CAPÍTULO I.1

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     Belinda Hunt estava morta havia meses. Isto é, morta para tudo o que a rodeava, pois, tecnicamente, ainda vivia. O coração batia e os pulmões aspiravam e expiravam o ar e suas funções básicas se desenvolviam com normalidade. Porém, movia-se apenas quando as enfermeiras a mudavam de posição, a fim de evitar os perigosos efeitos colaterais da imobilidade. Mas Belinda não sabia de nada disso, deitada ali como se fosse a Bela Adormecida em seu castelo, as pálpebras cerradas sobre os olhos verdes. Os cabelos, haviam sido cortados rente à cabeça, estavam crescidos, as ondas sedosas intensificando-lhe a palidez do rosto.
    Achava-se internada na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital de Londres. As enfermeiras que trabalhavam ali costumavam conversar muito em sua presença, na esperança de que, um dia, as vozes pudessen penetrar no sono mortal em que ela se encontrava e estimular o seu retorno à vida. Belinda estava mergulhada, profundamente, no misterioso sono do coma.
    - Não se sente meio tola, conversando com alguém que nem sabe que você está aí?- a nova ajudante perguntou à enfermeira Hay, certa manhã.
   - Não sabemos se ela pode ouvir ou não!- Hay, uma  loura ativa e simpática, de vinte e poucos anos, respondeu- Mas continuamos tentando. É possível que o estímulo funcione, por isso, nunca se esqueça de ficar falando, sempre que estiver perto dela.
     A jovem enfermeira Lucas concordou, prontamente:
   - Certo, enfermeira-chefe! - Pequena e agitada, estava ansiosa por causar boa impressão, pois aquele era seu primeiro dia de trabalho.
     A enfermeira-chefe Hay a fitou, pensativa, e depois sorriu, baixando um pouco a voz:
    - Na verdade, Lucas, isso também nos ajuda a fazer nosso trabalho. Precisamos nos lembrar de que ela é um ser humano, e não apenas um corpo que viramos de um lado para o outro. Se você disser a si mesma que ela pode ouvi-la, que está somente adormecida, sua função se tornará mais fácil. -Inclinou-se na direção da paciente, sempre sorrindo: -Oi, Belinda, como está se sentindo hoje? Vamos lavá-la e, depois, pentear seus cabelos, pois daqui a pouco é hora de visitas! Vai querer estar bem arrumada, não é?
    - A família dela vem sempre aqui?- a jovem perguntou, ajudando Hay a virar a doente, para que pudessem lavar suas costas.
    - Bem, ela não tem familia aqui em Londres... - Hay respondeu, com um suspiro de pena. - O pai dela já morreu, e a mãe casou-se outra vez, e atualmente mora na Nova Zelândia. Esteve aqui na ocasião do acidente e, durante um mês, vinha visitar a filha todos os dias. Porém, com a demora dela em se recuperar, voltou para casa, pois tem filhos pequenos, do segundo casamento, e não podia deixá-los por tanto tempo.
    - Então Belinda não recebe visitas?
    - Ah, recebe, sim! Há um visitante que vem vê-la regularmente, pontual como um relógio, e alguns amigos, que aparecem de vez em quando. -Acabara de lavar o rosto de Belinda e começava a lhe escovar os cabelos cor de cobre, devagar e delicadamente.
      A enfermeira Lucas, que tinha apenas dezoito anos, ficou em silêncio por alguns instantes, pensando que a pobre moça era somente um pouco mais velha que ela própria.
     - Há quanto tempo ela está assim? -perguntou.
     - Oito meses.- A voz de Hay continha uma nota de tristeza.
     - Oito meses?! Puxa... Então se recobrar a consciência, provavelmente ficará com alguma sequela cerebral! - a jovem exclamou, chocada.
      - Não podemos afirmar nada -a outra respondeu, um tanto zangada.
      - Mas, talvez... - a garota começou, mas logo interrompeu-se, olhando a paciente.
     - Lucas, nunca comente o estado dos doentes na frente deles, mesmo se estiverem inconscientes - Hay recomendou.
     Porém, Lucas mal ouvia aquelas palavras e susurrou:
