XVIII. Tratado

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- Então você também foi enganado por ele?

- Precisamente. Entende agora por que eu quero saber a razão pelo qual o protege tanto, Az? No entanto, além de ele arrancar de mim meus sonhos e minha única família, aquela cobra também roubou a pessoa que eu mais amava... - o rapaz rosnou, contrariado - Bem, acho que acabei falando demais, não? Queria manter segredo disso, mas... 

- Ok, você vai começar a jogar baixo, agora?

- Pode achar que estou mentindo, não me importo mais... Sabe, as únicas vezes que eu te via era quando você estava acompanhada dele. E, para você, parecia que mais nada no mundo importava, o que me deixou mais amargurado ainda e com pena da sua situação, pois Seto só pensava em Kisara e você não fazia ideia.

Azeneth sabia, de alguma forma inexplicável, que Raizel não estava mentindo em nada disso. Até porque os sentimentos de suas lembranças eram vívidos demais em seus olhos, por mais que ele tentasse escondê-los.

- E você acha que, colocando um fim no Seto, seus problemas estarão permanentemente resolvidos?

- Exatamente.

- E qual é a função do Anel do Milênio nessa história?

- A princípio pensei em usar a alma do demônio aprisionado na relíquia para me fortalecer, mas essa coisa foi tão inútil quanto pensei que seria. Só estou com ele porque seria gentil demais da minha parte devolvê-lo assim. 

- Se eu conseguir dar um jeito de trazer apenas a alma do Alto Sacerdote, você vai deixar Seto Kaiba em paz?

- Talvez. Afinal, não tenho nada com a reencarnação, apenas com o sacerdote de fato. E como você planeja capturar apenas a alma dele?

- Eu tenho o Bastão do Milênio comigo. 

- Bom, parece que estamos conseguindo chegar a algum lugar, afinal. - Raizel abriu um sorriso - Estou feliz por estarmos negociando desse jeito, Azeneth. Se tudo terminar bem, te devolvo o Anel do Milênio e faço um juramento de sangue que deixarei o empresariozinho viver sem preocupações. 

- Tem a minha palavra.

- Espero não me desapontar.

Ele fez as correntes afrouxarem até que Azeneth estivesse livre da parede. Antes de deixá-la partir, o rapaz lhe deu um último aviso:

- A qualquer movimento suspeito seu não hesitarei em matar vocês dois, entendeu bem? E acredite em mim, você nem mesmo saberá  o que te atingiu. Ah, e o que aconteceu aqui será nosso segredinho, entendeu?

A jovem seguiu pelo único corredor até descobrir que estava presa no subterrâneo do museu. A claridade feriu seus olhos por ter ficado confinada em um lugar com pouca iluminação, mas continuou o caminho até o faraó. Enquanto caminhava, sentiu um calafrio e tal qual não foi sua surpresa ao ver Maga Negra abraçando-a.

- Onde se meteu, Azeneth? A gente já te procurou por todo o lado! Nem o Mago Negro conseguiu se conectar com você. - os olhos azuis da maga se arregalaram por um instante - E esses cortes? E essas marcas? Por Rá, precisamos encontrar os outros!

Assim que chegou à casa dos Muto, foi recebida da mesma forma de quando tentara cometer suicídio. Mago Negro não queria soltar a filha de jeito nenhum enquanto ouvia explicações da garota sobre o que tinha acontecido e onde estava.

- Eu não sei bem, pai. Estava em um lugar escuro e amarrada com correntes. Tinha uma pessoa comigo e queria que eu a ajudasse com seu plano, mas recusei e ele acabou me ferindo.

- Que tipo de plano, Azeneth?

- Eu não sei. Me recusei a ouvir e tentei vários feitiços para tentar escapar até que consegui.

- Sempre metida em confusão, não é? E aquele selo?

O mago olhou para a mão da jovem e viu que não havia mais nada. Estranhou, porém não disse mais nada em virtude o estado de Azeneth, que parecia cansada demais para qualquer coisa. Téa novamente cuidou dos ferimentos e a moça se retirou para dormir. Enquanto se afastava, Atem e seu fiel mago se entreolharam por um instante.

- Tem algo de errado na história dela, Mahad.

- Sei disso. Conheço Azeneth como a palma da minha mão e ela está escondendo muita coisa de nós. 


Herdeira da Magia NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora