Capítulo 1

36 1 0
                                    


Estava lendo um livro para meus alunos, eles amavam contação de história e eu amava ler para eles. Sou professora de educação infantil há 2 anos e sou apaixonada por minha profissão, me encantava ver a evolução dos meus alunos a cada ano, era gratificante. Naquele dia tudo ia bem, até que durante a contação começo a ouvir uns sons altos e gritos e o chão começa a tremer, minhas crianças correm até mim e começam a chorar. 

Um som alto e uma luz intensa invadem a sala e o teto e as paredes começam a ameaçar a cair, rapidamente vou colocando as crianças pra fora, falo pra cuidadora levá-los até o pátio aberto e assim elas fazem, volto pra sala para ter certeza que todas as crianças tenham saído, assim que confirmo a sala vazia começo a correr para o patio, durante o caminho ouço gritos, sigo o som até uma sala e vejo Annie uma das alunas da turma 4 agachada debaixo da mesa, vou até ela e a mesma pula em meu colo assustada, assim começo acorrer com ela. Quando estávamos chegando no pátio sinto um baque e apago.

 Meu corpo todo dói, tento me mexer, mas meus músculos reclamam. Meio atordoada não entendo muito bem o que está acontecendo de início até me lembrar da situação que estou. Em um surto de adrenalina levanto rapidamente, lembro-me de Annie e a vejo deitada ao meu lado com um machucado na cabeça e no braço.

- Senhorita Ayla! - ouço a voz de Cinesio, o zelador da escola.

-Seu Cinesio, o que esta acontecendo?

-Minha filha não da pra explicar agora, mas precisamos ir, Green Mountain não é mais seguro.

-Como assim? Ir pra onde? Cadê as crianças? Preciso levar Annie no hospital.

-Senhorita tudo foi destruído, poucos conseguiram sobreviver, sobre as crianças não sei, mas provavelmente devem estar mortas, Green Mountain inteira foi bombardeada e  agora precisamos sair daqui.

As palavras dele me atingiram como um soco, como assim Green Mountain foi bombardeada, parece um pesadelo. Ainda atordoada e cheia de dores me levanto com Annie no colo e sigo seu Cinesio sem questionar, sei que com ele estarei bem, eu espero.

Assim que saímos da escola vejo a destruição, Green Mountain foi realmente atacada. Saímos andando dentre os destroços e corpos estirados no chão, algumas pessoas se arrastam, poucas correm sem rumo, uma cena digna de filme apocalíptico. 

Depois de andar por 30 minutos ouço o som das águas, sei que estamos indo à baía. Seguimos por um caminho cercado de árvores e plantas como se fosse uma floresta até que chegamos em uma mini praia, de cara já se vê um barco.

-Venha minha filha, precisamos zarpar logo, o quanto antes chegarmos a Artemisa melhor será.

-Artemisa? Me desculpe, mas nunca ouvi falar.

Ele me da um pequeno sorriso e estende a mão para que possamos subir no barco. Sento próxima ao timão acomodando Annie ao meu lado. Seu Cinésio liga o barco e parte para essa tal de Artemisa, fico o observando, o conheço desde criança quando comecei no jardim de infância, ele sempre passava nos corredores com um sorriso sincero e me dava uma flor de papel toda vez que me via. Hoje vejo as marcas da mudança de tempo em seu rosto, seus olhos já não tinham mais o brilho de antes, agora era diferente, como se o peso do tempo trouxesse segredos de uma vida oculta, ou é só eu que bati a cabeça forte demais e estou vendo coisas.

Enquanto tinha devaneios sobre a vida de Cinésio sinto algo escorrer pelo meu braço, quando olho vejo bastante sangue onde a cabeça de Annie estava encostada, rapidamente a pego no colo e me dirijo a Cinésio.

-Tem kit de primeiros socorros aqui? - pergunto aflita com o aumento do sangramento na cabeça de Annie.

-Sim senhora, lá embaixo no banheiro. 

Higienizo a cabeça dela e faça o curativo amarrando bem forte uma faixa na cabeça dela. 

- Quando chegarmos lá a levaremos imediatamente para o hospital, dê a ela um remédio contra infecção, amasse, dilua na água e coloque na garganta dela com uma seringa, serão dois dias de viagens temos que evitar que ocorra uma infecção.

Assim que termino de cuidar do ferimento de Annie fico olhando pra ela. Começa a me sentir mal de ter trago ela sem ao menos avisar aos pais dela, mas tudo aconteceu tão rápido e eu tenho um carinho tão grande por ela que eu não poderia ter deixado ela sozinha.

-O senhor acha que fiz certo em trazê-la? Não acha que tínhamos que ter ficado para achar os pais dela? 

-Senhorita essa foi a melhor coisa que você fez, infelizmente os pais dela devem estar mortos e mesmo que não estejam não poderiam fazer muito, tudo foi explodido na cidade e sinceramente acho muito difícil que esse ataque acabe aí.

-Mas quem poderia ter feito isso e por que?

- Tudo vai ser explicado quando chegarmos em Artemisa. A única coisa que posso falar agora é que seu pai deixou tudo pronto para você.

-Meu pai? Como assim? Ele morreu tem 2 anos.

-Ele sabia que isso iria acontecer minha filha, só confie que tudo ficará bem!

-Como assim? Eu não entendo como meu pai saberia disso. Você sabe de algo que eu não sei Cinesio?

-Senhorita agora não posso falar muita coisa, mas prometo que tudo será devidamente explicado assim que chegarmos.

Acho tudo muito estranho, mas resolvo não ficar insistindo, ele estava muito firme na sua fala, sabia que dali não tiraria nada, só me resta agora esperar. Assim o dia vai passando e a noite vai caindo, jantamos e resolvo me deitar com Annie para dormirmos.

Filhas da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora