Hoje meu dia começou cedo, acordei 5 horas da manhã e tomei um banho rápido só para despertar. Estava friozinho e enquanto me trocava liguei a cafeteira. Apesar do frio, decidi usar um vestido azul, pois hoje eu ia para a reunião que mudaria toda minha vida. Tomei uma xícara de café preto antes de sair de casa para não me atrasar, fiz uma maquiagem leve e amarrei o cabelo em um rabo de cavalo. Às 7 horas eu já estava no metrô.
O prédio da empresa ficava duas quadras abaixo da estação Trianon-MASP, na Av. Paulista, o que me dava meia hora adiantada. Passei num barzinho que tinha ali perto e pedi pra viagem um café preto e alguns pães de queijo. Enquanto isso acendi um cigarro. Ventava um pouco, o que me fez se arrepender de não ter colocado uma meia-calça mais grossa. Peguei meu café da manhã e segui até a próxima esquina, e ali na frente não estava tão movimentado como é na hora do almoço.
Às 8 horas todo mundo já estava ali, cada um em sua mesa, com telefones nas orelhas e emails abertos. Apesar de ser nova, duas ou três pessoas não gostavam de mim, mas sempre elogiavam meu trabalho o que me fazia franzir a testa toda vez que isso acontecia. Hoje, em suma importância, todos vinham até minha sala me desejar boa sorte. E então às 8h30m fui chamada para a sala de reuniões.
A reunião durou 3 horas e eu não sabia se a dor no meu estomago era de fome ou ansiedade, – talvez os dois – mas a sensação era de trabalho bem feito. Sai daquela sala e fui direto ao banheiro. Todos os dias eu tenho que entrevistar participantes estrangeiros para algumas empresas, mas o cliente de hoje foi tão importante que parecia a primeira vez que fazia isso. Ao meio-dia desci pra almoçar no restaurante do prédio e depois sai pra fumar. Já não ventava tanto, estava 22°C e o sol decidiu aparecer.
Enquanto fumava meu cigarro, recebi uma ligação da minha mãe dizendo que precisava de mim para ir ao hospital. No mesmo instante subi o mais rápido possível para pegar minha bolsa, sem avisar meu chefe, deixei só um recado com a secretária.
Pedi um taxi até a casa da Dona Ayra e de lá fomos ao hospital. Minha mãe já estava com 50 anos e começava dar sinais de demência senil, o que me preocupava muito porque ela morava sozinha. Ainda no hospital, o médico veio conversar comigo.
— Boa tarde, você é a filha dela?
— Sim, Thalassa — apertei sua mão enquanto falava.
— Bom Thalassa, eu sou o Dr. Bruno e a noticia é que sua mãe se encontra num estado inicial de demência senil precoce. A demência não é uma doença específica e sim um grupo de sintomas caracterizado pela disfunção de pelo menos duas funções do cérebro, como a memória e o discernimento. Portanto, iniciaremos um tratamento medicamentoso e terá que ser feito acompanhamento psiquiátrico e psicológico.
— Eu sou psicóloga. Como posso ajudar na intervenção?
— Por enquanto a memória dela está boa, mas aos poucos será preciso um acompanhamento mais rígido e diário. Hoje ela teve apenas um ataque de pânico, já foi medicada e daqui uma hora está liberada. Vou passar a lista de exames que ela deve fazer e pedirei que vocês retornem após ter feito todos eles.
— Ok Dr., muito obrigada.
— Imagina, tenha um bom dia.
— Igualmente — respondi, enquanto ele se retirava da sala minúscula de espera.
Isso foi estarrecedor, enquanto mamãe estava na ala de observação esperando o efeito do remédio, saí para fumar. Era meu sexto cigarro só hoje. Minha cabeça doía e meu coração estava acelerado. Peguei o celular e liguei na empresa, informei meu chefe sobre o que havia acontecido e que não voltaria para lá. Por um momento no espaço-tempo nada mais fazia sentido, nem minha suposta promoção, nem aquele cigarro que mal acabava eu já acendia outro. Só queria tirar Dona Ayra desse hospital e ir para casa.
O dia não terminou como eu planejei, fui para casa com a mamãe e pedimos algo para comer. Quando anoiteceu fiz macarronada e uma salada de alface, tomate e cebola e jantamos assistindo filme. Fazia seis meses que estava morando sozinha e tê-la aqui comigo hoje foi como se eu nunca tivesse ido embora.
YOU ARE READING
Um Infinito Desconhecido
Short StoryCom a mãe doente, o aparecimento do pai, uma suposta promoção no emprego e sua vida amorosa em jogo, como Thalassa irá driblar os desafios do dia-a-dia e descobrir quem é o homem do parque? Acompanhe sua rotina para saber quais serão seus próximos p...