Quatro - O tempo passou

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Sai não queria conhecer Sasuke Uchiha.

Não mesmo.

De forma alguma.

Definitivamente não.

Sai não entendia muito de sentimentos, ele ainda estava aprendendo sobre eles, mas Sai sabia que Sasuke machucou os sentimentos de Naruto, Sakura e Kakashi. O ex-ANBU sabia que era uma pessoa fria e, na maioria das vezes, insensível, mas ele nunca fazia nada para machucar os outros de propósito, não era por mal, mas parecia que o Uchiha fazia. Sai havia acompanhado Naruto e Sakura na saga para trazer o antigo companheiro de volta e via como eles sempre pareciam mais magoados quando falhavam. Então, veio a guerra, Sasuke voltou para ajudar e, naquele momento, Sai se sentiu deixado de lado, mas ele foi embora outra vez e machucou o loiro e a rosada. De novo.

Sai estava no monte Hokage, ele estava desenhando a vista e estava ficando bom. Estava tudo tranquilo, mesmo com o clima tenso entre os ninjas da antiga formação do time sete. O moreno não pôde deixar de rir quando soube do 'tapa na cara' que os amigos deram no Uchiha. Ele olhava para o horizonte e admirava o crescimento da vila, quando sentiu o chakra de outra pessoa, que sentou ao seu lado. Ele sabia que era Sasuke mesmo antes de virar o rosto.

Não queria conversar com ele, não queria descobrir o porquê de sempre dizerem que eram parecidos. Sai não queria se parecer com Sasuke, ele queria ser lembrado pelos amigos – porque sim, agora ele tinha amigos – como alguém com quem podiam contar, como alguém que não quebraria seus corações. Como alguém que jamais iria embora. Ele nunca iria embora.

Se tivesse de listar as coisas que aprendera com Naruto e os outros por todo aquele tempo, o valor da amizade, a lealdade e a importância dos laços formados certamente estariam inclusos. Sai levaria todos esses aprendizados até sua morte, porque foram coisas que ele aprendeu porque quis, porque foram Naruto e Sakura que os ensinaram, porque não fora forçado por Danzou a aprender, porque sabia que seu irmão ficaria orgulhoso ao vê-lo deixar de ser uma máquina robótica da ANBU-Ne.

- Nós não somos parecidos. – Sai se viu dizendo.

- Você só é mais pálido... e tem um corte de cabelo diferente. – O Uchiha respondeu.

- Não somos parecidos, isso é só uma ilusão que todos criaram, quando sentiam sua falta.

- Tem raiva porque acham nossas feições parecidas? – Sasuke perguntou debochado.

- Isso também. – O mais pálido deixou sua voz sair neutra, mas estava com raiva. Era estranho, ele não tinha raiva antes, não sentia nada. Agora, sentia que era humano. – Mas é mais porque eu jamais abandonaria meus amigos.

Uma coisa que Sai ainda aprenderia a sentir era o remorso, então, quando o corpo de Sasuke tencionou e ele soube que havia atingido a ferida, não se sentiu mal por isso, e um sorriso de lado se formou em seu rosto branco. Recentemente, Naruto e Sakura conversaram com o ex-renegado e Sai realmente não esperava que fosse fazer o mesmo, afinal, não tinha nenhuma ligação com ele e tudo o que sabia a respeito dele foi o que ouvira de seus companheiros. O ex-ANBU tinha uma imagem do Uchiha em sua mente, porque o time sete sempre falava dele quase como adoradores de uma divindade, por isso a decepção de conhecê-lo e vê-lo em ação fora inevitável. Era com ele que Sai parecia? Não mesmo!

- Eu não os abandonei. – Depois de um tempo, Sasuke voltou a falar, ainda abalado pelas palavras do outro, mas tentando soar firme e despreocupado. – Eu tinha objetivos a cumprir.

- Não justifica. Você poderia ter se vingado do seu irmão e permanecido na Vila. Poderia ter aceitado a ajuda dos seus companheiros. Aceitar ajuda não é sinal de covardia, sabe?

- Eu estava fora de mim!

- Você parecia bem lúcido, depois da guerra.

Sasuke se calou, era verdade. A luta contra Naruto fora apenas por orgulho, porque todos sabiam que o Uchiha não queria admitir seus sentimentos pelo loiro. Por dois anos, Sai viu o coração de seus companheiros de time sendo remendados, desta vez, por pessoas que não voltariam a quebrá-los. Era como se tudo estivesse se resolvendo aos poucos: Naruto seria Hokage em breve, Sakura era a melhor médica do mundo, Kakashi era um ótimo Hokage e Sai era cada vez mais humano. Ponto. Fim de uma saga e início de outra. Seguiram em frente.

Ao finalmente olhar para o lado, o mais pálido se surpreendeu ao ver o Uchiha chorando, não achava que o orgulho do tamanho do mundo, que Sasuke com certeza tinha, permitisse tal coisa. Mas ele ainda não sentia arrependimento, ainda não sentia que o outro realmente sabia como seus atos machucavam os outros. Não importava, Sasuke nunca mais machucaria Naruto ou Sakura. Sai não deixaria isso acontecer.

- Eu escrevi uma coisa. – Quebrou o silêncio, esperando o outro moreno olhar para si, antes de prosseguir. O olho que continha o rinnegan estava coberto por uma franja, mas Sai sabia que lágrimas também se acumulavam ali. Era sádico demais se sentir bem, vendo Sasuke sofrer? Porque Sai se sentia bem, mesmo que aquilo fosse pouco, perto do que teve de ver seus companheiros sofrerem. Sasuke merecia aquilo que estava sentindo, para nunca mais machucar outra pessoa.

- O que? – Ah! A voz do Uchiha saiu fragilizada, como deveria estar, da mesma forma que Sai já ouvira a voz do amigo loiro.

- Um poema.

- Como é?

- "Não te amam mais.

Estarão mentindo se disserem que

Ainda te querem como sempre quiseram.

Têm certeza que

Nada foi em vão.

Sentem dentro deles que

Você não significa nada.

Não poderiam dizer jamais que

Alimentam um grande amor.

Sentem cada vez mais que

Já te esqueceram!

E jamais usarão a frase:

NÓS TE AMAMOS!

Sentem, mas têm que dizer a verdade

É tarde demais..."

Você pode tentar ver do fim para o início, mas estará apenas se iludindo.

[N.A.: Esse poema foi uma adaptação, o original se chama 'Não te amo mais', da Clarice Lispector.]

O ex-Anbu arrancou uma folha do caderno que esquecera estar segurando, o poema estava ali. Entregou-a ao Uchiha, fechando o caderno e levantando-se. Não se importou com despedidas, apenas se virou e partiu, deixando Sasuke só.

Era isso. Acabou.

Quando você se foiOnde histórias criam vida. Descubra agora