Simon e Raphael: A Verdade Por Trás do Desejo - Continuação

240 18 8
                                    

Simon sentiu sua voz voltar, como um turbilhão de pensamentos repentinos invadindo e tomando forma no final de sua garganta. A única palavra que saiu foi a primeira que veio a sua mente quando tudo isso começou: — Não!

— Então está decidido – Seu tom era final. Seus olhos negros de repente ganharam vida, da forma que só faziam quando estava prestes a atacar — Ele se recusa a ficar. – Raphael o olhava com satisfação, seu plano tinha dado certo.

— Simon... – Clary estava em uma mistura de choque e surpresa pelo amigo ter escolhido o outro. Parecia prestes a chorar quando Luke interveio.

— Clary, não. Deixe-o ir. – Luke sabia da necessidade de ter mais números contra Valentim, e Raphael não estava totalmente errado. Apesar de não confiar nele, Simon estava mais seguro ao lado de seu mestre. — É melhor assim. – Disse pesaroso.

Tão rápido quanto veio, Raphael se foi, deixando um rastro de espaço aberto por meio da multidão. Apesar de ainda ser uma projeção e não poder tocar em ninguém, as pessoas abriam espaço para que passasse, com medo de serem esbarradas com tamanha velocidade que seguia caminho afora. Simon o acompanhou mantendo a cabeça abaixada enquanto seguia a trilha de espaço vazio entre os Caçadores de Sombras e os Membros do Submundo. Perdido nos próprios pensamentos, sentia o olhar de Clary pesar suas costas.


***********************


Fora do alcance de Alicante, os dois disparavam sorrateiramente entre as árvores altas da floresta que guardava a Cidade de Vidro. Simon não encontrou problemas em manter o passo ao lado de seu criador. Se tivesse uma coisa da qual podia se gabar, era a rapidez sobre-humana.

Chegaram a uma bifurcação, onde a placa descrevia que pela direita poderiam voltar à civilização, e pela esquerda regressariam de onde vieram.

— Tire suas roupas – Raphael ordenou.

— O que?

— Exatamente o que ouviu, Diurno. – Seu tom parecia levemente tedioso — Não vai querer ser confundido com um caçador de sombras quando passar pelo portal.

— Que portal? – Simon indagou já tirando o uniforme que Clary tinha emprestado, de Alec. Era o único que cabia no porte físico de Simon.

— A placa – Disse Raphael — Você precisa atravessar a placa.

— E você? – Indagou confuso.

— Não se preocupe, vou estar do outro lado te esperando. – Avisou — Dessa vez você não vai escapar de mim. – Apesar do medo que Raphael tentava transpassar sempre que abria a boca, Simon não podia reclamar da forma como o vampiro fazia de tudo para tê-lo.

Lá no fundo, Simon gostava de ser requisitado.

Despiu-se completamente, ficando só com a cueca preta e seus antigos óculos de grau. Raphael o observava, de cima a baixo. Depois de renascer, seus músculos tinham ficado maiores, e agora o tinha transformado num tipo de nerd vampiro super-gostoso.

— Pra que isso? – Raphael apontou para os óculos.

— Gosto de usar, não me sinto eu mesmo sem eles. – Simon disse, constrangido.

Raphael deu de ombros e sumiu; a forma corpórea se dissipando como fumaça de cigarro, subindo em aspirais em direção às nuvens do céu limpo e quente. Simon ficou só, enquanto se preparava para eventualmente dar de cara com uma placa dura e fria de metal. Pegou distância do objeto e correu em direção ao portal, com os olhos fechados.

Assim que seus pés perderam contato com o chão, sentiu como se estivesse entrado num buraco negro, onde fora jogado para todos os lados até enfim cair de cara em uma superfície dura; sem pedras ou mato como o solo da floresta. Abriu os olhos finalmente e olhou em volta.

Apesar do baque repentino seu corpo não dera indícios de dor, ainda que sua visão girasse conforme se acostumava com o novo ambiente. 

Estava num quarto gigante, pôde notar. A cama era três vezes maior do que a cama de seus pais, e existia um gato logo a sua frente, o observando enquanto abanava seu rabo.

— Perceu – O som da voz de Raphael o despertou do torpor — Não perturbe meu convidado.

— O que estou fazendo aqui? – Simon perguntou, recuperando o equilíbrio.

— Você é meu agora – O gato saía do quarto pela porta entre aberta. A pelugem preta e os olhos verdes afiados eram familiares de alguma forma. Houve um barulho estranho assim que o animal sumiu atrás da entrada, e em seguida ouviu-se passos humanos descendo degraus de uma escadaria. — Não que antes não fosse. Sou seu criador, afinal.

— E o que você realmente quer, Raphael? Não tente me enganar. – O tom da voz de Simon parecia determinado. — Se está me prendendo aqui, deve existir um motivo.

— Cuidado com o seu tom – Raphael apareceu atrás de Simon, tão rápido que Simon se assustou. — Geralmente não permito que falem assim comigo. Mas... Sim, existe um motivo.

Apesar do sol em Alicante, a lua cheia no céu vazava pela janela frontal do quarto, junto com as luzes da cidade.

Simon se virou para Raphael.

— Seu sangue – Ele disse, agora olhando nos olhos de sua cria. — Seu sangue é especial, Simon. Por isso o trouxe para cá. Se qualquer membro do submundo por as mãos em você — seus dedos deslizaram pela bochecha, parando no fim do queixo definido de Simon — e tomar seu sangue até a última gota, seria o começo de uma nova era, imagino.

— E por que devo confiar em você?

— Porque, Simon Lewis Santiago II, eu amo você. 

Continua...

One Shot's Os Instrumentos MortaisOnde histórias criam vida. Descubra agora