Tiros cantavam do lado de fora da casa. Minutos atrás, os quatro estavam sentados na sala assistindo "Um Maluco no Pedaço". Agora estavam pedindo proteção divina para que a briga de gangue ocorrendo no bairro parasse. Virgil só queria assistir um pouco de tevê, brincar com seus bonecos e ir dormir. A mãe abraçava ele e a irmã ao mesmo tempo, repetindo que tudo ia ficar bem. Virgil se questionou se era pedir demais viver em um lugar onde o medo de morrer não fosse sentido todo dia.
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Ele encarava seu pai, pensando em mil maneiras de fazer algo que pudesse reconfortá-lo. Robert permanecia com a atenção fixa no caixão sendo enterrado. A irmã ao lado dele não se permitia chorar. Substituiu suas emoções por apatia. Não queria se demonstrar fraca na frente de ninguém. Virgil também não sabia o que sentir, nem como sentir. Só queria que aquilo passasse. Que não precisassem estar ali. Que essa angústia fosse embora. Que a mãe ainda estivesse viva.
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Os garotos do colégio o humilharam. O corpo de Virgil era franzino enquanto os meninos mais velhos já exibiam músculos. Eles achavam graça em incomodar crianças menores. Se você chorasse eles te zoavam, se você ficasse com raiva eles te zoavam, se você brigasse com eles, eles te davam uma surra. Se tentasse ignorá-los, eles te batiam até fazer você chorar, ficar com raiva ou querer revidar.
Ele segurou as lágrimas no caminho todo no ônibus esperando para poder contar tudo ao pai e receber um abraço em troca. No entanto, quando chegou em casa, o pai e a irmã estavam em mais de suas intermináveis discussões. Nenhum dos dois tinha tempo para ele. Virgil não contou para ninguém o que houve no colégio. Apenas foi para o seu quarto e chorou até dormir.
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Ele foi acordado com cantos de parabéns. Sharon e Robert faziam um dueto alegre que preenchia o quarto. Virgil se ajeitou na cama sorrindo. Sharon o entregou um cupcake. Robert o presenteou com um boneco falsificado do Lanterna Verde. Eles estavam duros de grana naquele ano. Não haveria festa, nem bolo. O pai deixou os filhos matarem aula e eles passariam o dia inteiro apenas assistindo tevê. Aquele foi um dos aniversário que Virgil mais amou na vida.
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Virgil mexia em seu armário na Ernest Hemingway High School quando o garoto do armário ao lado viu um adesivo do Lanterna colado na parte de dentro da porta do seu.
-- Gosta do John? Sempre achei maneiro ser um Lanterna Verde.
Virgil estranhou a pergunta. Normalmente quando sabiam que ele gostava da Liga o tratavam com deboche, mas dessa vez foi diferente. O garoto estava interessado em conversar sobre isso e não o menosprezando.
-- É o meu preferido. Você também é fã da Liga?
Para responder, o garoto abriu o armário dele e Virgil notou que todo o interior estava decorado com adesivos do Flash.
-- Isso responde a sua pergunta? -- respondeu Richie.
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Virgil estava no metrô praticamente vazio. É madrugada. Ele estava ouvindo músicas em seu fone de ouvido. Havia passado o dia na casa de Richie fazendo um trabalho escolar que durou mais tempo do que eles esperavam, uma chuva torrencial também o fez ir para casa apenas tarde da noite. Era um horário perigoso para o percurso que tinha que fazer para ir para casa.
A notificação subiu em seu celular.
Pai: "já tá vindo?"
Virgil: "já, envio mensagem quando tiver chego na estação".
O celular tremeu e avisou que a bateria tava acabando. Virgil desligou o aplicativo de música pra economizar energia e diminui o brilho da tela. Quis polpar caso precisasse fazer uma ligação de emergência. Quando ia tirar os fones, ele ouviu uma conversa em tom de confidência atrás dele.
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Clash of Justice
FanfictionQuando Virgil Hawkins recebeu a proposta para entrar na Liga da Justiça, ele não poderia estar mais feliz de poder lutar ao lado dos heróis que admirou desde a infância. O que Virgil não esperava em sua jornada é que ele fosse perceber que seus heró...