10.1

665 63 1
                                    

São dez da noite. Os meus pais jantaram connosco e a minha mãe sentia-se tão culpada por tudo isto, mas ela não tem culpa que Ben seja um doente mental. Ele foi levado para o hospital, mas depois vai ficar preso durante anos por uma lista de crimes que não é propriamente pequena:

- Ameaças mortais;

- Perseguição;

- Violência doméstica e maus-tratos a menores;

- Rapto;

- Falsificação de documentos.

Ches também foi detido, mas a sua pena a comparar à do seu padrinho não é nada.

Niall entra no quarto e olha para mim de cima a baixo. “Porque é que estás assim vestida?”

“Estou normal.” Respondo.

“Não.” Ele corta-me. “Estás de leggins e tu nunca andas assim.”

“Hoje apetece-me.” Tento acabar com o assunto.

“Diz-me que não estás com vergonha de mim.” Ele diz, sentando-se do meu lado, afundando a cama com o seu peso.

Desabo em lágrimas. “Eu não quero ver o meu corpo.”

Os seus braços rodeiam-me delicadamente. Estou com vergonha de mim própria. Vesti-me de olhos fechados para não ter de olhar para baixo e ver que a minha pele branca está roxa por culpa dos pontapés que levei.

Niall levanta-se e deita-me. Agarra o elástico das minhas leggins e tira-as por completo, pousando-as no canto da cama, os seus lábios dão pequenos beijos por cima de todas as nódoas negras que tenho. Agarro a sua mão estendida e levanto-me. As suas mãos desabotoam os botões da sua camisa cinzenta vestida por mim.

Ele abre a porta do guarda-roupa que tem o espelho preso e posiciona-me à frente dele, fecho os meus olhos. “Vê-te ao espelho.” Ele pede calmamente.

Abro os meus olhos e passo o olhar pelo meu corpo. Niall está atrás de mim, as suas mãos repousam nas minhas coxas.

As minhas pernas estão negras e com alguns cortes, as minhas canelas estão verdes, roxas e negras ao mesmo tempo. Uma lágrima escapa-me. Os meus joelhos estão negros e com arranhões de eu ter caído depois de ter sido, literalmente, atirada ao chão. Subo o olhar e os meus quadris também estão negros, mas não tanto quanto eu pensei que estivessem, são talvez a parte do corpo que mais me dói. A minha barriga tem nódoas aleatórias de um cinzento mais carregado, principalmente, onde a bota me acertou. Os meus braços têm a marca dos dedos de Ben. A minha bochecha direita está mais negra que a esquerda, apesar da esquerda ter um corte superficial. O meu lábio tem um corte fundo e a minha testa tem também um arranhão, mas esse eu não consigo ver, pois foi tapado por um penso rápido.

“Olha para mim,” eu digo. “não pareço eu.”

Niall vira-me para ele e veste-me a sua camisa novamente. “Sabes o quão orgulhoso de ti eu estou?” Nego com a cabeça, encarando os nossos pés. Os seus dedos finos elevam-me o queixo. “Estou muito. Não pensei que aguentasses tudo isto, Anastásia.”

Rio-me com o que ele me chamou. “Não sou como ela.”

“És melhor.” Ele beija-me o nariz e roça os nossos lábios de seguida. “A Claire ligou-te enquanto estávamos no hospital e eu contei-lhe tudo. Agora não precisas de esconder mais coisas dela.”

“Ela deve estar tão chateada comigo.” Divago.

“Ela compreendeu tudo e o Zayn até que deu uma ajuda.” Niall gargalhou.

“Vocês conhecem-se?” Arqueio a sobrancelha. Desta é que não estavas à espera, o meu subconsciente adormecido desperta.

“Somos melhores amigos.” Niall diz. “Eu, ele, o Harry, o Liam e o Louis.”

“Qual dos rapazes era o Liam e qual era o Louis?”

“O Liam tinha os olhos castanhos e o Louis os olhos azuis.” Ele responde enquanto me prende pequenas mechas de cabelo atrás da orelha.

Aninho-me no peito de Niall e abraço-o. Porra, como eu gosto de o abraçar. Não acredito que tudo acabou, que Ben está preso e que já não preciso de andar escondida nem de esconder coisas, já posso voltar ao meu trabalho.

Niall disse que não ia dormir enquanto eu não adormecesse, mas acho que se esqueceu do que tinha dito. Ajeito-me no seu peito e passo os meus dedos por ele enquanto espero que o sono venha. Sinto-me cansada e com imensa energia ao mesmo tempo. Hunter trocou Inglaterra por França, mas deixou-me uma carta.

Violet,

Sei que todas estas revelações te devem ter destroçado, principalmente a revelação de que o teu patrão é o teu pai biológico. Posso parecer frio e imaturo, mas não me arrependo de ter pedido a Richard para te assumir como filha, não estava preparado naquela altura e também não estava pronto para assumir uma responsabilidade tão grande como a de ser pai.

Vou deixar a Inglaterra agora que tudo acabou bem. Decidi entregar o Boom ao Brad, acho que ele é a pessoa indicada para ficar com ele, espero que não te importes. A verdade é que não o deixei para ti porque sei que mereces mais, mais e melhor. Brad não pôde estudar, mas tu podes e acho que vais ter um futuro brilhante na tua área, ainda vais ser famosa e, quem sabe, não nos reencontramos um dia.

Está na hora do meu avião, mas antes quero que saibas que quando eu e a tua mãe nos envolvemos (isto é embaraçoso), estávamos muito apaixonados e se há coisa que te tornou na pessoa que és hoje, foi o amor com que foste feita, e também o amor com que foste criada.

Até uma próxima,

                                                                      Hunter

Uma lágrima escorre pela minha bochecha, é a terceira desde que leio a carta. Espero que Hunter seja feliz, sinceramente, eu acho que ele vai ser um bom marido e um bom pai, um dia. Tenho a certeza que nos vamos reencontrar, não tenho dúvidas disso.

 __________

Jô x

Ice Bullet |Niall HoranOnde histórias criam vida. Descubra agora