— Jace, não posso mais ficar aqui – Reclamou Clarissa, andando em direção ao elevador que descia para a entrada do Instituto. Jace a acompanhava, mantendo o mesmo ritmo demorado que ela usava para tardar sua despedida. — Você sabe o que minha mãe pensa quando fico aqui até depois das dez horas.
Ele apertou o botão vermelho do painel, e a porta do elevador abriu ruidosamente. Entraram, e Clary clicou rapidamente no número um.
As sobrancelhas dele saltaram, arqueadas em sua testa.
— Não sabia que minha companhia a deixava com vontade de ir embora. – Disse surpreso.
— E agora você está sendo dramático.
Um sorriso escapou dos lábios de Jace e Clary o abraçou, sentindo seu coração por entre as vestimentas de Caçador de Sombra. As compassadas do batimento de Jace a acalmavam, deixando tudo em câmera lenta. Como se os dois juntos pudessem parar o tempo momentaneamente, e viver naquele abraço para sempre.
Na entrada do instituto, os dois olhavam as estrelas no céu. Respirando fundo, Clary percebeu que algumas brilhavam mais que as outras. Talvez funcione assim com nós dois, pensou. Talvez seja assim que os Anjos nos diferenciam do resto dos Caçadores.
Aceitar que os dois tinham mais sangue de anjo do que o normal, e que de alguma forma eram tão especiais quanto o resto de sua comunidade deixava Clary ansiosa. Na maioria das vezes, grandes poderes vinham com grandes responsabilidades.
— Eu te amo – Clary sussurrou para si mesma, desviando a atenção das estrelas para Jace, logo ao seu lado.
— Disse alguma coisa? – Ele indagou, agora olhando em seus olhos.
— A noite... – Relatou — Está linda. – A luz da lua crescente projetava um brilho em Jace que talvez só ela pudesse ver. Suas feições ficavam mais firmes e marcantes, como uma escultura de um Deus em alguma exposição num museu sobre a Grécia Antiga. Apesar de ter omitido sobre o que disse antes, não deixava de ser verdade. Só não era o momento certo.
— Por que ta me olhando desse jeito? – Ele perguntou.
— Você está especialmente bonito hoje – Expressou Clary — Talvez eu o pinte quando chegar em casa.
— Se é assim, talvez queira ficar na minha lateral esquerda, é o meu melhor lado.
— Há-ah – Ela desdenhou.
De alguma forma a super-confiança de Jace sempre a deixava com um bom humor, mesmo que não quisesse evidenciar isso a toda a hora. Se fosse outro homem, talvez sentisse repulsa. Para ela, confiança exagerada significava na maioria das vezes insegurança; apesar de isso estranhamente não se aplicar de forma alguma à Jace.
— E Alec? – Clary questionou pensativa — Ainda viajando?
— Graças a Deus que sim – Seu semblante mudou repentinamente — Não aguentava mais aqueles dois se paparicando pelo instituto inteiro. – Jace se referia a Alec e Magnus dessa forma, pois não gostava do casal. Isabelle acusou Jace de ciúmes por Alec depois de Jace ter falado mal sobre o novo namorado de Izzy, que por sinal fazia parte do Submundo. Mas, após muita discussão, o assunto não é mais mencionado.
— Não fale assim do seu irmão. – Ela disse, complacente.
— Meu problema não é o Alec! – Seu tom de voz subiu duas oitavas, e algo naquela frase a fez pensar que talvez existisse mais do que ele estava demonstrando em relação a Alec.
Clary, agora de frente para Jace, passou a mão em seus cabelos prendendo os dedos entre as suas mechas enquanto a outra mão pousava suavemente contra a pele macia do rosto dele.
Os dois ficaram ali se encarando indeterminadamente, sentindo a respiração do outro se sobrepor ao vento congelante que vinha do Norte e bagunçava os cabelos ondulados de Clary. Estavam cada vez mais próximos, como se a gravidade os estivesse puxando para perto.
O celular de Jace tocou, o barulho mais parecido com um sino de igreja dos anos 80 fez Jace acordar do torpor e endireitar o corpo. Clary, agora tímida, se afastou sentindo suas bochechas arderem de calor, mesmo no frio da noite de Nova York. Já se fazia semanas que os dois estavam namorando, e beijar Jace para ela ainda era desconfortável. Só de imaginar que não muito tempo atrás Valentim tinha posto na cabeça de Clary que dividiam o mesmo sangue e que eram irmãos... Fazia o seu estômago revirar.
