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Demoramos cerca de cinco minutos a chegar ao ginásio. Ele demora a encontrar estacionamento e reclama um pouco, o que me faz perceber que ele costuma vir a pé, mas visto que está a chover e a trovejar, viemos de carro.

Saímos do seu SUV sem trocar uma palavra. É impressionante a maneira como Niall está a ser carinhoso comigo e a dar-me um beijo na testa num momento, e no segundo a seguir está frio, bruto. Ele pega no seu saco pousado no banco de trás e leva-me para o estabelecimento. Alguns homens sorriem para mim maliciosamente, Niall apenas me puxa para ele.

Entramos no balneário depois dele confirmar que está vazio. Sento-me no banco em frente ao seu e observo-o a tirar uma garrafa de água e a despir a sweat preta que tem vestida, ficando apenas com uma camisola cinzenta de cavas.

“Ignora os comentários.” Ele diz-me como se fosse a primeira vez que isto acontecesse.

Parece que trabalhar num salão de jogos é um bom treino para ignorar idiotas. O ginásio não está muito cheio, mas algumas caras são conhecidas. Uns acenam e sorriem, outros limitam-se a mandar piropos que não interessam a ninguém.

Sigo Niall até uma sala separada da secção de máquinas. A sala é grande, o chão é de madeira, e é rodeada de espelhos. Tem um corrimão em cada parede, sem dúvida uma sala de dança. Um saco de boxe vermelho, vermelho e branco enfeita o canto da sala junto de um banco sueco.

Sento-me no banco e Niall pousa a sua garrafa junto a mim. Um rapaz jovem, moreno de olhos escuros com cerca de um metro e oitenta, entra na sala com duas luvas de boxe e entrega-as a Niall que agradece num tom rude, sem nem o encarar.

“Quem é a tua amiga hoje?” O rapaz pergunta com uma voz grossa e um sotaque do norte. “É bem mais bonita que as outras.”

“Deixa-a em paz.” Niall ordena, semicerrando os olhos.

“Eu conheço-te.” O rapaz diz pensativo. “És a gaja do salão de jogos, não és?”

“Sim.” Eu respondo com receio. Niall respira pesadamente e o rapaz sai da sala piscando-me o olho e gargalhando.

Recomponho-me no banco e olho para Niall que está tenso, talvez o exercício lhe faça bem. Os seus olhos largam a minha figura e prendem-se ao saco. Ele esmurra-o com toda a sua força. Os seus braços em posição de ataque fazem sobressair os músculos.

Algum suor escorre pelo interior da sua camisola, tornando o cinzento num tom mais escuro. Levanto-me com incerteza e pego na sua garrafa, caminho até ele e dou-lha.

“A que se deve tanta raiva?” Pergunto enquanto ele engole a água rapidamente.

“A tudo.” Ele responde, afastando-me e esmurrando novamente o saco.

Sento-me a pensar na sua resposta. Estarei incluída no seu ‘tudo’? É claro que estás! Vais ser mais uma das muitas preocupações que ele já tem, o meu subconsciente responde-me.

Eu pensava que a minha vida era normal até conhecer Niall e perceber que vivo numa mentira há dezassete anos, que o meu pai não é meu pai, que o ex-marido da minha mãe me quer matar por culpa de uma traição e porque não posso contar nada disto a Claire. Só faltava obrigarem-me a assinar um contrato de confidencialidade como Christian fez a Anastásia sobre a submissão.

Bem, estou num ponto da minha vida em que tudo isto soaria normal, muito normal.

Niall continua a esmurrar o saco de boxe com toda a sua força, está nisto há uma hora, não sei como consegue aguentar tanto tempo a fazer o mesmo, talvez a raiva acumulada seja muita, mas o seu rosto parece mais aliviado.

“Vou tomar um banho rápido e depois vamos a tua casa para eu falar com os teus pais e mudares-te para o meu apartamento.” Ele diz, tirando a sua camisola e passando-a pelo seu rosto suado.

“Como é que vou explicar à Claire o facto de agora me ires pôr e buscar todos os dias à escola?”

“Ela não tem que saber.” Entramos no balneário. “Eu vou pôr-te antes dela chegar à escola e quando for para te ir buscar, combinamos num sítio qualquer.”

“Não posso reclamar.” Protesto.

Niall sorri e despe as calças de fato de treino, ficando apenas de boxers. Vejo-o afastar-se e entrar dentro de uma cabine com chuveiro.

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“A Violet sabe de tudo? É isso que estás a tentar dizer?” Oiço a minha mãe, a sua voz completamente chocada.

“Ela ouviu a minha conversa com o Hunter.” Niall explica calmamente. “As coisas descontrolaram-se um pouco.”

“Consegues cuidar dela, Niall?” O meu pai pergunta.

“Consigo.” Niall assegura e sinto-me feliz por ele se disponibilizar para cuidar de mim.

“Ela é a nossa menina.” A minha mãe está a chorar. “Quem está de fora não percebe, mas ela é tão frágil, tão delicada, não deixes que nada lhe aconteça.”

“No que depender de mim ninguém lhe tocará.” Sorrio com a resposta de Niall.

Apareço no cimo das escadas com a minha mala de viagem cheia de roupa e o essencial para que possa viver noutra casa sem problemas.

Niall ajuda-me com a mala e eu despeço-me dos meus pais. Eles abraçam-me e pedem desculpas imensas vezes, não há nada para perdoar, protegeram-me durante todos estes anos, só tenho que lhes agradecer.

Entro no carro de Niall e a chuva intensifica-se. A estrada está escorregadia e eu começo a ficar com medo, apesar da condução de Niall ser calma e cuidadosa.

“Tem cuidado.” Eu peço.

“Não confias em mim?” Ele pergunta sem tirar os olhos da estrada. Suspiro como resposta e ele olha-me rapidamente. “O que foi?”

“No dia em que eu e o Ches fizemos dois anos de namoro ele levou-me a jantar fora e nessa noite nós tivemos um acidente por culpa da chuva, só não quero que aconteça o mesmo.” Afundo-me no assento.

A mão de Niall pousa na minha perna. “Foi muito grave?”

“Para mim, não. Mas o Ches bateu com a cabeça no vidro e perdeu muito sangue, pensei que o ia perder num dos dias mais felizes das nossas vidas, mas aos poucos tudo se foi recompondo.”

“Namoraram durante quanto tempo?”

“Cinco anos.” Gargalho. “Começámos por uma brincadeira e acabámos por nos apaixonar a sério, mas as coisas mudam.”

“Incompatibilidades?”

“Traição.” Encosto a minha cabeça ao vidro e relembro a noite em que o apanhei na cama com outra. “Só tenho medo de não conseguir ser feliz.”

“Vais ser.” Ele sorri. “Confia em mim.”

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Jô x

Ice Bullet |Niall HoranOnde histórias criam vida. Descubra agora