EPISÓDIO #02

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O discurso de Trina ressoava em sua mente. Após lavar a louça, Virgil foi para seu quarto e mandou mensagem para Richie contando sobre o que a policial havia falado. Pela primeira vez, ele realmente se pegou pensando nas consequências do que estava fazendo. Após conversarem alguns minutos, o amigo respondeu:

Richie: "cara, eu te apoio na decisão que você tomar. Bancando o herói ou não, eu vou continuar sendo seu amigo".

Uma mensagem assim era a melhor coisa que poderia ler, mas não tornava a decisão mais fácil. Virgil encarou as paredes de seu quarto decorada com pôsteres e pôsteres de John Stewart como Lanterna Verde. Era seu herói preferido desde sempre. Era uma inspiração de várias maneiras diferentes.

Quando leu sobre a vida do homem por trás do uniforme verde e preto, ele sentiu vontade de ser alguém melhor. Ele viu alguém em quem pudesse se projetar de uma maneira muito forte. Virgil estudou sobre as marchas que John organizava em Detroit em prol da comunidade negra e em como sempre se posicionou sobre isso durante toda sua vida.

Isso gerou interesse para que Virgil conhecesse melhor a história de seu próprio povo e tivesse orgulho de sua cultura. Saber sobre toda opressão e injustiça contra os negros também gerou revolta. É impossível olhar o presente da mesma forma quando se conhece o passado. Entretanto, ele nunca foi combativo como a irmã. Simplesmente não era da personalidade dele. Sempre evitou o confronto. Virgil não sabia definir se isso era covardia ou sensatez.

Mergulhado em questionamentos e autoanálise, ele afundou em sono profundo.

A irmã gritando foi seu despertador.

-- Anda, Virgil! Senão eu vou embora sem você! Não quero chegar atrasada.

Primeiro, ele ficou irritado com a irmã. Depois ele percebeu que era ele quem estava errado. Realmente, se ele não se aprontasse em cinco minutos, se atrasaria pro colégio. Roupas foram jogadas, outras foram vestidas e após uma visita rápida ao banheiro, o jovem correu para a garagem.

A irmã já estava dentro do carro e tinha virado a chave. Ela estava de cara fechada. Virgil deu a volta, entrou pelo carona e pôs o cinto. Sharon começou o percurso até o colégio.

-- Dá próxima vez te deixo pra trás.

-- Eu sei! Só não me deixou pra trás hoje porque me quer do seu lado quando o pai vier brigar contigo hoje.

-- Eu sei me defender sozinha, não preciso de homem nenhum pra isso.

-- Eu te conheço, Sharon. Você tá se sentindo culpada por ter magoado o pai, mas não quer dar o braço a torcer porque acha que está com a razão.

-- Eu não acho que estou com a razão, eu estou com a razão. Não me arrependo de nada que disse pra aquela mulher.

-- Aquela mulher é a pessoa que mais faz o papai feliz hoje em dia. Ela gosta dele de verdade. E da gente também.

Sharon parou o carro no meio da rua e puxou o freio de mão.

-- Então pede pra ela te levar pro colégio então!

-- Ai, que saco! Você é insuportável!

-- Sai do meu carro!

Virgil tirou o cinto e abriu a porta.

-- Fecha essa porta, tá maluco! -- ela ordena.

-- Agora você quer que eu fique?

-- Se você for embora eu não vou ter com quem reclamar.

-- Então é pra isso que eu sirvo?

-- Quer ir mesmo andando pro colégio?

Virgil pôs o cinto novamente.

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