   - Enfermeira-chefe... Enfermeira! Os cílios dela se moveram!
   Hay parou de imediato o que estava fazendo, a escova de cabelo suspensa no ar, e observou Belinda com atenção, sem notar nada de diferente.
   - Deve ter sido um movimento automático... - falou, porém estacou com um choque, sentindo um arrepio pela espinha ao perceber que as pálpebras quase transparentes de Belinda tentavam se erguer.
   - Eu falei! Eu lhe disse que vi... - a enfermeira Lucas balbuciou, excitada.
    Ambas ficaram imóveis, enquanto Belinda abria os olhos enevoados. Não os focalizava em nada, apenas os mantinha abertos, como um bebê que começa a perceber o mundo a seu redor. Então, seus lábios pálidos se entreabriram, deixando escapar um suspiro leve, quase inaudível.
      A enfermeira-chefe se recompôs do susto e, sem desviar os olhos da paciente, deu ordens à ajudante, em voz baixa:
   - Vá avisar a assistente do dr. Courtney, ela está no escritório. Diga-lhe que chame o doutor, imediatamente. Vá, garota... Não fique aí sonhando!
      Relutante, a jovem se virou para sair. Aquele movimento assustou Belinda; de repente, ela pareceu dar-se conta de que havia outras pessoas no quarto, e gemeu baixinho, as pupilas dilatando-se enquanto olhava ao redor.
      A enfermeira Hay fez o possível para sorrir, aproximando-se dela:
      - Oi, Belinda -falou, suavemente - Não há nada com que se preocupar. Você está no hospital, pois sofreu um acidente, mas vai  ficar bem, agora. Está tudo bem...
        Belinda fitou aquele rosto estranho, sentindo uma certa familiaridade na voz, como se a tivesse conhecido num outro mundo, embora não pudesse se lembrar como. Estava intrigada, mas incapaz de pensar. A luz era forte demais, iluminando o quarto com uma claridade que lhe feria os olhos. As pálpebras começaram a se fechar novamente, mas a enfermeira tomou-lhe a mão ansiosa:
    - Por favor... não volte a dormir, Belinda. Fique acordada. Como se sente? Deseja alguma coisa? - a paciente moveu os lábios e ela sugeriu - Está com sede? Quer um pouco de água?
      Belinda mal compreendia a pergunta; franzia a testa, tentando pensar. O que havia acontecido?  Onde estava? Moveu a cabeça devagar, olhando a mulher ao seu lado num unifome  branco. Quem era ela?
      Como se lesse a pergunta em seu rosto, a moça respondeu:
      - Sou a enfermeira Hay. Tenho cuidado de você desde que chegou aqui; já somos velhas amigas, Belinda.
     Até ali, a doente não disse uma palavra, e não havia sequer sinal em sua face pálida que pudesse indicar se entendia o que estava sendo dito, ou se sabia onde se encontrava.
    A primeira exultação da enfermeira, ao vê-la abrir os olhos, dissolveu-se em ansiedade: o acidente teria causado algum dano cerebral? Havia se afeiçoado àquela paciente, embora soubesse muito bem que este era um erro grave. A primeira regra de uma enfermeira era, justamente, manter um comportamento profissional e distante em relação aos doentes, porém Hay a achava difícil de cumprir. Gostava das pessoas e, afinal, fora este o motivo principal para a escolha de sua profissão. Embora soubesse que alguns pacientes se recuperavam, depois de um período em coma, temia que Belinda pudesse fazer parte daquele grupo que jamais conseguia retornar à vida normal.
     Percebendo que ela movia os lábios, tornou-se a inclinar-se, ouvindo um murmúrio rouco e muito fraco:
     - Ricky... -Belinda falou- Onde está Ricky?

Agradeço você por ter se interessado por Belinda e sua história. Espero que esteja gostando, particularmente amo! Se tiver algum errinho ortográfico me desculpem, mas as vezes passa despercebido, mesmo revisando muitas vezes! Curtam e comentem o que estão achando.  Quem será Ricky? O que de fato aconteceu com Belinda?
Vejo vocês no próximo capítulo...

Com amor,
Cinthya.

Bianca: As Mais Belas Histórias De AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora