XXI. Descanso Eterno

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- Eu acho que já está na hora de eu contratar um guarda-costas para me prevenir dos sustos que você me dá, garota.

- Como se a culpa fosse minha de você ser o alvo do perigo eminente, Seto Kaiba.

- Vocês e suas maluquices sobre o Antigo Egito... Bem, faça como quiser, só pare de aparecer de repente assim, principalmente nas minhas janelas.

- Sim, ó Majestade.

Kaiba revirou os olhos e continuou com seu trabalho, deixando Azeneth acomodada em uma das enormes janelas da sala da presidência enquanto o encarava, tentando encontrar algum sinal de que o sacerdote estava por ali. 

- Sei que sou bonito, mas não precisa ficar me encarando tanto.

- Arrogante é apelido para você, não é?

- Arrogância é questão de ponto de vista. 

- Se importa se eu deixar um amigo tomando conta de você?

- Depende do quanto ele vai ficar me encarando.

A jovem deixou o Guardião da Magia Negra em seu lugar para ir até o mesmo beco daquela noite. Com o cajado em mãos, não precisava de mais nada para dar andamento em seus planos para tentar não envolver aqueles que deveria proteger. Pegou um pedaço de carvão para desenhar um pentagrama no chão. Sentou-se no meio do desenho e começou a entoar o ritual que seu pai lhe ensinou para atrair alguma alma em especial para si.

Com os olhos fechados, ela sentiu um espírito adentrando seu corpo e se fazendo presente em sua mente. A energia da Magia Vermelha era o bastante para saber que atraira exatamente quem queria.

"O que deseja de mim, Azeneth? Você é bem corajosa por me deixar entrar em seu corpo assim... Eu poderia te matar, se eu quisesse. Aliás, meus parabéns por conseguir colocar uma marca em Raizel sem que ele percebesse".

"Sempre estive ciente dos riscos, Amon. Mas te chamei aqui para saber uma coisa: por que se recusa encontrar um descanso? Sabe, pelo pouco que pude saber e ver por meio de sua reencarnação, é evidente que tanto você quanto ele estão cansados de procurar vingança".

"É verdade, mas estou aqui nisso para vingar muito mais você do que minha família. Eu a vi neste mesmo lugar no meio da chuva enquanto se cortava até que o Alto Sacerdote apareceu e não posso deixar as coisas assim".

"Pode sim. Não quero ver nenhum de vocês sem encontrar a paz. Chega, Amon. Admito que sou cabeça dura e talvez eu nunca vou aprender a me desvencilhar do apego por aquele sacerdote, mas isso já não diz respeito a você".

Amon ficou em silêncio por um instante, digerindo lentamente o peso das palavras de Azeneth, que, por mais que estivesse de olhos fechados, sentiu a aproximação de uma pessoa e depois um peso familiar em seu pescoço.

- Não acho que dormir sentada assim seja bom para sua coluna.

Raizel estava ajoelhado à sua frente, terminando de arrumar o Anel do Milênio em seu devido lugar.

- Como me encontrou tão depressa?

- Amon sabe enviar coordenadas melhor do que ninguém, sabe? E, diferente do seu querido empresário, tenho forte conexão com meu eu do passado. E ele me disse para vir até aqui para devolver isso.

- Então isso significa que vocês aceitaram minha proposta?

- Com a condição de que você pare de olhar para mim como se eu fosse um psicopata.

O rapaz foi embora, deixando-a fazer o que deveria ser feito. No entanto, Azeneth não encaminharia apenas a alma de Amon para repousar, mas também a de certo alguém para que ele finalmente se reencontrasse com sua amada Kisara. Não teria tempo para se despedir, é claro, mas ao menos estava fazendo o que julgava certo. Ao sentir a presença de seu sacerdote próxima ao círculo, não conseguiu segurar uma lágrima por saber que não teria contato com ele novamente. 

- Espero que algum dia você possa me perdoar, Sacerdote Seto.

"Quem tem que me perdoar é você, Az".

Foi a última coisa que ela ouviu antes que ele desaparecesse para seu descanso eterno. O brilho do cajado desapareceu, indicando que tudo havia sido feito corretamente e com sucesso. Enquanto seguia de volta para a corporação, viu seu pai e Atem esperando por ela na esquina.

- Teimosa como sempre, não é?

- Esse era um problema meu. Não era justo deixar isso se prolongar.

- Estou orgulhoso de você, minha filha.

- Obrigada, pai.

- Acho que tem alguém mais adiante que quer falar com você. - Atem voltou a cabeça novamente na direção da garota - Vamos, Mago Negro.

Os dois partiram, deixando o caminho livre para Azeneth continuar até chegar aos arredores da Corporação Kaiba. Raizel estava esperando por ela.

- Senti Amon e mais alguém desaparecendo. Quem você libertou?

- O Sacerdote Seto.

- Não pensei que você faria isso.

- Era a melhor opção.

- Entendo... Bem, não temos mais qualquer desavença, certo?

- Acho que sim.

- Fico feliz assim. Só quero desavença com uma pessoa em especial daqui para frente.

A garota arqueou uma sobrancelha, expressando sua dúvida. Raizel apenas sorriu antes de se aproximar e lhe roubar um beijo, seguindo seu caminho como se nada tivesse acontecido.

- Não sabia que tinha namorado, Azeneth.

Ela deu um pulo ao ver Kaiba e Mokuba atrás dela.

- E não tenho. Ele me pegou desprevenida.

Seto não respondeu, apenas expressou contrariedade, fazendo com que a moça entendesse o que Raizel disse há pouco. 

- Não precisa se preocupar com o Seto, Az. Ele supera essa.

- O que está insinuando com isso, Mokuba?

- Está escrito na sua cara que você está morto de ciúmes, irmão.

- Besteira.

- Ora Seto, seja honesto consigo mesmo uma vez na vida.

- Se continuar com essa conversa te deixo trancado na empresa trabalhando até amanhã, entendeu?

- Ok, não está mais aqui quem falou...

Mokuba seguiu o irmão, que se afastou enquanto colocava uma mecha de cabelo de Azeneth atrás da orelha dela. Mesmo já um pouco mais distantes, ela ainda conseguiu ouvir a conversa deles.

- "Mas eu me mordo de ciúmes..."

- Cala a boca, Mokuba. - a voz irrtadiça de Seto Kaiba a fez sorrir.


Herdeira da Magia NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora