— Dona Missouri — bufo alterada com sua paciência exagerada. — Diana era minha irmã e eu matei a minha irmã porque era racista! Sou uma assassina...

— Foi — sou corrigida e levanto as sobrancelhas confusa. — Você foi uma assassina. Estamos falando do passado, ele não existe mais, Gwen. Não devemos ser julgados pelo que fizemos mas pelo que somos no presente. E me diga, tem mesmo certeza que foi você que matou a versão anterior da Diana?

— Como assim? Foi o que vi.

— Nossa mente pode nos enganar.

— Eu não estou te entendendo Dona Missouri — reviro os olhos.

O Amor Na Balança ( Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora