Simon sentiu sua voz voltar, como um turbilhão de pensamentos repentinos invadindo e tomando forma no final de sua garganta. A única palavra que saiu foi a primeira que veio a sua mente quando tudo isso começou: — Não!
— Então está decidido – Seu tom era final. Seus olhos negros de repente ganharam vida, da forma que só faziam quando estava prestes a atacar — Ele se recusa a ficar. – Raphael o olhava com satisfação, seu plano tinha dado certo.
— Simon... – Clary estava em uma mistura de choque e surpresa pelo amigo ter escolhido o outro. Parecia prestes a chorar quando Luke interveio.
— Clary, não. Deixe-o ir. – Luke sabia da necessidade de ter mais números contra Valentim, e Raphael não estava totalmente errado. Apesar de não confiar nele, Simon estava mais seguro ao lado de seu mestre. — É melhor assim. – Disse pesaroso.
Tão rápido quanto veio, Raphael se foi, deixando um rastro de espaço aberto por meio da multidão. Apesar de ainda ser uma projeção e não poder tocar em ninguém, as pessoas abriam espaço para que passasse, com medo de serem esbarradas com tamanha velocidade que seguia caminho afora. Simon o acompanhou mantendo a cabeça abaixada enquanto seguia a trilha de espaço vazio entre os Caçadores de Sombras e os Membros do Submundo. Perdido nos próprios pensamentos, sentia o olhar de Clary pesar suas costas.
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Fora do alcance de Alicante, os dois disparavam sorrateiramente entre as árvores altas da floresta que guardava a Cidade de Vidro. Simon não encontrou problemas em manter o passo ao lado de seu criador. Se tivesse uma coisa da qual podia se gabar, era a rapidez sobre-humana.
Chegaram a uma bifurcação, onde a placa descrevia que pela direita poderiam voltar à civilização, e pela esquerda regressariam de onde vieram.
— Tire suas roupas – Raphael ordenou.
— O que?
— Exatamente o que ouviu, Diurno. – Seu tom parecia levemente tedioso — Não vai querer ser confundido com um caçador de sombras quando passar pelo portal.
— Que portal? – Simon indagou já tirando o uniforme que Clary tinha emprestado, de Alec. Era o único que cabia no porte físico de Simon.
— A placa – Disse Raphael — Você precisa atravessar a placa.
— E você? – Indagou confuso.
— Não se preocupe, vou estar do outro lado te esperando. – Avisou — Dessa vez você não vai escapar de mim. – Apesar do medo que Raphael tentava transpassar sempre que abria a boca, Simon não podia reclamar da forma como o vampiro fazia de tudo para tê-lo.
Lá no fundo, Simon gostava de ser requisitado.
Despiu-se completamente, ficando só com a cueca preta e seus antigos óculos de grau. Raphael o observava, de cima a baixo. Depois de renascer, seus músculos tinham ficado maiores, e agora o tinha transformado num tipo de nerd vampiro super-gostoso.
— Pra que isso? – Raphael apontou para os óculos.
— Gosto de usar, não me sinto eu mesmo sem eles. – Simon disse, constrangido.
Raphael deu de ombros e sumiu; a forma corpórea se dissipando como fumaça de cigarro, subindo em aspirais em direção às nuvens do céu limpo e quente. Simon ficou só, enquanto se preparava para eventualmente dar de cara com uma placa dura e fria de metal. Pegou distância do objeto e correu em direção ao portal, com os olhos fechados.
Assim que seus pés perderam contato com o chão, sentiu como se estivesse entrado num buraco negro, onde fora jogado para todos os lados até enfim cair de cara em uma superfície dura; sem pedras ou mato como o solo da floresta. Abriu os olhos finalmente e olhou em volta.
Apesar do baque repentino seu corpo não dera indícios de dor, ainda que sua visão girasse conforme se acostumava com o novo ambiente.
Estava num quarto gigante, pôde notar. A cama era três vezes maior do que a cama de seus pais, e existia um gato logo a sua frente, o observando enquanto abanava seu rabo.
— Perceu – O som da voz de Raphael o despertou do torpor — Não perturbe meu convidado.
— O que estou fazendo aqui? – Simon perguntou, recuperando o equilíbrio.
— Você é meu agora – O gato saía do quarto pela porta entre aberta. A pelugem preta e os olhos verdes afiados eram familiares de alguma forma. Houve um barulho estranho assim que o animal sumiu atrás da entrada, e em seguida ouviu-se passos humanos descendo degraus de uma escadaria. — Não que antes não fosse. Sou seu criador, afinal.
— E o que você realmente quer, Raphael? Não tente me enganar. – O tom da voz de Simon parecia determinado. — Se está me prendendo aqui, deve existir um motivo.
— Cuidado com o seu tom – Raphael apareceu atrás de Simon, tão rápido que Simon se assustou. — Geralmente não permito que falem assim comigo. Mas... Sim, existe um motivo.
Apesar do sol em Alicante, a lua cheia no céu vazava pela janela frontal do quarto, junto com as luzes da cidade.
Simon se virou para Raphael.
— Seu sangue – Ele disse, agora olhando nos olhos de sua cria. — Seu sangue é especial, Simon. Por isso o trouxe para cá. Se qualquer membro do submundo por as mãos em você — seus dedos deslizaram pela bochecha, parando no fim do queixo definido de Simon — e tomar seu sangue até a última gota, seria o começo de uma nova era, imagino.
— E por que devo confiar em você?
— Porque, Simon Lewis Santiago II, eu amo você.
Continua...
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One Shot's Os Instrumentos Mortais
Genel KurguEste livro é um conglomerado de one shot's originais da saga Instrumentos Mortais da autora Cassandra Clare. Várias histórias separadas de um só capítulo (ou mais) retratando os relacionamentos dentro da saga sejam eles "reais" ou não. Alerta: Cont...