c h a p t e r n i n e - mundo invertido

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c a p í t u l o   n o v e

Sweet shot of kerosene
When I threw it back, it poisoned me

Quando eu era pequena, mamãe sempre parava para contar historinhas que ela mesma escrevia

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Quando eu era pequena, mamãe sempre parava para contar historinhas que ela mesma escrevia. Eu e Chris adorávamos ouvir as aventuras do Repolho e o Tomate, dois personagens que tinham várias das nossas características. Mas o conto da mamãe que mas me marcou foi provavelmente o do monge e a paz eterna.

Havia na história um monge, que se isolou para tentar alcançar a paz eterna. No alto de uma montanha de difícil acesso, insistindo que de lá teria a visão do paraíso, levando consigo apenas um pouco de comida. Já com uma idade avançada, de espírito limpo, não tinha muito o que temer. Então, saiu do mosteiro sem dizer a ninguém, deixando apenas um bilhete enfatizando que a plenitude seria seu lar. O mesmo demorou meses, se não anos, para conseguir chegar ao topo da grande montanha, na verdade, ninguém sabe ao certo, porque só encontraram seus restos lá em cima. A lenda contava que seu objetivo era alcançar a paz eterna, mas ele alcançou apenas a escassez, a fome e a solidão. Porém, muito que depois, o monge chegou no topo e pode observar lá de cima toda a terra, todas as flores, e o por do sol mais bonito que já se pode ver. E aquilo, provavelmente, foi a sua eterna gratidão para com o mundo.

O que minha mãe nos fez tirar da história e levar para sempre em nossos corações, foi a força de vontade. Porque se aquele velhinho tivesse desistido e voltado, nunca teria a sua tão sonhada paz. Do mesmo modo, se não colocássemos um objetivo na frente de tudo, íamos perder o rumo e acabar desistindo.

O objetivo dela era sempre nos fazer refletir, e encarar a vida como uma grande aventura. E era divertido, mais pra mim do que para Chris, que conforme cresceu, acabou odiando ficar ouvindo essas coisas de criança. Mas foram esses momentos que me fizeram criar um grande apreço pela literatura. Ter a imagem de uma mãe escritora nas horas vagas foi de longe uma das melhores coisas na minha vida.

Tentando me manter desperta, fiquei relembrando de todas as histórias de dona Clara, enquanto Camila fazia curvas e mais curvas de volta a cidade quente e movimentada. O tempo parecia que iria fechar, o calor era claustrofóbico.

— Segura firme, Lauren! — A voz abafada da garota me fez despertar.

Eu não entendi o porquê de segurar firme, sendo que meu aperto em sua cintura já estava preso o suficiente, eu não cairia se continuassemos naquele ritmo.

— O que? Por que? — Gritei de volta, tentando olhar a estrada por cima de seus ombros, mas seus cabelos atrapalhavam o mínimo de visão que eu tinha naquele momento.

Não estávamos tão longe assim de Miami, aquela em que estávamos era uma prainha quase deserta a alguns quilômetros de uma das melhores praias dos estados unidos. Portanto, já entre 20 a 30 minutos de estrada, estávamos bem perto. Apertei meus braços em torno de sua cintura por reflexo e ela, compulsivamente, ficava tentando olhar pra trás. Por fim, Camila voltou a falar.

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