Capítulo 4

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Estava deitada olhando pro teto ainda tentando entender tudo que acontecera, apesar de ser difícil não posso deixar isso me afetar, agora eu tenho uma criança para cuidar, as vezes essa é uma oportunidade de aprender e apesar de tudo que fizeram eu agora descobri uma nova família. Pode ser que eu esteja indo rápido demais com essa história, mas depois de eu ter perdido meu pai vi o quanto faz falta ter uma família ao seu lado.

Ouço a porta se abrindo e a voz de Naska.

- Senhora, ela estava chorando querendo lhe ver.

Viro e vejo Annie com uma carinha vermelha de choro, olho para Naska demonstrando que ela já pode sair, pego Annie no colo e a abraço com todas as minhas forças, deito com ela na cama e fico olhando pra essa carinha. Olhando em seus olhos acho que agora eu a entendo melhor, ela perdeu os seus pais de uma hora para outra e do nada uma estranha lhe ofereceu abrigo, preciso ser pra ela o que ela não tem mais, preciso ser o ponto seguro dela como ela está sendo o meu nessa hora.

Após vinte minutos eu fazendo carinho nela, ela acaba adormecendo, vou até seu quarto pra ver se acho alguma peça de roupa.

-Esse era o seu quarto. - me assusto ao ouvir a voz de Harrison atrás de mim.

- Pelo menos 2 vezes ao mês eu pedia para que lavassem as suas roupas achando que a qualquer momento vocês voltariam, isso acabou durando 24 anos, fazia isso com as da sua mãe também, mesmo sabendo que ela não voltaria mais. Me desculpa por nunca ter ido procurar, ou por termos escondido isso de você. Não ache porque eu estava longe que eu não me importava, sempre ligava para seu pai perguntando como você estava, ele todo ano me mandava uma foto. Só Deus sabe como eu queria estar com você em todos os momentos, lembro de quando você se formou na faculdade, fiquei tão orgulhoso, uma neta professora! Quando seu pai faleceu foi doloroso, ele era um homem bom, queria estar com você neste momento...

- Mas não estava. – digo seca.

- Eu sei que não, mas agora que você está aqui eu quero retomar o tempo perdido.

-Retomar o tempo perdido? Você tem noção o quão difícil é ter sua cidade, na qual viveu a vida inteira, ser bombardeada e em seguida descobrir que tem uma família em um lugar que nunca ouviu falar? Eu realmente estou tentando aceitar essa situação porque agora não sou mais eu, tem Annie, mas eu preciso de respostas.

-E você vai tê-las, vou responder todas elas.

-Estão me protegendo de que então?

-Filha somos uma família real, temos nossos amigos e nossos inimigos e as vezes nossos inimigos passam dos limites e esses limites requerem situações drásticas.

-Situações essa que fizeram mentir para mim por 24 anos?

-Minha menina, um dia você vai entender, mas agora é muito cedo.

-Claro, mais segredos. – me enfureço, pego o pijama de Annie e volto para meu quarto, visto o pijama nela enquanto dorme mesmo, visto o meu e deito ao seu lado, mesmo tentando entender a situação e relevar ela ainda é difícil pra mim, só quero dormir e esquecer o dia de hoje.

Acordo sentindo algo se mexer do meu lado, vejo que Annie está acordando.

-Boa dia minha princesa. – subiu um calafrio ao dizer essa última palavra dado a minha atual situação.

-Bom dia. – fico emocionada ao ouvir aquela doce voz, nem acredito que ela falou, ela realmente falou. Pulo da cama, pego ela no colo e a rodo no ar, várias risadas ecoam pelo quarto até que batem na porta, pergunto quem é e vejo que é Naska.

-Bom dia Senhorita, vejo que acordou bem!

-Bom dia Naska! Olha, hoje você está dispensada, hoje é só eu e Annie.

-Senhora, não posso, preciso cumprir minhas obrigações.

-Não se preocupe Naska, por favor deixe-nos a sós.

-Sim senhora.

Assim que Naska sai pego Annie na mão e vamos tomar um banho no banheiro da quarto dela, após o banho visto nela um vestido branco com flores rosas e uma sandália de tira rosas e pratas.

Em mim eu coloco um vestido rosa claro com listras pretas e brancas na barra e uma sapatilha preta.

Desço com Annie e percebo que não sei onde é a cozinha, mas para minha sorte encontro com Clea, com muita insistência peço para que ela me leve a cozinha, no caminho vou conversando com ela e descubro que ela é governanta da casa, pergunto se ela conheceu meus pais e ela conta que foi ela que ensinou minha mãe a me banhar. Me sinto desconfortável com essa situação, mas não vai adiantar eu me revoltar com o mundo ou sair choramingando pelos cantos, agora tenho que ser forte e encontrar um novo caminho para que eu possa recomeçar.

Tomamos café e resolvo passear no enorme jardim do castelo com Annie, durante o café tentei fazê-la falar mais, mas não ganhei nada mais do que um sim quando ofereci morangos ou um não quando ofereci geleia. Passamos a manhã toda brincando, estar com ela me faz ficar mais tranquila, é incrível como em tão pouco tempo conseguimos nos apegar a alguém.

- Princesa Ayla, o almoço está servido. – tenho uma sensação estranha ao ouvir esse princesa na frente do meu nome, não sei se conseguirei me acostumar com isso.

Harrison ou melhor dizendo, meu avô, já estava sentado na mesa resolvo falar com ele.

-Após o almoço podemos conversar? - ele afirma que sim com a cabeça e assim começamos a comer.

Assim que terminamos o almoço tenho uma longa conversa com Annie que eu preciso conversar com meu avô e que ela precisava ficar com Naska, foi difícil, mas consegui. Em seguida fui para o escritório de Harrison, não sei como um senhor daquela idade ainda consegue comandar o reino. Ao chegar em seu escritório ele aponta para cadeira em sua frente indicando para que eu me sente ali. Durante um tempo fico o observando, sua pele retinta tão lisa que chega a reluzir, seus olhos parecem jabuticabas de tão negro e carregam um grande fardo, me faz querer saber os caminhos que ele já trilhou em sua vida. Assim termino meu devaneio e resolvo tirar essa história a limpo.

-Durante essa noite eu fiquei pensando em nossa situação, quero me integrar a família, mas pra isso eu preciso conhecer a nossa história e principalmente conhecer tudo que envolve o ataque que matou minha mãe.

-É minha filha, temos muito o que conversar.

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