Dois - Já não importa mais

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Seis meses após a partida de Sasuke

Estava tudo estranhamente calmo. Só seis meses se passaram mas, para Naruto, parecia muito mais tempo, e ele ainda não estava acostumado a toda aquela calmaria, mesmo que ele soubesse que o mundo ainda estava se reerguendo. Ele olhou para a mão direita, para a prótese feita para ele por Tsunade. Aquilo o lembrava da luta, no Vale do Fim. Lembrava Sasuke. Naruto não queria pensar em Sasuke. Antes dele partir, Naruto, como um adulto responsável – que ele duvidava muito ser -, chamou-o para conversar e esclarecer qualquer dúvida em relação a eles. Ele sabia que não tinha dito "eu te amo" com todas as palavras, mas também sabia que o Uchiha não era tolo e entendera. O que não sabia era que Sasuke ia preferir ignorar isso, e aquilo machucou.

Naruto sabia que, quando ele disse que ia embora, não era com a mesma intenção de quando tinham treze anos, mas ele esperava que, ao final da guerra e com tudo esclarecido, Sasuke resolvesse encarar as consequências de seus atos e ficaria na vila. Estava enganado. O loiro observava o crescimento de Konoha, como sempre, do topo do Monte Hokage, bem acima do rosto de Minato. Às vezes, ele falava com o rosto esculpido, esperando uma resposta que nunca viria. Em um certo momento, ele desviou o olhar da vila e passou a fitar o horizonte, imaginando como seria quando Sasuke voltasse. Se Sasuke voltasse. Ele sabia que era conhecido por ser positivo, em relação a seu ponto de vista, mas ele duvidava muito que Sasuke um dia voltaria para ficar, e ele não sabia se aguentaria vê-lo partir outra vez.

Ele queria conversar com Sasuke, mesmo que fosse rejeitado e isso partisse seu coração, mesmo que o Uchiha preferisse seguir seu plano original de restaurar seu clã e casasse com Sakura. Ele só não queria deixá-lo ir sem tentar, sem saber se era retribuído. Naruto suspirou, tentado afastar esses pensamentos.

-Parece que sua cabeça vai explodir a qualquer momento.

A voz sarcástica de Shikamaru o trouxe de volta para a realidade, Naruto se permitiu rir junto ao amigo, mesmo que seus olhos ainda estivessem tristes. O Nara sentou ao seu lado, pegando sua mão e apertando-a para confortá-lo. O que foi um pouco estranho para o loiro. Desde o final da guerra, Shikamaru parecia ter ficado bem mais atencioso e carinhoso com o Uzumaki, e não fora só o loiro a notar isso, todos achavam. Mas, se tinha algo que Naruto não iria fazer, era reclamar. Era estranho, para ele, estar recebendo esse tipo de carinho; claro, Jiraya era carinhoso – do jeito dele – e Kakashi se preocupava consigo, mas era diferente. Ele sentia um calor diferente vindo do amigo, mas resolveu esquecer, por hora.

-Às vezes, eu acho que ela realmente vai.

-Você tava pensando nele, né? -Naruto suspirou antes de responder:

-Eu não queria, mas parece inevitável.

-Sendo bem sincero, acho que você devia superar isso. – Vendo o olhar incrédulo do loiro, Shikamaru prosseguiu. -Olha, eu sei que isso não vai ser fácil, mas ele não faz bem a você. Olha só o seu estado, você parece acabado, e não tô falando só das cicatrizes da guerra. Você passou anos da sua vida se dedicando a ficar mais forte pra trazer o Sasuke de volta. Não acha que, pelo menos uma vez, você tem o direito de ser egoísta e pensar em você? Não acha que tem o direito de seguir em frente.

As palavras do Nara fizeram Naruto refletir. De fato, ele passara anos apenas pensando em como trazer Sasuke de volta, agora iria pensar só nele. Ele podia fazer isso. Ele era o Grande Herói da Quarta Guerra. Ele colocou um sorriso animado no rosto, decidido que conseguiria, Naruto seguiria em frente. Ele apertou a mão de Shikamaru, que ainda segurava a sua, juntando a outra mão, sentindo aquele estranho calor.

Naruto não teve muita experiência em ser amado, era bizarro pensar que alguém sentisse afeição por si, era bizarro pensar que Shikamaru sentia afeição por si. Ele olhou fundo nos olhos negros do Nara, vendo todo o amor que havia ali. Não era como se nunca tivesse se dado bem com o moreno antes da guerra, mas tudo parecia diferente agora.

Quando você se foiOnde histórias criam vida. Descubra agora