Capítulo 27

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Rye, horas depois

Siberia abriu a porta e colocou as malas para dentro. Seu apartamento estava como da última vez: as cortinas escuras fechadas no canto da sala; o controle da televisão acima do sofá; o pacote de lenços na mesa do fundo.

O apê se encontrava perfeitamente normal, intocado, como se ela nunca tivesse saído. Talvez fosse melhor assim. Talvez, se olhasse ao redor, Lindell conseguiria fingir que, de fato, nunca fora para Winchester... Que Scotland Yard era só um jogo de tabuleiro.

A menina queria apagar os últimos meses da memória. Não faria bem algum pensar no necromante, em Dupin, em Logan Strauss...

Logan.

Logan.

Em breve, ele se tornaria só mais uma cicatriz. Só mais alguém que desistiu de Siberia assim que teve a chance. Por que não desistiria? Ela era quebrada, traumatizada, amaldiçoada... Sibs desistiria de si mesma se pudesse. Ela era complicada e sombria demais. Não era o tipo de pessoa que as outras gostavam – nunca seria.

Sentou-se no sofá, com o coração apertado, e abraçou os joelhos. Seus olhos se encheram de lágrimas e, naquele momento, tudo o que ela conseguia pensar era que voltaria a ser Madame Viviette – a ice queen, a abominável mulher das neves.

Era melhor assim... Para todos.

Esqueceria as investigações, seus colegas de Winchester, Dupin...

E esqueceria Logan Strauss.

Logan e sua barba por fazer.

Logan e seus olhos castanhos-esverdeados.

Logan e como ele pronunciava seu nome:

"Siberia".

"Sibs".

"Lindinha".

"Eu te amo".

A médium afundou o rosto nas pernas, magoada, e repetiu um mantra para si mesma: esqueça. Esqueça. ESQUEÇA!


Rye, dia 1


O gosto doce permanecia em sua boca.

Siberia piscou algumas vezes, antes de abrir os olhos, e reparou que a garrafa de vinho ainda estava em sua mão. Levou o Merlot aos lábios, na esperança de beber mais do líquido, mas nenhuma gota caiu – a garrafa estava vazia.

Resmungou, pensando que teria que ir à delicatéssem comprar mais uma, e se sentiu ridícula. Merda. Era esse o tipo de pessoa que queria ser? O tipo que bebe para esquecer os problemas? Bom, Sibs pensava, não era como se tivesse muita escolha...

Na noite anterior, seu peito doeu e seus olhos lacrimejaram tanto que não viu escapatória. Precisava afogar toda a sua tristeza e autopiedade. Odiava quando estava perto de sentir alguma coisa. Odiava mais que tudo.

Sentou-se na cama, incomodada com a dor de cabeça, e olhou para suas malas – estavam abertas, com as roupas jogadas de qualquer jeito. No meio da confusão, havia um pequeno souvenir... O gato chinês da sorte.

"- Trouxe para você. – Logan lançou o gato chinês para ela. Siberia pegou no ar. – Fique com ele. Eu sei que você gosta."

...

"- Se lembre de que há um detetive, a quilômetros de distância, que te ama muito."

Os olhos da mocinha se encheram d'água e ela decidiu que compraria mais um Merlot. Dessa vez, no entanto, também compraria garrafas de Jose Cuervo, Carling, Guiness, Bud Light...

Caçadora de CorposOnde histórias criam vida. Descubra agora