3 - Ignorada

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  O celular pendia de sua mão, com a tela para cima, iluminando o teto escuro do quarto enquanto a música saía baixa dos fones de ouvido.

  Nos trinta primeiros minutos, Elizabeth sentira-se ansiosa, esperando que o tal Caesar retornasse as ligações, mas agora já perdera as esperanças, não sabia o que esperava. Ligara três vezes para o número, e até chegara a pensar que estava ligando para o telefone errado, mas na quarta vez, uma voz disse:

  — Oi, parece que no momento eu não posso atender. Deixe seu recado que será completamente ignorado após o sinal. — Era a voz dele, isso ela se lembrava.

  Ela resolveu deixar um recado na quinta vez em que ligou.

  — Oi, é... Aqui é a Lizzy, a garota que você emprestou o casaco. Preciso falar com você pra devolver. Por favor, dá pra retornar o mais rápido possível?

  Mas isso tinha sido há mais de uma hora, e o celular não tocara nenhuma vez. Bem, tocou, mas era só algumas notificações bobas de alguns aplicativos e um e-mail. Ela excluíra a notificação do Instagram e abriu o e-mail; uma mensagem pequena e fofa de aniversário de seu tio Laos, a qual ela respondeu com um "Obrigada, tio" e um emoji de coração.

  Quando West Coast da Lana Del Rey começou a tocar foi quando finalmente se mexeu — e percebeu que Caty dormia ao seu lado, com a cabeça virada para o outro lado da cama —, apenas para trocar a música por outra da mesma cantora —Bartender —, e voltou a encarar o teto, com os olhos fechados e a mente inebriada de sono e cansaço.

  Não se lembrava de ter dormido, mas o despertador a acordou na melhor parte do sonho.

  Resmungando, Elizabeth pegou o celular e clicou no modo soneca mecanicamente. Virou-se para o lado e tentou dormir de novo, na esperança de continuar o sonho. Quando finalmente cochilava, o despertador tocou de novo. O toque era sua música favorita, mas passara a odiá-la desde que a colocara de alarme.

  Quase colocou o celular em modo soneca de novo, mas um pé bateu em seu rosto, com um dedo bem em seu olho, despertando-a totalmente.

  — Aiii — gritou, esfregando o olho e se sentando na cama.

  — O que foi? — A voz sonolenta de Caty perguntou.

  — Enfiou o pé no meu olho.

  — Deixa eu ver.

  Os olhos de Lizzy ainda estavam fechados e o direito lacrimejava, mas ela sentiu quando duas mãos passaram pelo rosto dela e tentaram abri-los.

  — Deixa eu veeer — insistiu Caty.

  — Não, tá doendo. Vou no banheiro lavar.

  Caty ainda insistiu que ela a deixasse soprar, mas Lizzy apenas pegou seu celular e foi para o corredor, tateando em busca da porta do banheiro. Quando a encontrou, entrou e acendeu a luz.

  Lizzy encontrou a torneira e abriu-a, lavando o rosto com a água gelada. Abriu e fechou os olhos até que eles se acostumassem com a luz clara, então viu no espelho o quão vermelho o olho direito estava. Lavou-o também, mesmo que a sensação da água no olho fosse agoniante, e quando terminou ele já ardia menos.

  Penteou seus cabelos com as mãos, já que não havia trago um pente, e percebeu que as pontas estavam precisando urgentemente de um corte. Percebeu, com um murmúrio de decepção, que uma espinha crescia bem em cima de seu nariz. Limpou a maquiagem borrada sob os olhos com um algodão e saiu, se sentindo incomodada por não ter escovado os dentes e nem tomado banho.

  Quando ela chegou na cozinha, Caty já tomava café enquanto assistia um filme qualquer na televisão, vestindo seu uniforme, o cabelo roxo com rosa e azul preso em um rabo de cavalo.

Efeito BorboletaOnde histórias criam vida. Descubra agora