1 - Chaves

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  Elizabeth bocejou. Mal conseguia entender as palavras da Sra. Hellterf, e seus olhos estavam quase fechados. Devia ter cochilado uma vez ou outra, porque não se lembrava de como a professora chegara naquele assunto. Estava com tanto sono que não conseguia pensar direito, e a única culpada por isso era ela mesma, que passara a noite inteira lendo assuntos aleatórios na internet. Não era do seu interesse saber sobre a classificação dos seres vivos ou seja lá o que a professora de biologia estava falando, queria apenas ir para casa e dormir.

O barulho do sinal e do arrastar de mesas e cadeiras despertaram-na, e ela se perguntou se havia dormido ou não. Levantou-se e passou a alça da mochila em um dos ombros, saindo da sala em seguida, não deixando de reparar no olhar irritado da Sra. Hellterf para ela.

Enquanto atravessava os corredores e descia as escadas da escola, percebeu o quanto sua mochila estava pesada e passou a alça para o outro ombro, para equilibrar o peso, e seguiu para os portões da saída. Esbarrou em cinco ou seis alunos antes de finalmente ver o céu nublado e escuro do lado de fora.

Sentiu o frio costumeiro das tardes de outono quando adentrou as ruas ziguezagueadas de Verweef. Abraçou-se tentando se aquecer, se xingando mentalmente por não ter aceito o casaco que sua tia oferecera antes de sair para a escola.

As ruas até sua casa eram tranquilas, raramente via-se carros por ali e os pedestres eram dois ou três. Em outros momentos ela agradeceria por isso, mas agora estava com tanto medo de ser assaltada que guardou os fones de ouvido na mochila e torceu para que alguém aparecesse na rua deserta.

Lizzy suspirou ao ver a casa de seus tios no final da rua. Era grande e bonita, com um ar rústico típico da cidade, mas sentia falta de sua casa antiga, a casa de sua mãe que pegara fogo. Por mais confortável que se sentisse na casa em que morava, ainda não era seu lar.

Atravessou o jardim da casa à passos largos, com o vento batendo nos cabelos. Queria prendê-los em um coque, mas ainda estavam curtos demais para isso. Colocou a mochila no chão e se curvou para procurar as chaves, enfiando a mão no bolso da frente, o menor, onde costumava guardá-las, mas só encontrou papéis de balas vazios. Então procurou nos outros bolsos, mas nem sinal das malditas chaves.

Xingou em voz alta. Podia ter esquecido aquelas chaves em todos os outros dias da semana, quando podia facilmente ter atravessado a rua e pedir ao seu tio a dele, mas tinha de esquecê-las justo hoje? Kate e Michael, os tios de Lizzy, tinham viajado de manhã e deixado a casa para ela durante o feriado prolongado da cidade.

Lizzy atravessou a varanda e desembaçou a janela ampla da sala, não viu nem sinal das chaves, só seus cachorros dormindo no sofá e a televisão que ela esquecera ligada. Ela devia ter esquecido as chaves em algum outro lugar.

Não, Lizzy não as esquecera. Sabia disso. Lembrava-se de colocá-las dentro da mochila, no bolso da frente.

Voltou até a porta, pegou o celular e se levantou, com a mochila escorada nas canelas. Viu que tinha cinco chamadas perdidas do tio e franziu o cenho. Michael raramente mexia no celular e, por isso, nunca ligava para ela. Lizzy sabia que tinha que retornar a ligação, e quase retornou, mas um trovão ressoou no céu, fazendo-a estremecer. Não podia ficar do lado de fora de casa e tomar chuva, seus cadernos e seu notebook molhariam.

Discou rapidamente o número de Catlyn e colocou o celular rente ao ouvido.

— Alô? — A voz da amiga soou do outro lado. No fundo, Lizzy ouviu o som da chuva.

— Caty, posso dormir aí hoje? — Perguntou, direta.

Houve um silêncio do outro lado da linha, e Lizzy conferiu se a ligação não caíra. Mas a voz de Caty disse:

Efeito BorboletaOnde histórias criam vida. Descubra agora