6. Aquele do tédio

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Taty P.O.V

Segunda-feira, 08:45.

- Ela conseguiu encontrar o bloquinho e resolver tudo. - Gio chegou já falando.
- Tudo o que? - Perguntei.
- A gente pode falar disso depois. - Juli sentou do meu lado já que não tinha ninguém alí. Não naquele momento. - Onde o povo tá indo?
- Pegar alguns livros. - Respondi. - Inclusive nós precisamos pegar também, vamo.

-****-

Juli P.O.V

Segunda-feira, 09:00.

Finalmente, depois de pegarmos os livros, a aula começou, uma hora depois do normal. Mas acho que tudo bem, já que é o primeiro dia de aula.

A aula do primeiro período - que no caso era o segundo - era normal. Eu até diria que era entediante. E me desculpa mas eu não estava prestando atenção em nada, diferente do Gio que estava anotando tudo que o professor de aritmética falava.

-***-

09:53.

Apoiei a cabeça no dorso dos meus dedos e fiquei observando as coisas ao meu redor. Comecei observando o Gio, mas depois de um minuto inteiro vendo ele focado na matéria eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse a indagação de como ele conseguia estudar.
Revirei os olhos porque, admito, eu estava com inveja, queria tentar me esforçar assim nos estudos também. Mas eu sabia que era praticamente impossível, não ia tentar.

O tédio só aumentava mais a cada segundo, até porquê o Gio não me dava atenção alguma, e eu também não queria atrapalhar o nosso orgulho estudioso, então eu cansei de observa-lo.

Olhei para o outro lado, à minha esquerda, e o garoto do óculos quebrado sentava alí. Eu estava olhando seu óculos que estava em cima da mesa, e não pude evitar de sentir uma culpa pois eu que tinha causado aquilo tudo, quando ele olhou para mim. Dei um mini pulo na cadeira e me virei rapidamente para o Gio. Ele ainda estava focado em suas anotações.

O tédio voltou. Recostei-me na cadeira e deslizei um pouco, comprovando ainda mais a minha preguiça de viver. Mas finalmente notei algo que transformou a aula em algo interessante.
Taty também não estava estudando, ao invés disso estava olhando para o seu colega de mesa, o menino de dreads. Dei um sorrisinho de canto, tentando não soltar uma risada, e cutuquei o Gio com o cotovelo.

De primeira ele me ignorou porque ele é ruim comigo as vezes, mas depois ele finalmente resolveu me ouvir. Sorrindo, apontei para a Taty. Ele ergueu as sobrancelhas e também sorriu ao ver a cena.
Infelizmente não deu tempo de pegar o celular e tirar uma foto, o sinal para o intervalo tocou e o menino já estava de pé.

-****-

Taty P.O.V

Segunda-feira, 10:00.

Intervalo! Graças a Deus esse momento chegou. Nós três fomos até o refeitório e as duas pestes não paravam de sorrir para mim, mas de um jeito estranho.
Estávamos na fila, com as bandejas que variavam entre azul e vermelho em mãos.

- Ai meu Deus, o que foi? - Virei para os dois.
- Eu conto ou você conta? - Gio respondeu, sorrindo de canto.

Juli riu, alto o suficiente para que umas pessoas nos olhassem.

- A gente viu tu olhando pro guri de dreads.

Fiz uma cara de espanto, mais pra quem tinha sido descoberta, mas me controlei.

- Prova!

Os dois ficaram sem resposta, mas não pararam de me irritar o resto do intervalo. A partir do ponto que os dois tinham visto, um seria testemunha do outro, como sempre foi.

-***-

10:12.

- Mas esperem aqui, eu preciso ir ver como o Joshua tá. - A Juli falou, se levantando com metade de seu sanduíche de pasta de amendoim com geleia em mãos, e foi procurar o irmão.

Não entendi porquê já que ele e o Troy estudam aqui há anos, os dois devem estar melhor que nós.

-***-

A Juli às vezes é dessas irmãs super protetoras, mas isso nem faz muito sentido sendo que ela nem consegue resolver seus próprios problemas sem entrar em pânico. Mas eu entendo ela, isso deve ser coisa de irmãos mais velhos.
O Gio não entende tão bem porque ele é filho único, e mesmo com Juli e ele parecendo irmãos desde que nasceram ele é mais novo que ela, e não fica tanto no pé do Josh, ela já faz todo o serviço sozinha.

Esse instinto de irmã mais velha da Juli chega a ser engraçado. Uma vez, uns 5 ou 6 anos atrás, o Josh estava brincando na piscina quando resolveu mergulhar; ele sempre teve um bom tempo prendendo a respiração, mas ela não sabia disso.
Ela, com seus 10 anos de idade, dentro de um maiô florido que nós zoamos até hoje pelo fato de ela querer usar um igual atualmente, começou a gritar desesperada e disse que ia salvá-lo, mesmo sem saber nadar. Ela ainda não sabe.

No fim de toda a comoção na festa de família deles nós descobrimos que os dois estavam no razo. E o mais incrível foi que ela conseguiu se afogar alí durante seu "momento heroína".

Aquela tinha sido a primeira festa com eles que eu fui, no ano em que nos conhecemos, e eu tive a certeza que minha vida a partir dali seria sempre interessante. E eu estava certa.

-****-

Gio P.O.V

Segunda-feira, 10:45.

Nós voltamos para a sala, íamos ter aula de física. Se as duas criaturas não estavam suportando a aula de aritmética, essa elas são capazes de arranjar um jeito para fugir da sala.

A Juli, má influência do jeito que é, conseguiu me convencer a ficar vendo se a Taty ia olhar para o garoto. Mas, para a nossa surpresa, quem estava olhando era ele para ela...

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