— Não vai atender? – Ela perguntou curiosa para saber quem era.
— Assim que você virar a esquina em segurança – Respondeu brincalhão.
Clary, fingindo um abraço em Jace, o roubou o celular do bolso esquerdo da calça marrom e reconheceu o número no celular de Jace.
— Alec, é ele – Disse — Não vai atender mesmo?
— Como você? – Surpreso, Jace tirou o celular da mão de Clary mais rápido que um bote de uma cobra. Analisou o número e confirmou que era Alec — Bom, tarde demais. – Mostrou o celular de volta para a namorada — A ligação caiu.
— Acho que agora posso ir em segurança – Ela brincou de volta.
— Vá pela sombra – Ele respondeu sarcástico. Era tarde da noite, não existia sol.
— Se você fosse tão bonito quanto engraçado talvez tivesse uma chance.
— Uma chance?
— De ter seu celular de volta. – Clary pegou da mão de Jace o aparelho retangular e guardou no bolso da calça que vestia. Mostrou a língua — Até mais tarde, bobinho.
— Clary! – Gritou exasperado — Eu sou bonito! – Mas já era tarde demais, Clary tinha virado a esquina em plenos pulmões, correndo com a agilidade de um gato selvagem nas ruas de Manhattan.
O quarto de Jace era extremamente limpo e arrumado; minimalista até nas coisas simples da decoração. Parado na entrada conteve um suspiro. Apesar de não querer admitir, sentia falta de Alexander. Desde a infância, quando foi adotado pelos Lightwood e iniciou finalmente seu treinamento para se tornar um Shadowhunter, Alexander foi seu primeiro e único amigo. Apesar de Izzy sempre estar por perto, nunca foi tão íntima quanto Alec.
Flashback
— Alexander Gideon Lightwood – Jace disse, no passado. No anel de fogo, as chamas dançavam ao som da crepitação que o calor exercia em contato com o assoalho do Instituto.
— Jonathan Lightwood – Alec proferiu, conforme se aproximava da linha coberta por chamas — Suplique-me para não deixar-te, ou que volte de seguir-te;
Jace, agora cruzando o círculo de fogo, enunciava as palavras enquanto sacava lentamente do bolso sua Estela.
— Para onde quer que fores, eu irei, e onde ficares eu ficarei; – Seus olhos ardiam, refletindo a claridade que vinha do chão. Alexander era a única coisa que Jace via a sua frente, apesar de existir uma plateia os observando, como num jogo de futebol.
— Seu povo será meu povo, e seu Deus será meu Deus, onde quer que morras morrerei eu; – Alec continuou, aproximando-se de Jace. Os dois estavam a poucos passos de distância um do outro.
— e ali serei sepultado.
Estavam quase no fim do juramento de Parabatai. Ali, no centro das atenções, Alexander controlava seus nervos e tentava se acalmar mantendo contato visual com Jace; que parecia tão leve quanto um anjo flutuando, sendo sustentado por um par de asas divinas. O fogo ao redor dos dois agora triplicava de tamanho e intensidade, chegando à altura dos ombros de Jace.
— Faça-me assim o Anjo – Jace prosseguiu confiante como se fosse só mais um dia comum na sala de treinamento — E outro tanto;
— se outra coisa que não a morte me separar de ti.
Enfim terminado, aplicaram um no outro a runa Parabatai. A ardência da Estela queimando a pele fez os dois estremecerem, mas de forma alguma perderam a compostura em frente à Clave naquele dia. Jace sorriu triunfante para Alec quando o anel flamejante como num sopro de um gigante se dissipou, deixando uma marca queimada na madeira escura que cobria a superfície, e dando assim, o final da cerimônia.
Continua...
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One Shot's Os Instrumentos Mortais
Ficción GeneralEste livro é um conglomerado de one shot's originais da saga Instrumentos Mortais da autora Cassandra Clare. Várias histórias separadas de um só capítulo (ou mais) retratando os relacionamentos dentro da saga sejam eles "reais" ou não. Alerta: Cont...